ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

E CONTUDO MOVE-SE ...



O actual panorama político, social e ideológico, quer em Portugal, quer no Mundo, não é particularmente estimulante!
As ideologias como expressão de uma visão sobre o Mundo e de agregação de perspectivas sobre o funcionamento da sociedade num todo coerente, caíram aparentemente em desuso. Hoje discutem-se desgarradamente medidas, sendo normal termos o bloco de esquerda e o partido popular a reclamarem como suas, as mesmas iniciativas e intenções, disputando um eleitorado desideologizado, que se orienta numa lógica pragmática.
 Costumo há muito brincar, que não sou de direita, nem de esquerda ... estou é à frente!
Considero que há muitas áreas de decisão política em que as ideologias têm pouco a ver com as opções, nomeadamente na gestão autárquica, em que realmente do que se trata, é de encontrar as melhores soluções técnicas para desafios concretos do dia à dia.
Sou também da opinião, que independentemente das ideologias, a inteligência dos intervenientes é normalmente o mais importante...

Pese tudo o que foi dito, um esqueleto ideológico onde assentem as nossas convicções é indispensável - porque subjacente a tudo está uma ideia sobre a sociedade, que deve ser discutida, melhorada, racionalizada e porque, como se costuma dizer, isto está tudo ligado, e é fundamental que as prospostas para as diferentes áreas  - sociais, económicas, culturais - sejam compatíveis e articuladas.

Neste tempo "sem ideologias" (será essa a ideologia!) há uma coisa que continua a ter validade: quando as coisas correm mal, estoura por algum lado - ninguém suporta uma incomodidade para além do seu limiar de tolerância, durante muito tempo!

Surgem assim uns movimentos invertebrados, em Portugal e Espanha ( lá 15-M, cá 12-M ), que expressam o mal estar de um importante sector da sociedade - os mais jovens!
Convenhamos que uma sociedade, que exclui da vida activa o seu grupo mais pujante, com mais energia, no período da vida em que tem mais entusiasmo e capacidade de inovar e arriscar, a troco de prolongar no mercado de trabalho os mais velhos, mesmo contra a sua vontade, tem um problema estrutural grave para resolver.
Tal estado de coisas, resulta apenas da necessidade de resolver uma questão "contabilística" -  atrasar a idade da reforma por dificuldades no seu financiamento - mas não constitui uma solução socialmente aceitável, como concordarão os mais inteligentes de qualquer quadrante ideológico.
É uma pseudo solução, que em si constitui um novo e grande problema - cria descontentamento, nos mais novos e nos mais velhos e ao afastar os com maior potencial produtivo do trabalho, mina as bases de todo o progresso económico e social.

Os novos movimentos emergentes são o sinal socio-político mais interessante dos últimos anos - uma juventude com um nível de formação intelectual sem precedentes, sem ideologia política, com um patamar elevado de expectativas socio-económicas, anuncia que foi ultrapassado o seu limiar de aceitabilidade. Para já é só isso - um movimento da juventude burguesa que ainda não sabe como expressar orgânicamente a sua ambição, que se junta para fazer "prova de vida".
Entretêm-se nestes meetings inaugurais, como foram educados para o fazer nos jardins de infância que frequentaram - com pinturas, músicas, danças, iniciativas cívicas ... e começam a organizar uma matriz onde encaixe o seu descontentamento ...
Mas nunca mais pararão, até se resolverem os problemas mais importantes que fizeram disparar esta mola ... perceberam entretanto que existem e que não têm nada a perder ...

Aqueles que os acusaram de ser amorfos e sem iniciativa, têm agora um boa ocasião de mostrarem o seu apoio na resolução de um problema que é de todos - uma sociedade sem convicções, movida por pragmatismo e interesses, entregue a uma clique política  incompetente e com um nível de tolerãncia à corrupção e à ineficácia, intoleráveis!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Gigões e Anantes

Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais outros são um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse nem se sabia se ele cabia ou não.

Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar:
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.

MANUEL ANTÓNIO PINA
Manuel António Pina

Foi o primeiro livro que li de Manuel António Pina, em 1974!
Fiquei desde aí cliente da literatura infantil, que na altura era geralmente mais "básica"!

Habituei-me a tê-lo na mesa ao lado no Orfeu(zinho).

Como cronista desencantado (curiosamente ou não, expressa aqui uma opinião idêntica à de um meu post recente) gostei sempre de o ler!

Fico pois muito contente com o Prémio Pessoa 2011!

Fanny Owen



" O rio Douro não teve cantores. Teve-os o Mondego e o Tejo também. Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado. Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira. E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso."

Agustina Bessa-Luís escreve Fanny Owen (1979) como corolário dum trabalho de investigação para os diálogos de Francisca (1981), encomendados por Manoel de Oliveira.
É para mim desde logo agradável o entorno - a rua de Cedofeita, Vilar de Paraíso, a Foz, o Douro, descritos por alguém que conhece e ama essa geografia, que também é a minha.
O romance, assente em factos reais a que Agustina tenta ser o mais fiel possível, recorrendo mesmo a um trabalho de colagem, pondo na boca das personagens frases extraídas dos seus diários, livros ou artigos, comporta dentro de si um segundo nível, ensaístico, em que a autora comenta os sentimentos e acontecimentos, numa perspetiva psicanalítica de distanciamento e interpretação.

A história de Francisca Owen Pinto de Magalhães (1830-1854), no centro de um doentio triângulo de intriga e amor, que opõe Camilo Castlo Branco e o seu "amigo" José Augusto, termina com a morte do infortunado casal.
Agustina transporta-se e transporta-nos, com mestria, para o ambiente romântico da época, onde o amor para soar a verdadeiro tinha que ser mitificado, sendo a felicidade inconcebível sem o adorno do sofrimento.

Não tendo tido nós um Goethe ascético, angustiado, mas profundo, tivemos umas décadas mais tarde uma sua versão manhosa, interesseira e macabra, na figura de Camilo ( Agustina nas suas impressões embebidas no romance, cita profusamente Holderlin (1770-1813) contemporâneo de Schiller e Goethe, também ele declarado louco na sua época.).

Francisca morre mais de amor do que da tuberculose que seguramente tinha?
E as perturbações do humor e do comportamento não seriam também elas consequência da doença, que integra nas suas formas avançadas também uma componente psiquica e emocional bem documentadas!?
E José Augusto seria apenas um doente emocional, refém do seu pretenciosismo provinciano e literário, ou estaria dependente do consumo de opiácios (o miraculoso láudano), de uma overdose dos quais viria provavelmente a falecer, no mesmo ano de Fanny!?

Esta é uma história real, que demonstra que o universo literário de Camilo, não se afastava da sua realidade existencial - relações de amor/ódio, uma burguesia sem referências morais ou culturais sólidas, amigos insanes capazes de solicitar uma autópsia para apurar da virgindade da sua esposa, de quem guardam o coração em álcool, como relíquia macabra de uma veneração doentia!
Um grande romance!


PS: Muito oportunamente esta obra sucedeu no Clube do Livro à "Cidade e as Serras", já que a Quinta do Lodeiro de José Augusto Pinto de Magalhães (na foto), para a qual Fanny foi viver após o seu rapto e atá à sua morte, dista uma pequena caminhada da Quinta da Vila Nova, de Tormes, onde Jacinto viveu o seu romance bucólico e solar.

Como o mesmo espaço geográfico, pode albergar paisagens de alma tão diversas - os girassóis que iluminaram Jacinto na sua chegada a Tormes, deram lugar aqui a crisântemos agoirentos entre brumas de desconfiança e ciúme.


Andar de bicicleta!



