ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

- ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? - NÃO, SE PÁRAS, ESTÁS PERDIDO! Goethe



sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Prenda de Fim de Ano!

Aproveito para desejar aos amigos um início de ano auspicioso!

Deixo-os com a deliciosa revista Alice, para que desfrutem!


F

Sugiro o fantástico livro de António Jorge Gonçalves!




 E a original fotobiografia de Feltrinelli por pedro piedade marques!

Para lerem e se quiserem descarregar em PDF!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Prenda de Natal



Pode ir aqui ler a tradução da Christmas Song, a um blog que vale a pena visitar!

Jethro Tull é um dos grupos da era dourada do Rock de que mais gostei - pelo líder ser um flautista, por se estender pelo Folk, Jazz, por ser sempre pouco alinhado pelo gosto da moda e pela irreverência!

Razão e Ordem versus Irracionalidade e Tirania?





Acabo de ler "O Deus das Moscas", obra que não me encantou pelo seu valor "literário", mas que me entusiasmou por no seu aparente estilo de aventura juvenil, forçar uma salutar e profunda reflexão sobre questões pedagógicas, sociais e éticas. Trata-se de um livro-tese, descaradamente maniqueísta, de resto como toda a literatura, pois a objectividade é sempre a que é permitida pela perspectiva de quem escreve. 

E que pontos William Golding pretende fazer valer:
1 - A vida em sociedade implica um conjunto de regras e o seu respeito.
2 - A estrutura social implica uma liderança (natural ou imposta) e uma hierarquia.
3 - O poder tende a ser disputado balanceando a escolha entre a força da razão (a democracia, o primado da política) e a razão da força (a ditadura, o primado do autoritarismo).
4- Em situações de crise, o domínio é favorável a quem garantir a satisfação das necessidades básicas e imediatas, mesmo que a autoridade e a ordem se assegurem pela tirania e violência!
5 - A sustentação duma ditadura, assenta na exploração de uma ameaça ao grupo (aqui, "a fera", mesmo que inexistente, é pressentida como real e convoca todos os medos!).
6 - As ritualizações grupais encantatórias ( aqui a "dança da caçada") permitem submergir o discernimento individual, levando o grupo a comportamentos "incontroláveis", que seriam impensáveis num contexto de livre arbítrio.
7- A consolidação do poder despótico beneficia da culpa colectiva sublimada (a morte de Simão) e da diabolização do "outro" (os exteriores à comunidade).

Uma sociedade civilizada implica a subordinação das suas estruturas "instrumentais" (exército, finanças, diplomacia) a uma liderança baseada no interesse colectivo e bom senso (o que deveria ser a política!).
Quando se perde essa força aglutinadora e condutora, o risco de barbárie é real!
A razão pode pouco contra a força de uma massa alienada e euforizada!

Há na personagem de Rafael uma incredulidade sobre o pulsar destrutivo do grupo ( "Não. Não são tão maus como isso. Foi um desastre.") e um sentido de responsabilidade, que se lhe impõe como um imperativo ético e uma evidência ( "A fogueira é a coisa mais importante. Sem a fogueira não nos poderemos salvar. Eu também gostaria de me pintar como um guerreiro e brincar aos selvagens. Mas é necessário manter a fogueira acesa. A fogueira é a coisa mais importante na ilha"), que o impedem de se conformar com o delírio colectivo.

 Essa maldição também eu a sinto desde a sua idade e é ela que não me permite, hoje, viver despreocupado como a maioria dos meus concidadãos, que ainda agora correram aos stands de automóveis a apropriarem-se de um, antes que o país feche!

(Como terá vivido Rafael quando voltou à sua vida "normal"?
Depois da perda da sua "inocência original" nunca mais o Mundo voltou a poder ser visto pelas lentes da fantasia e do optimismo?)

Mesmo um "pessimista" como Golding não exclui a possibilidade de um milagre no último minuto - seria  também essa a minha esperança, caso a nossa vida colectiva fosse o argumento de um autor benevolente!

 Pode ser que Deus exista!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Um país à beira da ingovernabilidade!

Rebelião violenta contra o Estado!
Notícia aqui!
Convém esclarecer que os 75 centimos - classe1, são por 4 kms de viagem!
O sistema de portagens introduzido, é demencial e socialmente inaceitável!
O pórtico seguinte, em Esposende, custa 1.15 € por um trajeto de 9 kms!

As trapalhadas dão nisto!
Políticos impreparados, insolentes e incapazes!
Continuam a fazer tudo mal, como de resto aconteceu até aqui!

TRATA-SE APENAS DO ANÚNCIO DO QUE AÍ VIRÁ!
Um apelo: Pela pouco dignidade que vos sobra, saiam de cena, por favor, antes do país ser irrecuperável!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Salman, filho da Meia Noite!

padma-lakshmi-et-salman-rushdie.jpg

Personagem polémico, exibicionista, sexualmente obsessivo, religiosamente traumatizado, Salman Rushdie, tem em Os Filhos da Meia Noite uma obra à sua altura, em que parece ter querido despejar exaustivamente a sua visão do mundo.
Seu segundo livro, publicado em 1981, numa altura em que ainda não se dedicava exclusivamente à literatura, continua quase unanimemente a ser considerado o seu melhor livro!

