ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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domingo, 24 de julho de 2011

Cristas sob observação



O assunto mereceria a atenção que se reserva a qualquer fait-diver, mas a verdade é que não me larga o pensamento!
O que pensar de uma ministra, que ocupando uma pasta vasta e crucial para o país - agricultura, pescas, ambiente, depois de mais um mês de governação, ainda só deu a conhecer esse momento lamentável de uma conferência de imprensa, para anunciar a dispensa, nas instalações do ministério, do uso de gravata!
É tão provinciano, tão medíocre, que assusta - a Doutora Cristas, é afinal a Dona Cristas, que dá uns bitaites na pastelaria do bairro, sobre coisas giras de fazer, sei lá ...
Este não é o meu tom habitual de comentar, mas anda um aperto a perturbar-me, que tenho de me ver livre dele!
É que eu já andava meio azucrinado, a Drª já estava sob observação de rating, com tendência para descer, desde o momento em que após a nomeação comentou descontraidamente que embora não percebesse nada da(s) pasta(s) que ia ocupar, isso não era problema porque também no Parlamento tinha sido nomeada porta-voz da Comissão do Orçamento, que era matéria que não conhecia e que agora no fim já conseguia interpretar um quadro orçamental... que era uma pessoa estudiosa e trabalhadora e que daqui a algum tempo já teria umas luzes sobre agricultura, etc, etc..
Só que não é suposto um cargo ministerial ser uma bolsa de estágio para curiosos - não há gente neste país que perceba das matérias sobre que tem de decidir ao mais alto nível?
Não me pareceria bem, se estivesse doente, ser observado por um advogado que andasse a ler umas coisas sobre doenças, nem entregaria o projeto da minha casa a um gestor que gostasse de folhear umas revistas de arquitetura!
E você?

(ainda por cima o Mar, tão nas bocas de todos, como um possível setor estratégico alternativo! )

Adenda: isto não tem nada de ideológico ou partidário, desejo a este governo a maior sorte, no meu interesse!, mas há coisas que me não dão paz, (o que não é de agora!), e quando vejo muito mais que o meu 14º confiscado (qual 50%!), começo a ficar muito exigente!

As ilhas Cies


O The Guardian em 2007, considerava as ilhas Cies, como a primeira praia das "10 mais" do Mundo.

A primeira é naturalmente aquela onde estivermos e nos sentirmos bem! Foi concerteza o que aconteceu ao avaliador inglês!
Andava há anos para uma visita e calhou agora.
Embarca-se em Vigo ou Baiona e em 50 minutos chega-se ao topo norte deste areal que aqui se vê.
Depois tem uma bela praia e alguns quilómetros de caminhos para explorar de uma ponta à outra da ilha.
As regras conservacionistas são estritas - o lixo, cada um carrega consigo, num saco que é atribuído na compra da passagem, nem a erosão de uma muleta é permitida na ilha ( quem precisar tem uns substitutos assentes em ventosas! ), dormir só num campismo com condições básicas, etc.
O sítio é de facto muito bonito, mas apesar de estar limitado o número de visitantes diários, não pense que se vai sentir o Robison Crusoé! Contudo, os visitantes dispersam-se e não há noção aflitiva de enchente!

Devo dizer que o que mais me intrigou (eu intrigo-me muito, como já devem ter reparado!), foi que num local em que a preocupação dominante é a proteção da vida selvagem e a defesa de qualquer agressão à Natureza, autorizassem umas centenas de animais a exporem-se ao sol inclemente, nas horas de maior radiação!...

Passei um belo dia, quiçá regresse para uma pernoita, que permitirá o desfrute do local em ambiente mais restrito, que bem merece!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

No Coração Desta Terra

1. Hoje, o meu pai trouxe para casa a sua noiva. Atravessaram planícies, toque-toque, numa carreta puxada por um cavalo, com uma pena de avestruz a adejar na cabeça, suja por causa da longa caminhada. Ou talvez tivessem sido puxados por duas mulas de plumas - também era possível. O meu pai vinha de fraque e cartola, a noiva trazia um chapéu de aba larga e um vestido branco apertado na cinta e no pescoço. Não posso contar mais pormenores a não ser que os invente, já que não os vi chegar. Estava no meu quarto, de portadas fechadas, no lusco-fusco esmeralda do fim de tarde, a ler um livro ou, o que seria mais provável, deitada, com uma toalha húmida nos olhos por causa da enxaqueca. eu sou das ficam no quarto a ler, a escrever ou curar a enxaqueca. As colónias estão cheias de raparigas assim, mas nenhuma, acho eu, tão radical quanto eu.


