ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

- ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? - NÃO, SE PÁRAS, ESTÁS PERDIDO! Goethe



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Proposta Fiscal

Partindo do princípio, talvez ingénuo, de haver por parte da atual equipa das Finanças boa fé na condução das reformas fiscais que estão a ser promovidas e apesar de até agora como cidadão não estar a ganhar nada com isso - mas reconhecendo alguma justeza na filosofia adotada - vou iniciar aqui uma série de sugestões, para cairem em saco roto!

A descida do IVA na restauração de 23 para 13% constituiu uma promessa eleitoral do PS, apesar da controvérsia económica e social que a medida gera e do seu forte impacto orçamental negativo.
Tal como está prevista, essa redução parece-me inaceitável social e fiscalmente.
Primeiro, porque já se percebeu que não levará a uma redução dos preços para o consumidor. Depois, porque não terá qualquer impacto na subfaturação, que constitui o maior problema do setor, parecendo até um prémio para o infrator, o que simbolicamente é inaceitável. Finalmente, porque para a opinião pública, será muito difícil justificar porque é que esta atividade, deverá ter um tratamento fiscal diferenciado de outras igualmente geradoras de emprego e correspondendo a necessidades das pessoas de igual importância, como vestir, calçar, cozinhar, iluminar, comunicar.
Como o espaço de manobra político do governo está obviamente diminuído, venho propor uma forma de este salvar a face e ficarmos todos a ganhar: o IVA baixaria efetivamente de 23 para 13%, cumprindo-se pois a palavra dada, mas da seguinte forma - a faturação continuaria a fazer-se a 23%, só que o consumidor teria direito a um retorno de 10% sobre as faturas emitidas em seu nome, numa modalidade idêntica à da atual e-fatura. 
Vantagens desta modalidade:
1) O alívio fiscal repercute-se efetivamente no consumidor e mesmo que haja um aumento de 10% nos preços do setor, o consumidor pagará o mesmo.
2) Em termos orçamentais o impacto da medida será provavelmente nulo, pois esta estratégia levará ao fim da fuga fiscal no setor, (quem não pedirá fatura, sabendo que vai ter um retorno de 10%?) o que se traduzirá num aumento do volume de faturação na restauração superior a 100%, assegurando-se assim a estabilidade do IVA cobrado.
3) Deixará de fora do abatimento os não residentes, o que me parece incontestavelmente justo e sem qualquer impacto na atratividade turística do país, ao contrário do que já quiseram fazer crer.

Quem contestará esta modalidade de redução do IVA? Apenas aqueles que ganham com a prática corrente de fuga ao fisco! Mas espero que não seja nesses que estarão a pensar quando propõem esta reforma ...
(PS - Já agora idêntica estratégia pode ser replicada em outros setores problemáticos quanto à cobrança fiscal, com benefícios para o Povo e para a Fazenda Pública!)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Em cada adver­si­dade da for­tuna, já ter sido feliz é a mais infe­liz vari­e­dade da des­graça ( Boé­cio, séc.V)

O sentir não mudou com os tempos! Talvez a disponibilidade para pensar sobre os sentimentos tenha mudado, não sei.
Mas esta reflexão soou-me certeira, adequa-se-me ao momento.
Roubei-a a Henrique Monteiro que não sei se a citou por também sentir que se lhe aplicava. Henrique Monteiro, que tanto aprecio pelo que acho ser a sua capacidade descomprometida de olhar o mundo, chega amiúde a conclusões mui diversas das minhas, nomeadamente no que à política diz respeito. Penso que parte nas suas reflexões de vários preconceitos, diferentes dos meus, pelo que chegamos a resultados diferentes. Mas tem aquilo a que dantes se chamava "honestidade intelectual", raciocina pelo vontade de evoluir. Talvez por isso e apesar da minha frequente não sintonia com o ponto de chegada, é dos "pensadores" públicos que mais gosto de seguir.
O que tem isto a ver com o título deste post? É que gostamos das pessoas precisamente porque volta e meia nos remetem para a chave dum problema...

PS: Veio-me a vontade de voltar a escrever neste blog, só pela citação do Boécio, mas depois vi que encabeçava um fragmento do livro "Toda uma Vida" do próprio Henrique Monteiro. Fique para memória que foi dos melhores livros de língua portuguesa que já li. O mais próximo de Bergman que um latino pode almejar chegar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Finalmente voltou-me a vontade de escrever ...