Recentemente numa visita a Itália surpreendi-me com a dimensão da utilização urbana e quotidiana da bicicleta. Conhecendo o fenómeno mais para o Norte da Europa, constatei que os Italianos usam a bicicleta na sua dimensão prática de meio de transporte, de uma forma absolutamente generalizada, em todas as idades, classes sociais ou profissionais.
Fazem-no para ir trabalhar, ir às compras, de fato, de saia casaco, de sobretudo ou de jeans.

Também em Portugal a utilização da bicicleta tem tido um incremento notável!
Só que em Portugal essa utilização tem uma vertente de ócio ou desportiva, fazendo os portugueses questão de se vestir apropriadamente para o momento - pondo uma camisa de licra, um capacete, uns ténis apropriados, não vão pensarem que anda de bicicleta por não ter dinheiro para o carro.
E raramente a utilizam de forma útil, na actividade normal do dia a dia!

Estranho povo este que vive de aparências e fantasias!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Meu nome é Fernando T.S.



A minha triste sina (TS) é ter-me transformado num jarrão!

Como o meu semblante denunciava, fui seviciado, ameaçado de represálias sobre a família, pelo que aceitei comparecer ao velório, sob a forma de adereço!

O meu cabelo branco, disseram-me, fazia o mesmo papel de um bouquet de agapantos, que a situação aflitiva da família não permite comprar!
Penso que todos comprenderão que foi o sentido do dever que me levou a ceder!
Afinal, depois da conversa com o José, tenho dúvidas se o pai já estaria mesmo morto antes do Pedro abrir a porta., como em tempos cheguei a sugerir ou se só morreu depois dos telefonemas, desculpe, da abertura da porta ...
Sinto-me baralhado, apertaram-mos com muita força!
Eu não tive nada a ver com isto, carreguei a pistola, mas era para matar a mosca, foi o que me garantiram ...

BOAS NOTÍCIAS



Queria vos dizer que consegui um optimo funeral para o pai!
O preço conseguido com a funerária foi muito mais baixo do que o que andavam a dizer por aí!
Além disso terá flores ... de plástico que são mais resistentes e mais ecológicas ...

Um familiar interrompeu o discurso triunfal:
- Mas não fostes tu que o mataste? Ainda te gabas disso?
José, imperturbável, retocou o nó da gravata, recolocou a voz e com uma ar seráfico, elucidou:
- Aproveito para esclarecer, mais uma vez, que o nosso querido pai, por quem eu daria a própria vida, faleceu em virtude do Pedro ter aberto a porta no momento em que eu disparava sobre uma mosca que incomodava o falecido e que em resultado dessa irresponsabilidade, abrir uma porta sem avisar, despoletaram-se uma série de perturbações que culminaram no fatídico desfecho.

Contudo eu estou hoje aqui, para transmitir uma nota de esperança e garantir que estou disponível para assumir a condução desta família, para a qual prevejo um futuro radioso!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma vitória contra o terrorismo?



Penso que o mundo não terá ficado pior com a morte de Bin Laden!
Não partilho contudo da ideia que tenha ficado melhor!

O primarismo dos americanos permanece inalterado com o decorrer dos tempos - tal como perseguiram Che pela floresta Andina até o conseguirem assassinar, fizeram como objectivo central da sua política antiterrorista a eliminação de um (ex-)lider, jogando com o aspecto simbólico da sua execução.
O terrorismo islâmico permanecerá inalterado, eventualmente mais acicatado nos próximos tempos, pela afronta sentida no mundo árabe fundamentalista.
Os americanos conseguirão com esta manobra justificar a saída do Afganistão, com a ridícula explicação de que o objectivo da vitória sobre o terrorismo islâmico terá sido alcançado!?
Uma saída de sendeiro, a repetir o brilharete do Iraque, deixando atrás de si um rasto de destruição, desorganização social e ódio anti ocidental!