A história na realidade é a da Independência do Industão, entrelaçada numa saga familiar, que se inicia em Caxemira com o avô da personagem central - Saleem Sinai e é narrada num registo que se pretende próximo da oralidade desorganizada (mas muito trabalhada), à sua futura mulher, cuidadora, salvadora, Padma, aliás a Deusa da Bosta.
Saleem terá muito de Salman - ambos nasceram em 1947, ano da Independência da Índia e Paquistão, oriundos de famílias Caxemires, passaram a infância em Bombaim, viram as respetivas famílias migrar para o Paquistão em 1964.
E além disso há a aparência física - Saleem, o Muco na Penca, o Sorve Ranho, o Cara de Mapa, o Pedaço de Lua, também Buda, o cão pisteiro, partilha com o autor um nariz proeminente, uma tonsura capilar precoce, umas pálpebras que não fecham e outras particularidades que não podem ser desvalorizadas ("cresci com as pernas irremediavelmente tortas, porque me pus de pé cedo de mais" (..) com "um ano, duas semanas e um dia" -  idade afinal normal para qualquer criança andar!?.)
E a futura mulher, que pacientemente escuta a sua febril narração, será afinal a Padma Lakshmi, sua quarta mulher desposada em 2004 (foto), de origem indiana e apresentadora dum reality show americano ("Top Chef")?

O ritmo da escrita é alucinante, com permanentes histórias laterais, apartes, devaneios. O estilo é feérico, excessivo, caleidescópico, diria mesmo ruminante, com a história a ser sucessivamente regurgitada e mastigada, sendo nisso fielmente indiano, país dos excessos - de cor, de desgraça, de cheiros, de imaginação.
Nenhum país incorpora tantas religiões e um panteão tão povoado e improvável. Deuses que têm mil representações, shivas de inúmeros membros e divindades de cabeça de elefante.
Saleem Sinai tem um filho, no preciso momento em que era declarado o estado de sítio e suspensa a democracia pela Viúva - Indira Gandhi (25 de Julho de 1972).   Filho que afinal não era seu, mas era neto dos seus pais e tinha orelhas de elefante - tal como Ganesh, com quem tinha em comum ser filho de um Shiva e de uma Pavarti.

Um país de imaginário ancestralmente pop e que continua a gerar gurus que atraem ciclicamente vedetas ocidentais (como um dos filhos do livro, Cirus transmutado em Khusro, que era "visitado por guitarristas americanos, que se sentavam aos seus pés e nenhum se tinha esquecido do livro de cheques"). Sendo uma narrativa comentada da Índia, o leitor que não for um bom conhecedor da sua história perde muitas das ironias, referências, interpretações (houve mesmo um primeiro ministro que bebia a sua urina? Os lideres comunistas retratados são reais ou delirados? a resolução da crise do Paquistão Oriental/Bangladesh, fez-se com festejos?).
Perpassa em todo o livro uma muito salutar capacidade de gozar consigo próprio e com o seu país ( "cada indiano tem uma versão da Índia! ).

Este livro tem demasiadas coisas lá dentro, muito excesso e muitas preciosidades!
Como todos os grandes livros é atual e aplica-se-nos - " No dia em que ao mesmo tempo, subiram os impostos e baixaram as isenções! É como quem vai à retrete - camisa para cima e calças para baixo! Este governo trata-nos como a uma retrete!" Aliás há mais referências a Portugal - uma Carmen Verandah de chapéu de frutas que não poderá ser outra que a nossa, do Marco, Carmen Miranda! - a inevitável Catarina de Bragança, que em 1660 levou de dote para Carlos II de Inglaterra, nada menos que Bombaim ( que derivará do português Bom Bahia )!
Das incontáveis histórias dentro da narrativa, retenho a do Fórum Radiofónico dos 581 garotos filhos da meia noite, que ocorre telepaticamente promovida pelos dons mediúnicos de Saleem na e que é uma antevisão profética e poética do Face Book.

Sendo necessário um ritmo de leitura pujante, para não nos atolarmos nas permanentes manobras de diversão, lê-se este delírio de uma personagem paranóica que interpreta o percurso histórico da Índia como decorrente da sua história pessoal, como se a História acontecesse toda em sua função, com o objetivo último de o tramar a si e aos 1001 filhos dessa meia noite de 15 de Agosto de 1947, em que a Índia se tornou um Estado Independente.