A prisão do Sócrates e os vistos Gold, conseguiram a proeza de juntar as duas áreas mais desacreditadas do país - a política e a justiça.
Portanto, vai ser um regalo para a turbamulta.
Desde logo a desorientação - a maior parte dos comentadores, ainda não decidiu de quem dizer pior, se dos políticos, se dos magistrados.
(Existem claro "os da situação", que dirão indiscriminadamente bem dos dois (até trocarem de posição!))
Mas há um terceiro poder, esse com créditos firmados no roubo da populaça, que também apareceu na ribalta - os tubarões da Finança. De escândalos recentes temos pelo menos a Afinsa, Caixa Faialense, Central Banco de Investimento, BPP, BPN, BES, sempre em crescendo. Estes geralmente conseguem os seus objetivos - roubar o povo, a troco de umas inibições e de umas multas. Tudo isto por causa do "risco sistémico", entidade mítica da categoria dos dragões, ogres e godzillas.
Já na política, são necessárias umas condenações exemplares para evitar a crise do regime. Para não haver ressabiamentos convém distribuir os sacrificados pelas várias forças do regime. São atirados "uns bois de piranha" para a torrente (o da direita ainda não apareceu, mas lá chegará!), concentrar-se-ão todos os ódios e espíritos justicialistas nessas rezes tresmalhadas e toca a seguir a festa por mais uma temporada, que as águas ficaram de novo seguras.
Estou muito cínico e desesperançado? É da febre ... quando passa acima dos 38!


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Tempos miseráveis - chegou o terrorismo biológico

A Apple e o Facebook anunciaram uma política de apoio ao adiamento da maternidade, oferecendo às mulheres o custo de congelarem os seus óvulos. Este tratamento pode custar até quinze mil euros e o objetivo declarado é o de permitir às mulheres progredir na sua carreira antes de se dedicarem a ser mães. O processo chama-se criopreservação de ovócitos e visa permitir às mulheres usar os óvulos noutra ocasião, mesmo que os seus corpos já não estejam no pico da idade fértil.
(...)
A Fortune recorda que a nova sede do Facebook, um projeto de Frank Gheri que vai custar 95 milhões de euros, inclui um canil mas não uma creche. Seja como for os factos estão aí: há mulheres a menos na liderança das grandes empresas americanas e as dot-com (empresas tecnológicas) não são exceção. Com este ato podem estar a dar mais um passo para mostrar que estão pouco interessadas em ter mulheres e mães nas suas fileiras.

in "O Observador

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Calduço, está genial!

O calduço

Por Henrique Monteiro, em Henricartoon

Pérolas

"... mas o homem não disse nada, encheram o ar desse mesmo nada. A gente apanha embolias só de respirar este vácuo " J.P.P.

" O meu corpo parecia arder como se feito de uma matéria inflamável qualquer. Um fogo lambia-me o avesso." Ana Cássia Rebelo

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Porquê nós?

O Califado tal como é "imaginado" para o século XXI, pelos radicais que ocupam a Síria e o Norte do Iraque.

Depois do Sócrates e do Coelho, isto ainda pode piorar ...

sábado, 9 de agosto de 2014

Pergunta a Ulrich!

Meu caro Fernando:
Apesar de o BPI e os outros bancos não terem aparentemente qualquer responsabilidade (ao contrário do Governo e do Banco de Portugal) no desastre do BES, são agora intimados a arcar com as consequências dos desvarios dum seu concorrente desleal.
Não resisto pois a devolver a sentença, que tanto o popularizou:
E o Bpi aguenta?

Vozes no deserto

 "Não fazes ideia de como o meu triste país está mergulhado numa nuvem de mentiras tão descaradas e tão evidentes que parece que não sabemos, ou não podemos, respirar outra coisa que não este engano continuado. 
(...)
De há muito que só uma tribo de resistentes usa as palavras que verdadeiramente descrevem as coisas e não a linguagem dúplice do poder.
(...)
A máquina de propaganda do meu governo, esqueceu-se do que andou a dizer nas últimas semanas e agora repete mais um conjunto de mentiras “estruturadas”, como aqueles produtos que eram tóxicos. Orwell, que ambos tanto admiramos, teria aqui matéria para um tratado de doubletalk."

José Pacheco Pereira

quinta-feira, 27 de março de 2014

Já a seguir - novas tabelas, novos cortes na Função Pública (F.P.)! Aguenta, aguenta?