Ver os americanos nas ruas a comemorar o assassínio causou-me impressão. O impulso que os move não me pareceu muito diferente do das multidões fanáticas que saem à rua no mundo islâmico, para comemorar qualquer desgraça que vitime os ocidentais.
Ver os analistas, talvez com razão, dizer que com este trunfo, Obama ganhou novas hipóteses de reeleição, entristeceu-me, mais por ele - emparedado na lógica do populismo e da real politik, que por qualquer outra razão!
Ver o acontecimento comemorado, desde a ONU às redacções dos media, como um triunfo contra o terrorismo, é que não aceito.

Tratou-se, à luz do direito internacional vigente, de um acto de terrorismo de estado, da mesma natureza dos praticados pelos fundamentalistas islâmicos.
Se a justiça do Mundo fosse imparcial, Obama seria julgado num Tribunal Internacional por ter assumido o comando da operação - tratou-se de um raide de comandos americanos, num país estrangeiro, que não foi consultado para autorizar a invasão, procedendo-se a um assassínio de um cidadão residente, sem qualquer sentença judicial de um tribunal independente. O universo dos filmes dos agentes secretos americanos sem identidade, a pairar fora de qualquer control institucional, confirma-se que não é ficcional (veja-se Jason Bourne, interpretado por Matt Damon em Identidade Desconhecida de 2002).
Quem hesitará a exigir o julgamento (ou o assassínio "tout court"!) do presidente do Irão, se este patrocionar um raid em território americano para assassinar Obama ou o chefe da CIA?

O que me choca não é isto acontecer, que já sabia - da vida e dos filmes - que o Mundo é assim, o que me choca, é não ver ninguém, com importância institucional, indignar-se com isto!

Cinque Terre





A partir de La Spezia, na Ligúria, apanha-se um comboio regional que dá acesso a estas cinco vilas - Riomaggiore a primeira - que se podem percorrer a pé, em fantásticos trilhos sobre o Mediterrâneo.
O trajecto mais fácil, junto à água, tem cerca de 15 kms e estava fechado para manutenção, apenas se podendo percorrer o Km inicial até Manarola - Via dell`Amore, um pesadelo de turistas e grupos, apesar da beleza do entorno.
Daí para a frente e como não restavam alternativas, percorreram-se os trilhos interiores que sobem em veredas alucinantes entre oliveiras centenárias e vinhedos, desafiando as vertigens e o equilíbrio, percorrendo aldeias perdidas, dum povo que continua a cultivar em locais que se diriam impossíveis e mantendo uma paisagem viva num local deslumbrante e que é Património da Humanidade.
Aí, a frequência dos trilhos, apesar de numerosa, já era mais interessante e chegado a Corniglia depois de uns 10 Kms de subidas e descidas inesquecíveis, aquela pizza singela de molho fresco de tomate com azeite e cogumelos da região, soube-me à melhor de sempre!
O comboio que circula regularmente permite em minutos atingir a próxima terra, no caso Vernazza, onde um sol mediterrânico de Primavera pujante, apelou aos meus instintos reptilíneos, deixando-me a giboiar sobre uma laje junto ao mar.
Para se passar um dia agradável (vindo de Pisa é cerca de uma hora de comboio)  e constituindo uma alternativa ao "turismo de monumentos", As Cinque Terre, são uma boa opção. Para uns dias de caminhadas e natureza, também se devem recomendar, tanto mais que à noite com a debandada da turistada, os locais devem ganhar uma beleza suplementar.

domingo, 17 de abril de 2011

Um Compromisso Nacional

Aqui encontrará um manifesto, de um alargado e abrangente conjunto de personalidades, que exigem dos responsáveis políticos, responsabilidade!

Como todos os manifestos abrangentes (ver por exemplo o da geração à rasca), os princípios são suficientemente vagos para caber lá toda a gente.
Mas o ponto chave e sobre o qual começa a parecer desenvolver-se um consenso, é que é crucial unir esforços para ultrapassar o actual estado de calamidade nacional!

Se os atuais dirigentes partidários, que mais parecem lideres estudantis a disputar a associação académica, estão a altura do desafio, é assunto que convém clarificar urgentemente -se não, ponham-se lá outros que sejam capazes!
Nós é que não podemos esperar mais, embalados pelo fado e pelos sucessos futebolísticos lusos!