J.M. Coetzee (n.1940), escreve em 1977 "No Coração Desta Terra".
Um discurso obcessivo, prisioneiro da mente alucinada de Magda, uma "menina" colonial a quem a solidão numa quinta agreste da estepe africana, empurrou para a loucura.
Apontado como uma metáfora da situação social, cultural e rácica da África do Sul, o livro fez-me lembrar a estrutura narrativa de "Estorvo", o primeiro livro de Xico Buarque, de que não guardo boa memória.
Apesar do contexto concentracionário do monólogo, comum a ambos os livros, Coetzee  revela uma mestria literária que faltou em Buarque.
Livro duro, sobre uma realidade em carne viva, em que o discurso vai vagueando por diferentes alternativas, aparentemente incompatíveis, mas provavelmente complementares - um pai distante ou um pai violador?, uma filha assassina ou uma cuidadora perdida?, uma patroa branca violada ou fantasias virginais doentias?, uma jovem madrasta concorrente ou uma criada violentada? ou tudo isso e mais a inexorável decadência de uma sociedade bipolar, na eminência de um conflito de povos e culturas?!

Escrita seca a condizer com a paisagem e o contexto histórico, no primeiro sucesso de uma carreira literária que passaria pelo Nobel - um autor a revisitar!

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Original

Tiro ao Álvaro

Elis Regina

Composição: Adoniran Barbosa

De tanto levá "frechada" do teu olhar
Meu peito até parece, sabe o quê?
"Táubua" de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furá.


Teu olhar mata mais
do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano.


Teu olhar mata mais
 que atropelamento de "automóver"
Mata mais
 que bala de "revórver".

Tiro ao Álvaro!

CapaÁlvaro Santos Pereira economista e professor no Canadá

O novo ministro da economia, transportes, energia e trabalho, é para a generalidade dos portugueses um desconhecido.
Depois do episódio inicial - "não me chamem ministro, chamem-me Álvaro", parece ter-se eclipsado da cena pública, mas deixou-me uma ponta de curiosidade em conhecê-lo melhor naquilo que parecia ser um misto de ingenuidade, inexperiência e euforia do poder!
Vai daí, depois de umas visitas ao seu blogue, comprei dois livros da sua autoria, um mais técnico - "O medo do insucesso nacional", outro do domínio do "ensaio filosófico" - "Diário de um Deus Criacionista".
Já vira referenciado esse particular do seu curriculum, por inúmeros comentadores, que seguramente não viram nem leram as obras - as edições são de 3000 exemplares e estão a ser vendidas a peso pelo editor. (É aliás uma tendência pós-moderna preocupante, de que o que conta é o ter publicado - tantos artigos, tantos livros, e não a natureza do que lá está!)

O Diário de um Deus Criacionista, publicado em 2007, numa altura em que o seu autor já tinha 35 anos e um doutoramento em economia, é um livro inquietante.
Não se percebe como alguém, já passada a conturbação hormonal da adolescência, é capaz de escrever aquele texto e além disso considerar que se tratava de matéria publicável.
Pondo-se no lugar de um Deus, seguramente consumidor de psicotrópicos, imagina-se como Criador de um Universo paralelo delirante, brindando-nos com pérolas inclassificáveis, como 3 páginas inteiras de designações para os dinossauros que imaginou, frases do tipo     mmmuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitttttttttttttttttttttoooooooo iiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnntttttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeee eeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeeeeeeeessssssssssssssssssssaaaaaaaaaaaannnnnteeeeeeeeee", a ocupar 3 linhas de texto com duas palavras inchadas e outros delírios de escrita e grafia que não se imaginariam fora de um diário adolescente.
De repente, o que tinha sido uma incipiente simpatia pelo personagem, transformou-se numa preocupação e um alerta para a necessidade de monitorização apertada, para alguém que ocupa atualmente um dos lugares chaves para o futuro do país.
O contexto fez-me recordar uma entrevista da mãe de José Sócrates a Herman José, num dia da mãe, numa altura em que o filho era há pouco tempo ministro do ambiente e em que expondo publicamente uma personalidade muito perturbada, anunciava ao país que o seu filho era um ministro de Geová, como ela, e que o seu Zé ia mudar Portugal - o que de facto aconteceu! (Curiosamente esta entrevista deve ter sido removida dos arquivos da RTP, pois nunca a consegui reencontrar!)
Os menos de 3000 portugueses que tiverem acesso a este livro, têm a obrigação moral de alertar o país para o risco em que está - depois não digam que não foram avisados!
(Lembram-se do último ministro da economia que saiu do Governo a fazer corninhos ...?)