Os quadros técnicos mais diferenciados da FP estão neste momento em uma das seguintes situações:

1 - continuam a trabalhar na mesma ("por amor à camisola", "pelo seu espírito cívico") ignorando o contexto laboral a que estão a ser submetidos (diminuição acentuada de rendimentos, que em muitos casos ultrapassa os 50%, aumento perturbador da atividade burocrática, submissão a controlo policial da atividade, perda significativa da sua independência técnica).

2 - desistiram ( metem atestado, entraram em greve de excesso de zelo, aderiram ao delírio administrativo vigente, fazem que fazem ...).

A probabilidade do contingente da situação 1 passar a 2, aumenta cada dia que passa e a cada nova medida anunciada.
O anúncio de novas tabelas salariais cria expectativa - virá aí a machadada final no sistema?

A folha de vencimento traz cada vez mais exercícios de dedução, que tornam difícil mesmo para um especialista do sector, a conferência do seu apuramento - é uma taxa que é aplicada num mês, substituída por outra no mês seguinte ...
A mais danosa inovação do orçamento deste ano, foi o alargamento dos descontos para a Caixa Geral de Aposentações (11%) a todos os rendimentos (abonos complementares, rendimentos extra, suplementos), quando até agora incidia apenas sobre o salário base do trabalhador. A perfidez desta medida vem do cinismo institucional de no momento em que são anunciados cortes e tectos nas pensões e reformas, alargar o âmbito dos descontos a que estão sujeitos os rendimentos, muito para além do que é anunciado ser a perspetiva do benefício. É pois de um imposto que se trata e não de uma dedução para a reforma!

Um muito bem remunerado FP que tenha por tabela um salário de 5000 Euros mensais (um privilegiado!), se atingir o escalão de 80 000 euros anuais por via de outros rendimentos receberá líquido ... 1386 Euros! Mas senão tiver mesmo mais nenhum rendimento ficando no escalão 40 000-80 000, já terá a felicidade de desfrutar de ...1628 euros.

Infelizmente isto é verdade, científico e ignóbil, apesar de parecer mentira!

PS - Em vigor: redução salário FP 2014 -12%; Irs - 45-48%; Sobrexa extraordinária irs - 3,5%; Taxa adicional de solidariedade - 2,5%; CGA - 11%; Adse - 2,5-3,5% (aguarda ratificação)

SOU EU QUE NÃO ALCANÇO OU ESTAMOS EM LOUCURA DESCONTROLADA!

 A Assembleia da República discute hoje uma proposta do Psd, para alterar o enquadramento penal dos crimes praticados por menores.O projeto de lei do partido da maioria prevê que o Ministério Público abra inquérito em crimes semipúblicos (como o furto ou a ofensa à integridade física simples) ou particulares (difamação, calúnia e injúria, por exemplo) praticados por menores mesmo que não exista queixa crime do ofendido.
Vamos imaginar a cena - uma criança segue com os seus pais em espaço público! O pai injuria a mãe - sua cabra, sua p. e ela sorri. Diz-lhe que está transtornado e que brevemente terá vergonha da sua atitude. O homem acalma-se! Então o filho vira-se para o pai e insulta-o, chama-lhe filho da p., malcriado, insolente! Um diligente agente de autoridade assiste à cena e pressuroso detém o menor por crime particular praticado por menor, o ministério público faz a acusação e apesar de toda a família consensualmente anuir que se tratou de um momento de descontrolo emocional coletivo em situação de grande stress (eu não vos digo o que a mãe tinha feito!), o jovem é levado a julgamento!
Em que país se passa isto? No radioso futuro dum país mediterrânico em austeridade!
Alguém amigo é capaz de me fazer luz sobre a doutrina por detrás desta medida ou é mesmo insanidade?

quinta-feira, 13 de março de 2014

Comunicado da Presidência

Março de 2015:
"O sr Presidente da República divulgou hoje em comunicado, que decidiu suspender a data das eleições para a Assembleia da Republica previstas para este ano, por na atual conjuntura dos mercados poder ser interpretado como um sinal de fraqueza do país, a mudança de Governo da Nação e da atual política de sucesso económico em curso."
Diversos analistas interpelados pela comunicação social, consideraram que embora anómala, tal decisão parece oportuna, pois uma mudança de política e dos seus agentes seria sem dúvida percepcionado de forma muito negativa pelos nossos credores. O Dr Vitor Martins, antigo conselheiro presidencial, auscultado pelo nosso site, recusou qualquer comentário, pois poderia ser mal interpretado...