Aos partidos - 3ª pergunta: Haverá despedimentos na Função Pública?



A resposta a esta pergunta só teria interesse na presença de um polígrafo ... e mesmo assim!

Estou convicto que uma medida essencial para a normalização da vida do país é o despedimento de funcionários do Estado, Autarquias, Empresas Públicas, onde se detectar tal necessidade.
A frase sagrada - reestruturar, mas sem despedimentos - tem de ser banida do código de conversação política!

Porque houve autarcas dos mais diferentes partidos que empregaram todos os militantes do concelho em pseudo museus, pseudo empresas municipais, pseudo assessorias, não podemos estar condenados a pagar-lhes um ordenado nos próximos 30 anos!
Se gestores públicos transformaram a Administração em agências de emprego e de pagamento de favores, não posso considerar isso um direito adquirido!
Se Institutos, Fundações se criaram para alimentar o ego e patrocinar a corte de déspotas medíocres, não estou disposto a comprometer-me vitaliciamente por tais dislates!

Se não houver coragem de despedir gente na Função Pública, não haverá qualquer reforma do Estado eficaz. Ponto!

Claro que o que me assusta nisto tudo é saber que são os mesmos que estão na origem dos nossos actuais problemas, quem se perfila para aparecer como grandes reformadores - e aí dispensarão os imprescindíveis e protegerão os afilhados.
Não haverá pois também nenhuma esperança para o País, se não for possível renovar os actores da vida política e o seu padrão de ética e responsabilidade.

Como não temos gente corajosa na governação, nem eleitorado capaz de enfrentar a realidade, temo que o caminho seguido seja mais uma vez o pior: privatizar a Administração Pública, mesmo aquela que é consensualmente indispensável - Saúde, Educação, sei lá que mais - e deixar a tarefa ingrata de redução dos recursos humanos aos bárbaros empresários!

Tenho consciência que a assunção pública de uma opinião como esta levará ao banimento do seu autor, por anos, de qualquer lugar por eleição.
Sei também que de uma política desta natureza resultarão muitos problemas humanos e sociais!
Mais do que isso sei, que eu próprio, posso vir a ser vítima de uma tal reorganização!
Mas o que tem de ser feito, deve ser feito e um cirurgião que hesita amputar um membro gangrenado, não será vangloriado pelo seu humanismo.

Tempos muito difíceis estão aí - assobiar para o lado não resolverá a situação!

Não seria melhor estar calado?



O presidente da Apifarma, representante da Indústria farmacêutica, resolveu emitir opinião sobre como se deveriam comparticipar os medicamentos em Portugal!
Habituados que estamos a tudo, já nem se estranha, mas convem lembrar que a ele compete vender os medicamentos e só!

A definição das políticas sociais e da saúde compete ao governo, em representação do povo, que não pode ficar refém dos interesses do lobby dos fornecedores!

É assim que se esvazia a democracia e vamos entrando neste novo regime de Governo das Corporações (mandam os banqueiros, os industriais, os credores!).

Houve mesmo lugar para todos!



Segundo as contas de Francisco Louçã a poupança resultante dos cortes salariais em 2 anos em toda a Função Pública, equivalirá ao prejuízo resultante da nacionalização do BPN - dois mil milhões de Euros.

Durmo agora mais descansado, sabendo que não foi por causa dos velhinhos com reformas miseráveis, que me vieram ao bolso.

Posso mesmo passar a odiar, o grupo de ladrões que controla o sistema político e económico em Portugal - os mesmos que também querem roubar os velhinhos com reformas miseráveis!

Começo a não ter dúvidas que isto vai acabar á paulada!

SHOT ON YOU, MR. CADILHE!




Miguel Cadilhe, Poveiro com muitas certezas, resolve hoje apresentar no Público o seu plano de salvação para o País, já que para o BPN não teve quem o ouvisse.