Estabelecendo uma conexão com um livro aqui comentado recentemente (A tia Júlia e o Escrevedor), este parece um fenomenal folhetim de Pedro Camacho, cujo sucesso tão apoteótico terá seguramente muito a ver com a importância social, económica e cultural da comunidade hindu no mundo anglosaxónico e com o tom de refinada auto-ironia, que preveniu a rejeição dos antigos colonos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Deus das Moscas

William Golding foi Nobel da Literatura em 1983
"William Golding (1911-1993), um dos maiores escritores do século, ganhou o prémio Nobel em 1983 e este é um dos seus grandes livros, duas vezes adaptado ao cinema. Nesta obra Golding conta a história de um grupo de crianças de um colégio inglês que naufraga, dando à costa numa ilha deserta. Contra este pano de fundo mais ou menos idílico, a lembrar obras como "Dois Anos de Férias" de Júlio Verne, Golding vai conduzindo o leitor pelo verdadeiro tema da obra: a maldade e a estupidez humana, a selvajaria brutal que tudo subjuga ao prazer imediato. Quando foi publicado, em 1954, o mundo ocidental acabava de sair dos horrores da segunda guerra mundial; mas hoje a obra continua infelizmente actual porque a estupidez humana é uma das constantes que ao que parece veio infelizmente para ficar.
Do ponto de vista formal, estamos perante uma escrita depurada que parece esconder na sua impassível objectividade narrativa um grito surdo que passa a habitar-nos para sempre. Se há romance contagiante, é este. A sensatez do herói do romance, que procura convencer os seus companheiros a não se deixarem iludir pelos apelos constantes à brutal selvajaria é quase dolorosa. Estamos perante um grande livro, que merece ser lido e discutido e do qual é imperativo extrair uma lição.
Gostava de destacar um aspecto crucial. Na sua tentativa de convencer os seus companheiros a agir de forma sensata e racional, o protagonista vê-se obrigado a instituir rituais — menosprezados e espezinhados por todos. E este é um aspecto que parece captar uma característica importante da natureza humana e que muitas vezes não é suficientemente tida em conta — nomeadamente em discussões relacionadas com a filosofia da religião. Os seres humanos precisam de rituais, de símbolos, de histórias para conseguirem ser sensatos; precisam da iconografia, do gesto ritual, do preceito religioso; e precisam, sobretudo de dramatizar o bem e o mal morais. Essa dramatização culmina, claro, com a invenção dos deuses das várias religiões, guardiães dramáticos da acção moralmente correcta.
Termino com uma nota de cautela. Este livro não é para espíritos fracos. O seu desenlace trágico, pinta em tons fortes os abismos morais a que a miséria humana pode conduzir. Mas, como grande escritor que é, Golding faz mais do que impressionar o nosso sentido moral: impressiona o nosso sentido estético com um poder tal que o convívio diário com esta obra nos marca para sempre. "
Desidério Murcho

"Comecei a desconfiar de Rousseau quando li O Deus das Moscas. De súbito, a questão impôs-se: “Será mesmo o Homem naturalmente bom?”.
“O Deus das Moscas” foi, ao que parece, uma resposta de William Golding ao livro “A Ilha de Coral” escrito por Ballantyne, onde três rapazes britânicos, Jack, Ralph e Peterkin encontram-se numa ilha e, ao contrário do que acontece em “O Deus das Moscas”, conseguem, de forma heróica, ultrapassar todos os problemas que vão surgindo. William Golding oferece-nos a versão alternativa, descrente da bondade entre os seres humanos.

Deixo ficar uma série de notas, colhidas aqui e ali, sobre o próximo livro do Clube de Leitura (que tem uma versão virtual e outra real!), para entusiasmar os disponíveis!

Boa leitura!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Recado para o Wikileaks - há certas coisas que é bom manterem-se num círculo restrito!



Joana foi ao Hospital fazer umas análises e como teve uma fraqueza depois da colheita do sangue, foi ao bar do pessoal tomar o pequeno almoço!
O corredor está cheio de cartazes de reuniões, congressos, apelos, informações!
Joana sentiu-se bem, no meio daquela azáfama de batas, socas e estetoscópios. Tinha sonhado ser enfermeira, na altura bastava o 5º ano, mas o pai tinha achado pouco próprio - "No meu tempo, nem podiam casar, não é vida digna para uma mulher!". Mas isso já lá vai. Também sou feliz assim, pensou, mas aquele ambiente aqueceu-lhe o coração, quiçá os ossos, deixou-se estar sem pressas a beber a meia de leite, de facto andam meios despidos e as conversas meu deus, são um bocadinho desregradas! Alguém tem de fazer isso, é verdade, pôr algálias, lavar as partes, sei lá os clisteres ...
A vida de costureira, só tinha de mal ser solitária e não ter rendimento garantido! Aqui há quem fique à mesa a manhã toda, pensou. Toca a andar que aqui não vou ganhar o dia.
Na saída, sem pressas, detem-se num cartaz dum encontro sobre "Cancro do recto baixo", interessou-lhe, pois fora disso que morrera a sua mãe. Coitadinha, uma agonia: tiveram que lhe abrir um buraco na barriga, por onde saíam as fezes! Nessa altura, fora enfermeira - mas porque era a mãezinha, não era capaz de fazer o mesmo por um desconhecido!
Ora deixa ver: subtitulado lia-se:
- Risco familiar
- Prevenção
- Poupar o esfincter ... e a função!