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Biotransplante - um negócio com futuro?

Nesta nossa nova rubrica dedicada às ciências biológicas, vamos hoje entrevistar o Dr. Martin Shit que se encontra no nosso país para apresentar os seus resultados muito promissores na área da coloproctologia.
JP - Dr Shit, tenho acompanhado com muito entusiasmo os seus trabalhos na área do transplante fecal. Pode-nos esclarecer no que consiste?
MS - Trata-se de uma técnica desenvolvida pelo meu grupo de trabalho, que no essencial consiste num enxerto de matéria fecal de um dador, para o indivíduo que recebe o transplante.
JP - E qual o objetivo dessa intervenção?
MS - Verificamos que um vasto tipo de doenças estava associado à qualidade do conteúdo intestinal do paciente. Estou a pensar no cólon irritável, no síndrome de hiperflatulência, em dispepsias várias e mesmo em doenças da área imunológica como a fibromialgia. Muitas doenças do foro psiquico ou psicológico, como o stress,  parecem à luz dos novos ensaios beneficiar com esta intervenção.
JP - E que tratamentos estavam disponíveis para estas situações?
MS - Ao longo do tempo foram experimentadas múltiplas soluções, mas desde o início do sec XXI que estavam a ser usados os pré e probióticos com muito sucesso.
JP- E então como lhe surgiu a ideia do transplante fecal?
MS - Os meus investigadores da Fundação de "La Mer de Colonique", perceberam já há bastante tempo que o estado de saúde de um indivíduo estava intimamente relacionado com a qualidade da microbiota (isto é, o conjunto de microorganismos) do seu intestino. Daí foi um passo a desenharmos esta terapêutica que tanto sucesso tem tido.
JP - Sabemos que ao seu Instituto acorrem pessoas de todo o Mundo ...
MS - Sim o sucesso foi de tal maneira estrondoso que nos apanhou desprevenidos. Sentimos que as pessoas ansiavam há muito por esta oportunidade de receber as fezes de outros. Penso mesmo que se tornou uma moda e temos já uma lista de espera considerável.
JP - E quem são os dadores selecionados?
MS - Como se trata de um Serviço integralmente pago pelos nossos clientes respeitamos as suas apetências!
JP - E por falar em apetência, o transplante faz-se por via oral?
MS - Não porque o ambiente ácido do estômago destruiria ruinosamente o precioso inóculo. A deposição é feita por via ascendente através do ânus. Mas dizia eu que é comum os nossos clientes desejarem receber um transplante de uma figura social que admiram. Existe a convicção, ainda não cientificamente provada, que a partilha das fezes dum notável, seja meio caminho andado para atingir a sua excelência.
JP - Então imagino que deva ter pedidos muito curiosos?
MS - Sim, mas como deve compreender estamos a falar em produtos que atingem preços muito elevados.
E precisamente agora que esta técnica atingiu um patamar de democratização, é para nós muito importante encontrar uma fonte inesgotável e acessível de matéria transplantável.
JP - E estão perto de encontrar esse Shangri~La da merda redentora, por assim dizer!
MS - Sim estamos disso convictos e foi esse o motivo da minha vinda a Portugal. Descobrimos que o vosso governo é uma fonte inesgotável de merda de alta qualidade, não dá sinais de exaustão e parece ter suficiente apoio internacional para refinar ainda mais a qualidade do produto produzido. Fomos cá trazidos pelo vosso ministro dos Negócios Estrangeiros, um produtor selecionado, que viu esta janela de oportunidade para aumentar as exportações do vosso país. Já fomos apresentados ao ministro da Economia, senhor de uma microbiota invejável e que já anuiu em fornecê-la, no interesse do país naturalmente, e hoje finalmente posso anunciar, depois da consulta que tive com o sr. primeiro ministro, que estive perante alguém como nunca em todos estes anos de investigação conheci - um produtor de muito razoável qualidade, mas que se destaca principalmente pela quantidade do produto utilizável.
JP - Quiçá, Dr. Shit, estejamos então perante uma saída para o país?
MS - Sim, penso que o país, e isso deve-o integralmente a este governo, descobriu finalmente a sua verdadeira vocação. Depois de ter fornecido o país de uma quantidade mais que suficiente desta matéria prima redentora, está agora capaz com toda a segurança de estender a sua dádiva ao resto do Mundo.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Esta tirou-me da letargia!