E a que se resume o seu cogitado plano: determinava-se o património de cada português a 31 de Dezembro de 2011 (contas bancárias, imobilário, acções,etc) e aplicava-se um imposto "one shot" de 3 a 4%, que seria aplicado integralmente na redução da dívida pública, de forma a reduzirmos de uma penada o seu montante para menos de 60% do PIB, como está previsto pelas regras comunitárias.

Isto é, quem esbanjou e arruinou o país sai ileso, quem poupou, paga a crise!
Nunca a fábula da cigarra e da formiga foi tão preversamente contraditada!
Claro que me refiro sobretudo à classe média, pois as grandes fortunas não têm o património assim à mão de colher, em território nacional!
E ia jurar, Mr. Cadilhe, que nessa data tinha os seus bens agasalhados nalgum off-shore ou numa SGPS.

Agora que a ideia tem pernas para andar, tem!
O Bloco de Esquerda não deixará de apoiar este imposto sobre as fortunas, a Nobre direita reconhecerá que vindo dum Papa não é para ignorar e embora não se vá aplicar a 31/12/2010, ficará para uma próxima oportunidade.
E depois essa tentadora solução de se resolver tudo de uma vez e poder-se começar a gastar de novo, nova corrida, nova viagem...

Começa a estar na hora de mudar de praia!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Cidade e As Serras



Publicado em 1901, um ano após a morte de Eça de Queiroz, que não terminou sequer a revisão do manuscrito, A Cidade e as Serras é um livro divertido, muito ideológico e que mantém uma enorme actualidade (isto é, é intemporal, como toda a grande literatura!).

De todos os livros do Eça que em tempos li, era aquele do qual guardava uma imagem mais nítida e a impressão de mais ter influenciado a minha visão do Mundo.

A perspectiva mordaz sobre a civilização que constitui a primeira metade do livro, é muito próxima da que reaparece em Playtime (1967) de Jacques Tati - uma sociedade obcecada pela novidade, pelos gadgets tecnológicos e pelo formal em geral, mas desencantada e vazia de valores e objectivos concretos.
Eça de Queiroz contrapõe na segunda parte um romantismo bucólico, de exaltação da vida simples e natural do campo (neste caso, o Douro), ambiente em que Jacinto desabrocha para a realidade da vida (planta as árvores e tem os filhos!), conduzido pela amizade do seu companheiro serrano, Zé Fernandes.

Paris, retratado como o farol de uma civilização que só valoriza o lucro e o prazer, aparece como a quimera enganadora, enquanto a as rústicas terras de Tormes são descritas como uma bênção divina.
É um Eça de Queiroz culto, cosmopolita, que já tudo viu, leu e criticou, aparentemente reconciliado consigo mesmo e com o seu país, este que transplanta um sofisticado e enfastiado Jacinto, de Paris para os xistos durienses e o deixa feliz na sua pele de iluminado aristocrata, a exercer um humanismo caritativo.

Livro sobre o tédio do excesso - de bens, de informação, de tecnologia - é muito oportuno para uma geração (que inadequadamente chamam de rasca) que cresceu sem ter de enfrentar dificuldades materiais, de lutar pela sua liberdade, com acesso a conhecimento e informação nunca antes existentes e que parece tal como Jacinto enfastiada, sem motivação e que se vê no limiar de uma situação nova para a qual não estava preparada.

A única diferença é que não disporá dos "cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival" de Jacinto, que lhe permitiram a sua diletância de socialista idealista.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aos partidos - 2ª pergunta: que modelo para a saúde?



Era importante saber o que pensam realmente fazer (se é que pensam!) os partidos, relativamente à organização do Sistema de Saúde!
Não me estou a referir a banalidades e generalidades do tipo "tendencialmente qualquer coisa", ou "permitir a concorrência entre os diferentes sectores".
A 2 meses da governação têm obrigação de terem ideias concretas sobre o que pretendem fazer e o dever moral de o divulgar previamente.