Joana teve como que um arrepio pela coluna, de cima para baixo entenda-se, uma fraqueza nas pernas!
Decorou aquela mensagem, para comprensão futura, não estava a atingir o seu significado pleno, mas não teve dúvidas que aquilo lhe interessava!

À noite João lia o Record e respondeu meio mecânicamente, "sim parece que na altura o médico disse que os familiares também podiam ter a doença! Pergunta ao teu irmão que estava comigo quando o médico passou a certidão".

João não estranhou quando três dias depois a mulher lhe recusou um alívio sexual, as mulheres não sentem tanto estas necessidades, lá me vou habituando, puta de vida - nem por trás?, não faças essa cara que parece que te bati!

Duas semanas mais tarde, Joana dava entrada no serviço de Urgência, com vómitos, sendo-lhe diagnostica oclusão intestinal. Dada a história familiar a primeira hipótese diagnóstica foi de carcinoma colo-rectal, mas alguns exames mais tarde, conclui-se que afinal tudo decorria dum meticuloso programa de prevenção que Joana tinha gisado - não alcançara, que poupar os esfincteres era um tópico para os planos cirúrgicos de tratamento da doença e não uma recomendação para os doentes.
Mesmo depois de tudo esclarecido, nunca mais Joana voltou a ter aquele prazer que sentia, quando esvaziava a tripa!

Moral da história - os bares do pessoal hospitalar, não são para os doentes!
Ou dito de outra forma - certas informações, mal interpretadas, podem dar cagada!

O meu primeiro filme!



Nas minhas férias de Natal de 1969 (ou seria 1970?), tive a minha primeira experiência verdadeiramente cinematográfica - a ida a uma sala de cinema, o Terço no Porto, com bilhete pago, mas sem direito a pipocas que não se usavam na época, assistir a um musical que tinha ganho o Óscar de melhor filme (1968).

"Oliver" era uma adaptação do livro de Charles Dickens, produzido e realizado em Inglaterra por Carol Reed.
Oliver Twist é um órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, sofre a crueldade da sua família e acaba fugindo para Londres. Lá, ele é recolhido das ruas por Artful Dodger, um ladrão que o leva até Fagin, um velho que comanda um exército de prostitutas e pequenos marginais. Quando Oliver conhece um bondoso homem em quem finalmente enxerga um possível pai, Fagin não vai permitir que o garoto denuncie o seu esquema, e ainda aproveita para planear um assalto a casa do rico Sr. Brownlow, o pai desejado por Oliver.

Foi na companhia duns 15 primos, sob o patrocínio de um tio sem filhos e dado à cultura que fomos ao cinema. Recordo deste dia, detalhes que não lembro de momentos que supunha mais importantes na minha vida. Vivemos as desventuras e injustiças sofridas pelo pequeno Oliver, como se de nós se tratasse. As "reflexões" sobre o filme prolongaram-se até ao início das aulas. Sendo o cinema uma das fontes de prazer e cultura da minha vida, dá para perceber a importância deste momento.

Quão diferente e mais densa é hoje a vida duma criança.
Daqui a 40 anos saberão os meus filhos recordar o primeiro filme que viram?
Não, quanto mais não seja, porque não houve "esse" momento! Aos 10 anos já têm uma filmografia quase igual à minha, o que também quer dizer que o cinema já não terá para eles o mesmo efeito mágico que teve para mim.
Talvez reservem a memória para coisas mais importantes: os primeiros amigos, a primeira namorada, os primeiros desgostos ...

Roman Polansky em 2005, antes de cair em desgraça, retomou a história de Dickens - na primeira oportunidade, tenho filme para ver com os meus filhos!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tapetes (3) - Kilim

Pecos Kilim southwestern rugs kilim rugs woven carpet rugs

Nos tapetes ditos orientais ou também chamados de persas, o Kilim constitui um grupo à parte, sendo mais um tecido que uma tapeçaria.
Na confeção de um tapete utiliza-se uma urdidura, um conjunto de fios verticais, fixos, que muitas vezes aparecem nas extremidades longitudinais dos mesmos, quando terminados.
Sobre essa urdidura são feitos nós, que podem ser simétricos (nó turco) ou assimétricos (nó persa). Entre cada fiada de nós é passado um fio horizontal - a trama, entrelaçada na urdidura, cuja função é fixar os nós no seu lugar e que vai sendo sucessivamente acrescentada à medida que se vai completando cada fieira de nós.