Transcrevo aqui uma carta aberta da astrónoma Paula Brochado para ao "Sr. Ministro" que circula nas redes sociais.
Sr. Ministro,

Podia começar por citar Einstein com a tão badalada frase sobre a estupidez humana mas partindo do, provavelmente errado, principio que já a conhece, prefiro citar o Ricardo Araújo Pereira: “a liberdade de expressão é uma coisa linda: permite-nos distinguir os idiotas”. Salvaguardo já alguma pequena incorrecção mas ouvi isto na rádio (sabe o que é? aquele aparelho que tem no carro que lhe dá as notícias e o trânsito? já ouviu falar de Maxwell? Foi a investigação dele na teoria do campo eletromagnético que deu origem à invenção do rádio, sabia?). Pois sr. ministro, acontece que depois de ler as suas declarações em que se diz “contra bolsas científicas longe da vida real” não podia deixar de sentir a maior repulsa por tamanha idiotice.

Antes que o sr. ministro se interrogue se não serei mais uma desesperada bolseira sem bolsa deixe-me esclarece-lo: já fui, sim. Sou doutorada em astronomia numa universidade pública (a melhor do país diz-se), essa ciência que, ironia das ironias, não podia estar, segundo os seus critérios, mais longe da vida real - mas, note bem, sou agora analista de negócio na Sonae - quer mais real que isto? Tenho por isso muito mais legitimidade em falar sobre este assunto do que o sr. ministro alguma vez terá, tendo o sr. ministro feito faculdade e carreira em privadas, sem sentir o seu, ainda que exíguo, talento avaliado, enxovalhado, esmiuçado e, por fim, recusado. Pois eu, e milhares de outros em Portugal, já. E, sabe, os astrónomos já têm algum poder de encaixe e alguma tolerância jocosa tantas foram as vezes que, por um lado, os ignorantes nos perguntaram se lhes líamos as cartas astrais e, por outro, os ignóbeis nos acusaram de não fazer nada pela sociedade.

Mas é por ter sido bolseira - não se amofine, não fui bolseira FCT, fui recusada vezes a mais do que as que me dei ao trabalho de contar - que lhe posso dizer que, não fossem as suas declarações mostrarem um profundo desrespeito e desconsideração por milhares de investigadores deste país, chegaria a ser ternurenta a sua ignorância - faz lembrar a minha avó, analfabeta repare bem, que há uns anos atrás me perguntou muito indignada o que é que eu aprendia na escola se não sabia a diferença entre alcatra e chambão.

Quando falo em milhares de investigadores não é de animo leve, o número traduz não só os que agora ficaram sem bolsa, sem projectos e sem expectativas: inclui também todos os que até agora contribuíram para que Portugal deixasse a cauda da Europa e todos cujo trabalho ficou agora hipotecado porque, sem querer ser dramática, pura e simplesmente deixou de haver futuro. Da minha parte, escolhi experimentar aquela que o sr. ministro designa de “vida real” e estou cá fora - segundo o sr. ministro, estou fora do sistema das bolsas, estou agora num sistema perfeitamente bem regulado e previsível que é o mundo empresarial, correcto? Confesse sr. ministro, deu-lhe uma certa vontade de rir. O seu argumento é tão falacioso que um incauto até acredita que existe tal coisa como “ciência longe da vida real” - isso é o mesmo que dizer “astronomia longe das estrelas” ou até “futebol longe do Pinto da Costa”: a ciência nunca estará longe da vida real da mesma forma que um prédio não está longe dos tijolos.

Se se quer referir à investigação científica que gera receitas então aí sr. ministro, assusta-me mais a sua sanidade mental, ou falta dela, do que as suas idiotices. Se tiver ligação à internet sr. ministro (já ouviu falar do CERN? esse laboratório de física de partículas, longe portanto da “vida real”? Sabe então do papel do CERN no conceito da world wide web) pode procurar pelo ROI (return of investment, é a sua praia de certeza que sabe o que é) do programa Apollo (pois, imagino que o feito da humanidade que foi a ida do Homem à Lua não lhe interesse minimamente) e, com certeza para seu espanto, pode verificar que por cada dólar investido no programa, e foram 25 mil milhões de dólares, houve um retorno de 14 dólares. 14. Sabe multiplicar?

