ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Caminhar - siga as setas amarelas!

Terminei ontem a etapa que me faltava do troço do Caminho de Santiago, que vai de Viana do Castelo a Valença (caminho português da costa).
Para quem gosta de caminhar, o caminho de santiago constitui uma excelente oportunidade, pois há a garantia de uma boa sinalização e de um trajeto a grande parte das vezes agradável. Não tem mais que seguir as setas amarelas que balizam o caminho!
De Viana, saindo de detrás do hospital, segue a meia encosta do monte de Santa de Luzia até Âncora e de lá por um trajeto mais junto à costa por Moledo até Caminha. Aqui, sugiro a eventuais interessados que em Moledo se mantenham junto ao mar, ao contrário das indicações, atravessem o pinhal do Camarido e cheguem a Caminha pela foz do Minho, o que constitui um trajeto muito mais agradável que o marcado.
São vinte e poucos Kms deliciosos, cerca de 5 horas de caminhada e que podem constituir, tal como qualquer das outra etapas, uma boa maneira de passar um dia de fim de semana, uma folga ou até uma tarde sem perspetivas, o que foi o caso de ontem.
Parti de Caminha rumo a Cerveira e o trajeto depoisr de Seixas faz-se também a meia altura, com o Minho sempre a namorar-nos cá em baixo. Nesta estação não faltam amoras, figos, uvas e maçãs para entreter o caminhante. Mesmo para quem conhece a região é garantida a surpresa dos locais que atravessa.
A etapa terá cerca de 20 kms, um pouco mais acidentada que a anterior, conte com 4 a 5 horas.

Nesta altura poderá complementar o passeio com uma visita à bienal e verificar in loco que grande parte dos artistas presentes, não teriam feito pior se tivessem passado mais tempo a caminhar ...
A linha de comboio de Valença a Viana permite repôr o caminhante no local de partida, o que constitui um apoio muito útil à aventura, que pode assim ser feita em autonomia (a CP também autoriza o transporte de bicicletas, sem qualquer formalidade prévia).

De Cerveira a Valença decorre a terceira etapa deste troço, com traçado mais plano, ao longo da veiga do Minho e numa extensão mais ou menos idêntica às anteriores.
Quem quiser seguir até Santiago terá mais 4 ou 5 dias pela frente, dos quais estou certo não se arrependerá!

Mas esta minha sugestão é a de usar este percurso para utilização avulsa, em qualquer altura do ano, com sol ou com chuva, de forma a evitar aquelas tardes de que tanto se arrepende, passadas em uma qualquer catedral de consumo!

domingo, 21 de agosto de 2011

FESTAS DA AGONIA

Agonia_2011

Acabou mesmo agora o fogo principal destes três dias de festa em Viana do Castelo - a Serenata do Rio!

Deslumbrante, com diversas inovações técnico-estéticas felizes - novas associações cromáticas, cachoeira da ponte seguida de fogo rasante (jactante!) sobre o rio, foguetes coração - o símbolo ex-libris da cidade!

Apenas a lamentar uma moda que se iniciou há um par de anos quando a produção do fogo foi entregue a uma empresa de eventos artísticos francesa - pôr banda sonora ao fogo. E se na sua versão original salvo erro era Strauss o contemplado, agora opta-se pela canção popular (Deolinda, Amália,etc.), que não tem nem elevação, nem ecletismo que permitam acompanhar o deslumbrante espetáculo da serenata de Viana.

Depois de Viana ter sido hoje capital do universo nacional pimba, cerimoniado pelo animador Goucha, nada mais apropriado que este banho de beleza para lavar a alma à cidade, que assim pode regressar desenvergonhadamente à sua placidez cativante.
E com todos satisfeitos ...

ECOVIA DO LIMA

Fotogaleria: AçudesVeigas - Fotogaleria

 Nestes tempos estivais pedalar ou caminhar ao longo de um rio, são das actividades mais reconfortantes e económica e ecologicamente benignas que se podem conceber.
De Viana do Castelo, é possível seguir o Lima pela margem Sul até Ponte da Barca, conforme poderá verificar AQUI, ou mesmo obter documentação detalhada ALI.

São 44 Kms de trajeto: desde a ponte Eiffel em Darque até Ponte de Lima (26Kms) e daí a Ponte da Barca ( 18Kms). Nem todos são de verdadeira ecovia que oficialmente constitui apenas uns troços intermédios - mas o que interessa é que pode acompanhar o Rio desde quase a Foz por caminhos agradáveis, apenas havendo no percurso inicial algumas limitações, conforme as marés (na maré cheia, terá que procurar alternativas mais interiores até chegar às lagoas de stº André).

A parte mais importante deste esforço é da Câmara de Ponte de Lima, que tem mesmo algumas vias complementares como o trajeto de meia dúzia de Kms, da vila às Lagoas de Bertiandos ( zona de paisagem protegida, com centro de interpretação, campismo, etc.).
Embora estas vias já sejam utilizadas por muita gente, estão ainda muito aquém do aproveitamento que o seu potencial lúdico e turístico permite.
Já imaginou por exemplo um pacote de 3 ou 4 dias de férias com passeio de Viana - Ponte de Lima, com atividades desportivas e/ou gastronómicas complementares, pernoita (em albergue, turismo de habitação), seguida de etapa até Ponte da Barca/Arcos de Valdevez, mais regresso.
Qualquer um o pode fazer por sua iniciativa e com seguro proveito, mas um jovem empresário turístico poderá fazer disto um modo de vida!
(Já existe um público para este tipo de turismo activo, mas o seu potencial de crescimento é enorme!)

sábado, 20 de agosto de 2011

ELOGIO DA EXPERIÊNCIA

Agora que me pus a ler o D. Quixote, descubro todos os dias nos jornais, nos blogues, que é um autor da moda ... com 400 anos de tarimba, o que é uma garantia incontornável!

D. Quixote é alguém que conheceu primeiro o mundo pelos livros, ao contrário de Caeiro que enaltece "a espantosa realidade das coisas", e que ao tomar contacto com a realidade quer à viva força que ela corresponda ás fantasias que desenvolveu nas suas leituras alucinadas.

Vai daí, aqueles que lhe estavam próximos terem entendido que destruir a sua biblioteca era um acto de caridade!

Também desconfio daqueles que conhecem o Mundo dos livros (embora creia que estes são um património único, apesar da sua maioria ser dispensável).
A experiência vivida, se possível sem constrangimentos morais, ideológicos ou quaisquer outros preconceitos, é o nosso maior património e aquilo que de mais útil temos para dar aos outros.
Na vida económica, cultural, na política, assustam-me os teóricos, os que aprenderam tudo nos livros, nas universidades, os que conceptualizam a realidade!

Ninguém, a não ser por acaso, tomará boas decisões sobre matérias sobre as quais não desenvolveu uma teoria pessoal, fruto de muitas leituras, opiniões alheias, mas sobretudo duma vivência rica numa determinada área.
Temo os sabichões, cheios de certezas!

A sabedoria é uma atitude tolerante, disponível para aprender e mudar!

O meu poeta

Alberto Caeiro

A espantosa realidade das coisas

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
7-11-1915