ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

CAMINHAR


As coisas mais importantes da vida, são gratuitas!
Desde logo o viver - respirar bem, ver, ouvir, pensar, cheirar, sentir!
Amar e partilhar, sabemos e dizem os estudos, são as atitudes que mais contribuem para a felicidade e não custam nada. No seu duplo sentido aliás - só quando não custam nada, é que são possíveis!
Quando falamos de crise, falamos de dinheiro - e esse só interfere na nossa felicidade, quando não é suficiente para satisfazer as necessidades básicas!
Muitos psicólogos, antropólogos, sociólogos tentaram estabelecer uma relação entre dinheiro e felicidade - e concluíram que até um determinado valor, o que permite assegurar uma existência cómoda, existe uma relação direta entre os dois, mas acima de um certo limiar, os acrescentos monetários não se traduzem em ganhos de felicidade e para lá de um patamar mais alto, parece mesmo haver uma relação inversa.
Sei que uma grande parte dos meus concidadãos se encontra no grupo dos que um pouco mais de dinheiro no bolso, ajudaria à sua felicidade.
Porém, também sei, que grande parte da infelicidade é gerada pela não satisfação de expectativas consumistas que nos são socialmente induzidas, que nada têm a ver com o bem estar de cada um, e que se destinam apenas a promover o consumo de bens e serviços. Todos nós somos vítimas dessas armadilhas e é bom que reflitamos sobre isso.
Os tempos livres desde há muito que se tornaram alvo de uma indústria de consumo poderosa, que recorrendo a documentários, revistas, referências sociais e culturais, nos foram convencendo que tiraremos melhor partido dumas férias ou dum fim de semana, quanto mais exótica ou dispendiosa for a escolha para a sua ocupação.
E isto é tão verdade para as férias num apartamento na Quarteira, como para a estadia num Spa da Polinésia - claro, que já se estão a sorrir por esta altura, prefeririam a segunda opção, mas não é verdade que exista uma diferença qualitativa nas opções - é natural que o aporte de felicidade de quem sonhou e conseguiu as primeiras, seja maior de quem descontou no cartão de crédito as segundas.
Quem já desfolhou uma dessas revistas de tempos livres ou de viagens, sabe que começa  a estar na moda uma forma de turismo mais activo - que pode ser percorrer o trilho Inca no Perú, fazer treking no Nepal ou seguir as levadas na Madeira.
E o que têm de bom essas opções, são o exercício físico que proporcionam, o deleite de locais paisagisticamente agradáveis, a saída da rotina diária. O que elas têm em comum com o Spa da Polinésia, é que são caras, poluidoras (já imaginou a quantidade de CO2 que gasta, para fazer uma caminhada!), e constituem uma tentativa da Indústria do Turismo de não perder um grupo de pessoas já saturadas pelo modelo tradicional de férias.
Pois a crise pode constituir uma oportunidade para a nossa vida - podemos viver melhor, gastando menos!
Caminhar é das atividades mais reconfortantes que conheço - além do bem estar que proporciona, obriga-nos a confrontar com as nossas limitações físicas, dá-nos tempo para refletir, é (descobriu-se agora) a mais poderosa terapia contra a perda de memória e permite-nos descobrir, isso mesmo, que há mais vida para além do deficite!
Vivemos num território, que muitas vezes desconhecemos - temos quase tantas surpresas ao fazer uma caminhada na região onde habitamos, como quando estamos a milhares de Kms de distância!
Desde há cinco anos que tiro 4 ou 5 dias por ano, para fazer uma caminhada de cerca de 100-120 Kms por um dos Caminhos de Santiago.
Já estive em Machu Pichu, em Katmandu e no Pico Ruivo e confesso sinceramente que não foi o exotismo do local que tornou a experiência mais fantástica.
Os Caminhos de Santiago são por diversas razões uma boa opção para caminhar, embora naturalmente haja muitas outras, porventura melhores!
A primeira razão é existirem milhares de Kms de trilhos muito bem marcados, centenas deles em Portugal.
Depois existe uma logística, que permite viajar em autonomia, quase gratuitamente - há uma cobertuta de albergues, cuja pernoita pode variar entre o gratuito ou os 5€, espaçados no máximo de 20, 25 Kms, com condições aceitáveis de conforto e higiene (espartanas, claro!).
Temos ainda que tirando alguns troços menos felizes, percorremoss trajetos que têm centenas de anos de história, que já viram passar muitas gerações de gente como nós, o que junto com as bolhas nos pés e as dores nas pernas, nos ajuda a recolocarmo-nos no nosso lugar ...
O caminho, cada um o faz por si, mas nunca nos sentimos sózinhos- milhares de pessoas de todo o mundo o percorrem diáriamente (não é exagero!) e na tua etapa irás seguramente cruzar-te com alguns, que te poderão dizer pouco ou muito pelo contrário ... mas o que é seguro, é que vais ter muito tempo para refletir sobre isso e muitas outras coisas.
Faz-se uma viagem espaço-temporal, pois quer uma dimensão quer outra, se vai esticar!
Ter um objetivo e conseguir alcançá-lo é uma fonte de auto confiança e satisfação. A chegada a Santiago, dá uma sensação de plenitude e de superação revigorantes e vai-nos fazer sentir irmanados com as centenas de caminhantes que também cumpriram, nesse dia, essa etapa.
Não tendo sido para mim, nunca, uma vivência religiosa, caminhar até Santiago, é concerteza uma vivência espiritual enriquecedora.
Pois, faz-te ao Caminho!

3 comentários:

  1. " Queria ficar toda a noite contigo para te contar a minha vida inteira." Pedro Paixao.

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  2. Soa a misterioso, mas esta noite não vai dar!

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  3. Diria que soa a outro tipo de estado d'alma...

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