Que a vida de investigador, o bolseiro em particular, nunca foi fácil em Portugal isso é um dado adquirido - quer-se rir um bocadinho sr. ministro? Sabia que existe código de atividade profissional para astrólogo (CAE 1316) mas não existe um para investigador? LOL sr. ministro, LOL - mas já se perguntou porque é que apesar de não termos subsidio de férias nem de natal (imagine a nossa confusão em sentir a revolta dos portugueses quando o seu colega sr. primeiro-ministro cortou nos subsídios), de não sermos cobertos pela segurança social, de não fazermos descontos, de termos valores de bolsas que não são revistos há mais de uma década, e outros tantos desajustes com que, com certeza, está familiarizado, continuamos na ciência? já alguma vez pensou nisso? porque, acima de tudo, somos uns sonhadores. Temos que ser sonhadores, temos que ser loucos, acreditar no que não existe, no que não vemos, no que não podemos tocar nem ouvir, temos que ir atrás para perceber porquê, perceber como, temos que questionar, dizer que não, temos que amarrar uma chave a um papagaio e largá-lo no meio de uma trovoada, que deixar as nossas culturas ganhar bolor e ousar pensar que a terra não é plana.

Se o sr. ministro acha que o sonho não tem lugar na “vida real” então tenho pena de si - tal como as crianças acreditam que os ovos vêm do supermercado também o sr. ministro deve acreditar que o seu rato sem fios veio da fnac. Se assim é sr. ministro, está no seu direito, mas então não se envergonhe e, mais importante, não nos insulte.

Sem mais.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

ADSE - O imposto escondido

A subida de descontos dos funcionários públicos para a ADSE de 1,5 %(em Jan2013) para 4 %(Jan.2014) do seu rendimento bruto (que nalguns casos poderá corresponder a 8% do seu rendimento líquido), não é mais que uma forma encoberta de aumentar a carga fiscal sobre este grupo de Portugueses.
Vejamos por exemplo um trabalhador com um rendimento mensal bruto de 3000 Euros (42 000/ano): pagava anualmente 630 euros e passará a pagar 1680 euros, um aumento estratosférico de 266% e menos 1050 euros na carteira.
O mínimo que se poderia exigir era o direito à opção de continuar no sistema ou sair dele, deixando de fazer descontos. Lembre-se os menos esclarecidos, que estes cidadãos, tal como todos os outros, contribuem por via dos impostos para o Sistema nacional de saúde, tendo pois direito a uma assistência médica tendencialmente gratuita. Não é inconstitucional impor-lhes pois um desconto suplementar (um verdadeiro imposto, já que não resulta de uma opção!), dos quais os mais óbvios beneficiários são os sistemas privados de Saúde (os Mello, os Espírito Santo, a Isabel dos Santos...)?

A Adse é entendida pela população como um benefício dos funcionários públicos, mas na realidade trata-se de uma obrigação e de uma injustiça sobre os trabalhadores do Estado, que são obrigados a pagar segunda vez pelo seu direito à saúde.
E os sindicatos, andam a dormir?

Cristas ao alto!

Penso que só por decoro e respeito ninguém no espaço público levantou esta questão até agora: é lícito manter como ministra uma senhora na fase final da gravidez e durante o puerpério?
Advirto que sou um incondicional da maternidade, da sua promoção e proteção. E quando digo lícito refiro-me ao interesse da própria e ao do povo que supostamente ela serve.
O reaparecimento da senhora no espaço público e o alcance das medidas anunciadas respondem inequivocamente à minha questão. Quem andou ausente meses - presume-se que o super-ministério de tudo e mais alguma coisa, dispensa ministro - e regressa para regular o espaço doméstico (é caça, é pesca, é o fim do caminho ...!?), expõe o alcance das cogitações que um cérebro fisiologicamente encolhido pelas hormonas (não, não é machismo!) permite.
Provavelmente os animais do apartamento ao lado incomodaram a srª ministra que passou mais tempo em casa. Felizmente que o ministro não era o vizinho do lado, que estaria agora a proibir o choro dos lactentes entre as 22 e as 8!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Teste de Stress