Ora os Kilims diferenciam-se de todos os outros tapetes por não terem nós, sendo apenas compostos pela urdidura e pela trama, que é responsável pelo desenho do tapete. De certa forma é como se de um bordado se tratasse, pela passagem de segmentos de fio, pela urdidura.
Por esta razão têm uma superfície lisa, são maleáveis, dobráveis, fácilmente transportáveis. Sendo um produto característicamente de origem tribal, que só recentemente passaram a ser comercializados, eram utilizados na confeção das tendas, dos sacos, utilizados como colchas, toalhas ou almofadas. Para além do aspeto decorativo, realçado pelas suas cores vivas e desenhos geométricos profusos, funcionavam como fator de coesão grupal, particularmente importante nos grupos nómadas sem identidade territorial.
Originários da Anatólia, a sua distribuição estende-se dos Balcãs ao Paquistão.
Os desenhos tradicionais, são identitários das tribos donde provêm, sendo dessa forma possível determinar a sua origem, já que cada artesão embora produzindo peças sempre únicas, não fugia ao padrão ancestral do seu grupo.
Foram encontrados no sítio arqueológico de Dorak (perto de Bursa, na Anatólia), vestígios de fios de lã coloridos em disposições geométricas nos solo, que foram atribuídos a Kilims, datados de 2500 a.C..
Com a sua comercialização intensiva a partir dos anos 80, já que os seus motivos se adaptavam bem à decoração ocidental e a sua técnica de confeção permite preços mais acessíveis que os "verdadeiros" persas, surgiram muitos padrões modernos e alargou-se a sua proveniência geográfica.
Embora continue a ser a Turquia a sua principal pátria, os Kilims de origem magrebina, moldava, afegã, paquistanesa, indiana, estão bastante difundidos.
É muito provável que mesmo que não tenha um tapete destes lá em casa, tenha uma almofada, uma carteira ou uma mochila, com aplicações Kilim.

O primado da política!



A política pode ser uma arte!
Saber conduzir as massas, com um objetivo em mente, saber contornar os obstáculos!
Infelizmente tem sido e promete continuar a ser, um patamar curricular de ambiciosos sem profissão, a ganhar balanço para um posto num conselho de administração ou numa prateleira dourada!

Ontem, Mário Soares e Freitas de Amaral, foram entrevistados pela Constança Cunha e Sá (uma mulher sem idade!).

Reforcei a convicção que Portugal perdeu uma grande oportunidade ao ter rejeitado Mário Soares para Presidente da República! O argumento da idade, tão acenado na campanha veio a revelar-se falso - continua muito mais lúcido, do que alguma vez Cavaco terá sido na vida.
Um povo inculto deu-lhe um resultado desprezível, como continuará a fazer a quem se candidatar sem promessas de vendedor de banha de cobra!

M.S. poderá estar errado em muito do que pensa e diz, mas tem um instinto que impressiona.
Com ele, Portugal não estaria acossado a cumprir diretivas de economistas tecnocratas, tolhido às mãos de medíocres, que só anseiam cumprir a voz do dono, na esperança de mais tarde serem recompensados com um posto alcatifado num gabinete de uma Europa decadente.
Pelo menos reagiríamos, "impunhamo-nos ao respeito" - pior do que perdermos os bens é estarmos a perder a dignidade!
A sua magistratura presidencial, não seria de recadinhos, de tabus, de silêncios!
Haveria algumas gaffes, inconveniências, mas estaríamos mais desencalhados, a lançar reptos na cena europeia, a mobilizar descontentamentos, a unir esforços com parceiros de infortúnio!

Pobre país que na possibilidade de um líder, prefere escolher entre patetas e poetas!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

BISMUTO, CHENOPÓDIO! HABITUEM-SE ...



São hoje em dia frequentes os artigos científicos a alertar para o uso excessivo de antibióticos, problema particularmente grave em Portugal, de que resulta uma crescente resistência bacteriana aos tratamentos e um aumento incomportável dos custos com a saúde. Múltiplos trabalhos recentes parecem sugerir que certas patologias como as otites, sinusites, faringites, poderão ter evolução clínica idêntica, nas situações em que não se recorre ao antibiótico, como agente terapêutico inicial.
Depois de uma semana em cuidados domiciliários a filhos com amigdalites, prestei atenção aos comentários da minha mãe: que eu em pequeno também era muito achacado às faringites e amigdalites e que a coisa se resolvia com supositórios de bismuto e pinceladelas da garganta com azul de metileno. Só mais tarde, pré adolescente, é que se começou a recorrer a umas injeções de penicilina, de quando em vez.
Fui então pesquisar o assunto!