Pensam privatizar os hospitais? e os cuidados primários?

Como tencionam financiar o sector - manter o actualmente dominante sistema de "contra produção" (isto é quanto mais consultas, cirurgias se fizerem, mais recebem os prestadores) ou avançarem para a generalização do pagamento por capitação (isto é, a entidade responsável pela saúde de uma população recebe um tanto por habitante independentemente da estratégia que siga para assegurar o compromisso!)?

 Que política para o medicamento e para a sua distribuição? Avançar com o sistema público de distribuição ensaiado em alguns hospitais ou manter a indefinição? Comparticipar por princípio activo ou por percentagem?

Manter as Parcerias Público Privadas? Permitir o acesso dos cidadãos aos diferentes sistemas, ficando o Estado como pagador? Com que recursos? Com que controlo?

Já agora, sei que seria pedir muito, mas não ficava mal: quem será o ministro da Saúde, se ganhar?

A minha opinião:
Mexer num sistema com a dimensão e a complexidade do SNS é tarefa difícil e perigosa!

Primeiro dever-se-ia começar por arrumar e rentabilizar os recursos públicos existentes:
- Prosseguir a actual política de fusões, de que foi um bom exemplo a recente concentração das estruturas médicas de Coimbra, num único Centro Hospitalar!
- Definir uma estratégia de recursos humanos em exclusividade de funções para as unidades de saúde públicas, sem pressas, nem fundamentalismos!
- Desenhar uma rede de prestação de cuidados diferenciados, sem sobreposição de prestadores, de forma a rentabilizarem-se recursos e ganharem-se níveis de competência superiores!
- Criar centros nacionais de excelência para algumas patologias. públicos ou privados, que possam vir a disputar mercado no contexto europeu!
- Comparticipar os medicamentos por princípio activo, indepedentemente da marca prescrita, mantendo-se contudo esta liberdade!
- Prosseguir o programa de farmácias públicas!
- Na ausência de recursos públicos, ponderar a concorrência aberta com o sector privado, mas nunca, como tem sido política das PPP, retirando o ónus do risco ao investidor, ficando o Estado como garante do lucro!
- Aplicar universalmente os critérios de qualidade, sem distinção pela natureza pública ou privada da entidade, por entidade reguladora verdadeiramente independente,com poder!
- Generalizar o sistema de finaciamento por capitação, fazendo convergir os valores gastos por cidadão com a saúde ( que são actualmente muito mais elevados para um português do Sul, que para um do Norte!?).

No momento de assumir responsabilidades era bom saber o que pensam sobre estes assuntos, quem se candidata à função!
Será que vamos ter essa sorte, ou ficaremos por vacuidades?

A tal falta de bom senso!



A Câmara da minha cidade resolveu fazer uma campanha promocional, que tem um lema mensal: já foi o mês do vento, do calor e de não sei mais o quê.
Desconheço os custos da campanha e a sua utilidade: excepto se fôr para aumentar o amor próprio dos municípes, não lhe vejo o interesse.
A divulgação faz-se por enormes painéis colocados em diversos sítios da cidade, além de prospetos, mails, etc!

Até agora não me aqueceu nem arrefeceu (excepto talvez os bolsos, pelos custos, que presumo grandes, que terá!)!

Só que este mês, incomodou-me: uma cidade que até ostenta o atributo de cidade saudável, faz campanhas despudoradas em outdoors gigantes, ao consumo de acúcar na época pascal?
Não restará ninguém pensante nos centros de decisão deste país - anda a Direcção Geral de Saúde a investir na promoção de uma alimentação saudável e uma autarquia promove (com slogan e imagem a ajudar) a diabetes?

Agora o meu apelo: Esta Páscoa não ofereça guloseimas - além de contribuir para o arrefecimento económico da balança externa (o acúcar é maioritariamente importado!), também ajuda o metabolismo dos seus familiares e amigos!