Genesis 22:10-13: Resumo (daqui):
"Deus chamou Abraão e disse-lhe: “Pega no teu filho único Isaac e oferece-mo em sacrifício”.
Abraão, carregou o burro com lenha e partiu com o rapaz mais dois servos para o lugar ordenado. Ao 3º dia de viagem parou e disse aos servos: “Esperai aqui com o jumento, que nós vamos àquele monte fazer um sacrifício e vimos já!” Pôs a lenha às costas de Isaac, pegou no fogo e no cutelo e iniciou a subida. Isaac estranhou não levarem nenhum animal, mas Abraão tranquilizou-o, dizendo: “Deus deparará uma vítima para o seu holocausto!”, e continuaram. 
Ao chegarem ao lugar, Abraão levantou um altar, pôs a lenha sobre ele, atou o filho e pô-lo por cima. De seguida foi buscar o cutelo, e quando lhe ia lhe dar o golpe fatal, apareceu um anjo que lhe segurou no braço, e lhe disse: “Passaste no teste de stress! Desamarra o rapaz que eu trouxe-te um carneiro!” e, como prémio concluiu: “Eu multiplicarei a tua estirpe e farei com que a tua descendência possua as portas dos seus inimigos!” ... e todas as mulheres do seu clã tiveram filhos e até a sua concubina Roma pariu quatro vezes."

Será que o BCE (que agora vai repetir testes de stress aos quatro maiores bancos portugueses), no fim nos poupará o dinheiro e aceitará um Coelho de sacrifício?

O meu índice testosterona (ou Continente!)


Somos nas nossas vidas muito mais condicionados pela biologia do que por qualquer outro factor.
A nível " macro ", desde logo o sexo, as características físicas, as capacidades intelectuais, que nos calham na rifa, determinam à partida a malha em que nós nos expressaremos ao longo da vida.
Fosse eu dado à "escrita demorada" teria aqui pano para alguns capítulos, a evidenciar que nascer homem ou mulher, caucasiano ou ameríndio, cego ou surdo, lerdo ou sobre-dotado, faz toda a diferença na forma como vemos o Mundo, nos comportamos em sociedade, temos ou não sucesso na vida. Penso que seria tempo mais ou menos perdido, pois não acrescentaria grande coisa ao senso comum.
Também ao nível "micro" a biologia nos condiciona fortemente o dia a dia. "Somos o que comemos" é um bom exemplo de um aforismo que ilustra o princípio.Os mediadores endócrinos, os níveis de dopamina, serotonina, adrenalina, comandam-nos de uma forma invisível, fazendo-nos perder frequentemente o controlo racional dos nossos atos. Anos de aprendizagem e meditação vão por água abaixo porque nos deixamos conduzir sob o impulso da paixão, do medo, da vertigem, da azia, da obstipação...
Nesta altura estarão a concluir que eu sou um forte adepto da máxima "pense duas vezes mesmo antes de pensar!". Mas não, adoro a espontaneidade, a criatividade, o risco! Mas sei que para lá de certos limites do meu controlo racional, posso cometer erros dos quais me lamentarei amargamente.
Foi por isso que resolvi parametrizar o meu "índice testosterona". ( Valores de ref.: Acima do índice 6/10 - alerta amarelo; mais que 8/10 e menos que 3/10 - alerta vermelho)
Claro que no meu dia a dia a forma como encaro as pessoas do sexo oposto não é constante. Há dias que me apetece meter conversa com uma desconhecida e outros em que essa mesma desconhecida me irritaria. Dias em que sou indiferente e outros em que sou galanteador.
Mas ao fim de alguns anos de reflexão identifiquei o limite a partir do qual deixei de ter controlo sobre o meu comportamento sexual. Talvez alertado por uma crónica do Luís Januário (onde embevecido descrevia o "anjo" que o atendia no supermercado), percebi que  havia um sinal que precedia o ponto limite da perda do domínio da razão sobre a ditadura do impulso sexual bárbaro. Tal como os doentes de enxaqueca, sentem frequentemente uma aura anunciadora, eu identifiquei a aura que me avisa que o risco de disparate comportamental entrou em alerta vermelho.
É o chamado sinal da fila do supermercado - quando a quase totalidade das caixas do supermercado me parecem particularmente atrativas (ou o oposto), sei que está na altura de deixar de responder aos meus impulsos, ligar o piloto automático comportamental e tentar aliviar-me quanto antes dos males que me afligem.
Antes de que me venha a arrepender da minha espontaneidade ...