O bismuto é um metal pesado, com o nº atómico 83 na Tabela Periódica, tendo a particularidade de ser praticamente não tóxico. Continua a ser usado em Medicina sob a forma de salicilato, no tratamento das diarreias, desconforto gástrico, pirose e úlcera péptica, isolado ou em associação medicamentosa.
Sob a forma de sal ou gluconato continua a ser utilizado na medicina alopática ou natural, nas afeções do foro otorrinológico (otites, sinusites, faringites ).
O azul de metileno, que dado o seu elevado potencial redutor ainda é usado para reverter as situações de metemoglobinemia, tem um efeito inibidor da vasodilatação nas situações de inflamação, pelo que se compreende a sua ação regeneradora sobre umas amígdalas hiperemiadas e dilatadas.
A penicilina, descoberta acidentalmente em 1928 por Fleming, só passou a ter utilização clínica nos anos 40, tendo produção industrial a partir de 1943. No início distribuída internacionalmente pela Cruz Vermelha, só em 1945 foi decidido que a sua comercialização em Portugal se faria nas farmácias. Nestes tempos pioneiros, conta-me a minha mãe, que quando se tinha um doente a ser tratado com o antibiótico, tinha que se deslocar diariamente ao Porto à CVP para obter o fármaco, que era transportado em embalagem com gelo e obrigava a pernoitar em casa do doente, pois a administração era prescrita de 3 em 3 horas!
Só na IV Farmacopeia Portuguesa de 1961 é que aparece referida a Penicilina, embora houvesse utilização anterior! Mas nos anos 50 e 60, ainda não se usava corriqueiramente este medicamento - amigdalites tratavam-se com supositórios de Bismucilina e zaragatoas de azul de metileno ou de Anginol (um composto iodado).
Neto de farmacêutico e com infantário feito na Botica, quis saber que mais tomava eu em pequeno: - óleo de ricino com essência de chenopódio e hortelã de pimenta, era o que toda a criançada tomava regularmente para "as bichas".
Nova pesquisa e lá encontro nas medicinas naturais o extrato de chenopódio, planta abundante na Natureza, com importante efeito anti-helmíntico!

A Botica que eu frequentei em pequeno, era mais das medicinas naturais, que uma distribuidora da Industria Química.
Para além dos curativos, suturas, drenagem de abcessos (pelos vistos os mamários eram muito frequentes no puerpério e eram drenados após três dias de compressas com óleo de linhaça), também se curavam fraturas, com talas artesanais e sem Rx.
Os casos mais difíceis tinham a colaboração dos clínicos da região, que utilizavam as instalações da Farmácia para executarem as ações mais arriscadas.

O tempo trouxe progressos, mas também desprezo por muitos procedimentos ancestrais, que o deslumbramento pelo progresso da química e da indústria acelerou.
Algumas destas práticas persistem e têm sucesso alojadas na Medicina Alopática, mas o que se me afigura mais importante seria recuperarmos a capacidade de refletir e atuar com sabedoria, que um tempo mais lento e com menos pressão comercial, permitia.
Muitas patologias - a obesidade, a hipercolesterolemia, a hipertensão, a diabetes, a depressão, ... -  que ensombram a vida contemporânea e são um escoador sem fim dos recursos materiais da nossa sociedade, poderão ter abordagens diferentes daquelas que se impuseram como norma!

Mudar de vida é mais difícil que tomar uma pílula milagrosa, mas seguramente mais saudável, eficaz e de efeito mais duradouro.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tapetes (2) - Gabbeh

Em farsi (o idioma da Pérsia), a palavra significa bruto ou natural, ou "em bruto".
Os Gabbeh são os tapetes persas mais conhecidos no mundo.
São tapetes tribais, de origem nómada, originários das tribos Qashqai, tradicionalmente tecidos para uso pessoal, estando muito presente a interpretação artística pessoal do artesão, habitualmente mulher.
Característicamente são muito espessos, atingindo em regra os 2,5 cm de altura e são tecidos numa densidade relativamente baixa, aproximadamente 40 000 - 90 000 nós por m².
Os desenhos são tipicamente geométricos e simbólicos, podendo contar uma história, retratar uma paisagem ou cena, ou mesmo transmitir uma emoção.
É este processo subjetivo e aleatório, em que o artesão transmite a sua história, que torna a Gabbeh uma obra de arte completamente original, distinto de outros tapetes persas e de muitos outros tipos de tecelagem.

Os Gabbeh geralmente são tecidos em teares horizontais, que podem ser montados rápida e facilmente - uma necessidade para os povos nómadas. São manufaturados a partir de lã local e usando tintos vegetais. Os corantes extraídos de plantas nativas e das raízes, são formulados a partir de receitas tradicionais que têm sido desenvolvidos ao longo dos séculos. Casca de romã, casca de noz, de raiz de ruibos e indigo são alguns exemplos de matérias-primas utilizadas. As cores são caracteristicamente vivas - vermelhos, verdes, amarelos, azuis - e irregulares, resultando numa colagem de cores semelhantes, o que dá Gabbeh sua textura rica e sublinha a sua origem nómada inconfundível.
Existem vários tipos de Gabbeh sendo os mais conhecidos o Base e o Kashkoli Gabbeh, caracterizados por uma textura fina e desenhos esparsos, simples e coloridos.

Na apreciação da qualidade de qualquer tapeçaria artesanal, a densidade dos nós, são um parâmetro básico. Pode-se facilmente calcular a densidade contando o número de nós num quadrado de 1 cm de lado (nas traseiras do tapete) e de seguida multiplicar por 10 000 para obter o número de nós por m².
Alguns vendedores de tapetes exageram a densidade de nós, por isso para se assegurar da qualidade do artigo, vale a pena verificar pessoalmente.
Atualmente a maioria dos gabbeh que se encontram no mercado, são de origem Indiana ou Paquistanesa, sendo a principal diferença a qualidade da lã e a utilização, por vezes, de corantes químicos e são geralmente identificáveis pela trama ser em algodão. Embora sejam habitualmente de origem artesanal,  não é de excluir a possibilidade de recurso a métodos industriais na confeção. Os preços dos Indian Gabbeh também são incomparavelmente mais baixos.
Mas mesmo um Persian Gabbeh original, tem um valor acessível quando comparado com outras variedades persas (embora possa ser muito valorizado pela antiguidade e originalidade), pelo que é um tapete adequado para um apreciador que se queira iniciar neste gosto.

Para enquadrar!



Com legendas em português, entrevista ao TED de Julian Assange, em Julho de 2010.

Na Alemanha, país em que a seriedade é levada mais a sério que na bacia do Mediterrâneo e em que o escrutíneo público é maior, já rolou uma cabeça, em consequência da divulgação dos primeiros telegramas diplomáticos. Ver aqui.

Doutores da Mula Ruça



Nas poucas vezes que escrevi neste blog sobre assuntos que domino melhor, em virtude do meu percurso académico e profissional, em que me permiti opiniões mais fundamentadas e menos "universais", despertei variadas reações de intolerância, a remeterem-me para a "minha ignorância sobre o tema".
Fiquei surpreso com tantos "doutores da mula ruça", mas a verdade é que juntamente com os "engenheiros de obras feitas" e os "treinadores de bancada", são dos profissionais em que o país mais é pródigo!

Esta expressão. usada regularmente em Portugal, é como é sabido, dirigida em tom sarcástico e pejorativo, às qualificações académicas do visado.
Mas o que nem todos saberão, é que ao contrário das outras expressões do género, o "Doutor da Mula Ruça" existiu mesmo.
Em 1534, o livro da Chancelaria de El Rei D.João III refere-se-lhe explicitamente. António Lopes, que exercia medicina na cidade de Évora, teria alegadamente estudado medicina em Alcalá de Henares, mas não possuía qualquer comprovativo.
Figura popular na região, entre outras razões por se deslocar sempre na sua mula ruça, era contestado pelos físicos diplomados que o tentavam impedir do exercício da medicina.
Sendo D.João uma visita assídua da cidade, dirigiu então António Lopes uma petição ao Rei, pedindo-lhe que o seu médico principal pudesse testar os seus conhecimentos de ciência médica, facto que terá efectivamente ocorrido segundo o extracto do livro da Chancelaria:
"Dom Joham III a quantos esta minha carta virem, faço saber que o doutor António Lopes, físico de Évora, me apresentou ua carta do doutor Diogo Lopes, meu físico moor, de que o theor de verbo é o seguinte: O doutor Diogo Lopes, comendador da Ordem de Christo e físico moor del Rey Nosso senhor em seus regnos e senhorios, faço saber a quantos esta minha carta de doutorado virem como por António Lopes, físico da mula ruça, morador em esta Évora, me foy apresentado hum allvará dellRey nosso senhor, por sua alteza assygnado e passado per sua chancelaria do qual o trellado he o seguinte: Eu ell Rey, faço saber a vós Doutor Diogo Lopes seu fisico moor, que António Lopes, físico da mula ruça, morador en esta cidade, me dice por sua petiçam que elle estudou nove ou dez annos no estudo de Alcala de Henares."

E com esta conseguiu o doutor da mula ruça que o não impedissem do seu exercício profissional e além do mais ficar imortalizado, ainda que jocosamente.
(O método usado para a certificação, hoje muito em voga, é o da citação circular e desresponsabilizante - o rei cita o seu médico, que por sua vez cita o rei, que mais não fez que citar o requerimento.)

Quase 500 anos depois, um engenheiro diplomado num fim de semana, inspirado na benevolência de Dom João III, criou as Novas Oportunidades, institucionalizando a certificação de todos os candidatos a doutores, que apresentem petição.

sábado, 4 de dezembro de 2010

let it snow, let it snow, let it snow



A anunciar a época da neve e do Natal, deixo aqui ligação para 37 fantásticas fotografias!
Para prazer dos olhos ...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

HERÓIS CONTEMPORÂNEOS

Julian Assange, WikiLeaks founder

Julian Assange está para o presente, como Che Guevara para os anos 60 do século XX.
Tem tudo para se transformar num ícone da alvorada do sec XXI - enfrentou o poder estabelecido a uma escala impensável, expondo a hipocrisia e o cinismo que cimentam a política das grandes potências e seus líderes; conseguiu ter atrás de si os mais importantes serviços secretos do Mundo; movimenta-se com mestria e segurança na selva contemporânea, a Internet.
De origem Australiana, é neste momento um pária internacional, depois das declarações do seu primeiro ministro, que considerou que tudo faria para o deter, mostrando-se disponível para colaborar com o Departamento de Estado Norte Americano.
Com a cabeça a prémio, ouvimos mesmo nos últimos dias Tom Flanagam, conselheiro do primeiro ministro Canadiano, apelar à sua eliminação física, incitando Obama a declarar-lhe uma Fatwa, em estilo ocidental.

Sendo a face visível da organização Wikileaks, que desde há três anos ensombra a vida das diplomacias e serviços secretos de todo o Mundo, já tinha mostrado um papel relevante ao denunciar os abusos americanos nas guerras do Iraque e Afeganistão, mas atingiu a ribalta com a divulgação, em curso, de 250 000 mensagens entre embaixadas americanas.
Tendo conseguido até agora ficar ileso a todas as investidas legais à sua pessoa, obrigou as suas vítimas a mudarem de tática, sendo agora alvo de um mandado de captura internacional por assédio sexual, passando a valer tudo para o tirar de cena.

Embora algumas das críticas que se fazem à Wikileaks, tenham sentido (a diplomacia, necessita de um véu de secretismo para poder ser eficaz, mesmo quando labora em boas causas), Assange defende-se coerentemente (as divulgações são precedidas de edição e avaliação prévia por mais que um interveniente), e aumenta a sua aúrea de herói romântico e revolucionário, cavaleiro da verdade contra o cinismo.
E na sua cruzada vai expondo as debilidades das democracias ocidentais, como aconteceu esta semana quando a Amazon impediu o acesso ao seu servidor, confessando pressões do Governo Americano.
A wikileaks encontrando soluções expeditas para ultrapassar o boicote, ainda  vem com fair play dizer que só tinha recorrido a certos servidores, para dessa forma denunciar como entidades pretensamente livres, estão dependentes do poder político!

Num mundo desencantado, carente de causas, eis um David que enfrenta Golias e traz um alento para os inconformados desta Nova Ordem Económico/Estratégica Mundial.

Aqui encontrará um site do jornal Guardian, onde Julian continua a responder às questões que lhe são postas e a manter-se visível para o Mundo.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tapetes


Ao ler recentemente uma entrevista de Luís Portela, líder da Bial, ao Expresso, fui surpreendido pela sua crença na reincarnação.

(Clara Ferreira Alves: O que acha que lhe vai acontecer quando morrer?
Luís Portela: Estou no mundo-escola e parece-me primitivo entender que numa única passagem pela terra vou tudo aprender.
Parece-me que não, parece-me que estou numa de múltiplas passagens.
Acredito profundamente que existe algo além da vida física e que existem vidas sucessivas.
Como também me parece limitativo pensar que a terra é o único planeta habitado.)

Eu que há muito brincava que devia ter sido comerciante de tapetes numa existência anterior, vou tentar colmatar a partir daqui a minha ignorância sobre o assunto, que mesmo que já não me venha a ser útil nesta vida, poderá ajudar numa futura ...

O tapete que ilustra estas notas, o mais antigo de que há conhecimento, foi encontrado numa escavação arqueológica, em 1949, entre o gelo do vale Pazyryk, no túmulo de um príncipe cita, nas Montanhas Altai, na Sibéria.
Testes com carbono-14 indicaram que o tapete Pazyryk foi tecido no século V a.C.. Este tapete tem 2,83 por 2,00 metros e tem 36 nós simétricos por cm².
A avançada técnica de tecelagem usada no tapete Pazyryk indica uma longa história de evolução e de experiências nesta arte. A sua área central é de cor vermelho escuro e tem duas grandes bordas, uma representando um veado e a outra um cavaleiro persa.
Acredita-se que o tapete de Pazyryk não seja um artesanato nómada, mas sim um produto de um centro de produção de tapetes aquemênidas na Pérsia.

Começo assim pelo princípio, 2500 anos atrás, mas prometo voltar regularmente aos tapetes. Mesmo que nunca tenha sido um mercador persa, da próxima vez que regatear um preço, seja nas bordas do Sahra, em Cachemira ou Karachi, sempre saberei melhor do que estou a falar!

FFFF


Dizia-se antigamente que o Estado Novo promovia os três Efes, para manter o povo obediente e desinteressado da política e de outras matérias que o pudessem desalienar!
Nada mais errado - o tempo veio provar quão preconceituosa era esta teoria!
Tendo a ditadura arrumado as botas há 36 anos, a pujança de qualquer destes vetores estruturantes da nossa vida cultural, social e simbólica, está mais firme do que nunca.

Não fosse o Fado deste povo ser desgraçado e pobre, talvez outra sorte nos sorrisse!
Não fosse a motivação que o Futebol, na sua complexidade, desperta no lusitano e talvez já nem sequer fosse capaz de sair da cama todas as manhãs!
Não fosse Fátima e a Igreja que a promove e ainda pior estariam todos os desamparados pela crise, que vêm o Estado Social sair sorrateiramente de cena.
Mas agora, como dantes, há um quarto F que adjetiva a sorte deste Povo.

A ilustrar esta desafortunada nota, tenho uma reprodução da imagem da Nossa Senhora de Fátima, da autoria de João Cutileiro e comercializada pela Atlantis aquando da visita do Papa Bento XVI à Cova da Iria.
Desconheço o sucesso comercial da obra, nomedamente nos conventos, mas não poderia ser mais adequada para simbolizar o novo F que caracteriza a situação em que se encontra o País e os seus habitantes.