ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

- ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? - NÃO, SE PÁRAS, ESTÁS PERDIDO! Goethe



sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Prenda de Fim de Ano!

Aproveito para desejar aos amigos um início de ano auspicioso!

Deixo-os com a deliciosa revista Alice, para que desfrutem!


F

Sugiro o fantástico livro de António Jorge Gonçalves!




 E a original fotobiografia de Feltrinelli por pedro piedade marques!

Para lerem e se quiserem descarregar em PDF!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Prenda de Natal



Pode ir aqui ler a tradução da Christmas Song, a um blog que vale a pena visitar!

Jethro Tull é um dos grupos da era dourada do Rock de que mais gostei - pelo líder ser um flautista, por se estender pelo Folk, Jazz, por ser sempre pouco alinhado pelo gosto da moda e pela irreverência!

Razão e Ordem versus Irracionalidade e Tirania?





Acabo de ler "O Deus das Moscas", obra que não me encantou pelo seu valor "literário", mas que me entusiasmou por no seu aparente estilo de aventura juvenil, forçar uma salutar e profunda reflexão sobre questões pedagógicas, sociais e éticas. Trata-se de um livro-tese, descaradamente maniqueísta, de resto como toda a literatura, pois a objectividade é sempre a que é permitida pela perspectiva de quem escreve. 

E que pontos William Golding pretende fazer valer:
1 - A vida em sociedade implica um conjunto de regras e o seu respeito.
2 - A estrutura social implica uma liderança (natural ou imposta) e uma hierarquia.
3 - O poder tende a ser disputado balanceando a escolha entre a força da razão (a democracia, o primado da política) e a razão da força (a ditadura, o primado do autoritarismo).
4- Em situações de crise, o domínio é favorável a quem garantir a satisfação das necessidades básicas e imediatas, mesmo que a autoridade e a ordem se assegurem pela tirania e violência!
5 - A sustentação duma ditadura, assenta na exploração de uma ameaça ao grupo (aqui, "a fera", mesmo que inexistente, é pressentida como real e convoca todos os medos!).
6 - As ritualizações grupais encantatórias ( aqui a "dança da caçada") permitem submergir o discernimento individual, levando o grupo a comportamentos "incontroláveis", que seriam impensáveis num contexto de livre arbítrio.
7- A consolidação do poder despótico beneficia da culpa colectiva sublimada (a morte de Simão) e da diabolização do "outro" (os exteriores à comunidade).

Uma sociedade civilizada implica a subordinação das suas estruturas "instrumentais" (exército, finanças, diplomacia) a uma liderança baseada no interesse colectivo e bom senso (o que deveria ser a política!).
Quando se perde essa força aglutinadora e condutora, o risco de barbárie é real!
A razão pode pouco contra a força de uma massa alienada e euforizada!

Há na personagem de Rafael uma incredulidade sobre o pulsar destrutivo do grupo ( "Não. Não são tão maus como isso. Foi um desastre.") e um sentido de responsabilidade, que se lhe impõe como um imperativo ético e uma evidência ( "A fogueira é a coisa mais importante. Sem a fogueira não nos poderemos salvar. Eu também gostaria de me pintar como um guerreiro e brincar aos selvagens. Mas é necessário manter a fogueira acesa. A fogueira é a coisa mais importante na ilha"), que o impedem de se conformar com o delírio colectivo.

 Essa maldição também eu a sinto desde a sua idade e é ela que não me permite, hoje, viver despreocupado como a maioria dos meus concidadãos, que ainda agora correram aos stands de automóveis a apropriarem-se de um, antes que o país feche!

(Como terá vivido Rafael quando voltou à sua vida "normal"?
Depois da perda da sua "inocência original" nunca mais o Mundo voltou a poder ser visto pelas lentes da fantasia e do optimismo?)

Mesmo um "pessimista" como Golding não exclui a possibilidade de um milagre no último minuto - seria  também essa a minha esperança, caso a nossa vida colectiva fosse o argumento de um autor benevolente!

 Pode ser que Deus exista!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Um país à beira da ingovernabilidade!

Rebelião violenta contra o Estado!
Notícia aqui!
Convém esclarecer que os 75 centimos - classe1, são por 4 kms de viagem!
O sistema de portagens introduzido, é demencial e socialmente inaceitável!
O pórtico seguinte, em Esposende, custa 1.15 € por um trajeto de 9 kms!

As trapalhadas dão nisto!
Políticos impreparados, insolentes e incapazes!
Continuam a fazer tudo mal, como de resto aconteceu até aqui!

TRATA-SE APENAS DO ANÚNCIO DO QUE AÍ VIRÁ!
Um apelo: Pela pouco dignidade que vos sobra, saiam de cena, por favor, antes do país ser irrecuperável!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Salman, filho da Meia Noite!

padma-lakshmi-et-salman-rushdie.jpg

Personagem polémico, exibicionista, sexualmente obsessivo, religiosamente traumatizado, Salman Rushdie, tem em Os Filhos da Meia Noite uma obra à sua altura, em que parece ter querido despejar exaustivamente a sua visão do mundo.
Seu segundo livro, publicado em 1981, numa altura em que ainda não se dedicava exclusivamente à literatura, continua quase unanimemente a ser considerado o seu melhor livro!

A história na realidade é a da Independência do Industão, entrelaçada numa saga familiar, que se inicia em Caxemira com o avô da personagem central - Saleem Sinai e é narrada num registo que se pretende próximo da oralidade desorganizada (mas muito trabalhada), à sua futura mulher, cuidadora, salvadora, Padma, aliás a Deusa da Bosta.
Saleem terá muito de Salman - ambos nasceram em 1947, ano da Independência da Índia e Paquistão, oriundos de famílias Caxemires, passaram a infância em Bombaim, viram as respetivas famílias migrar para o Paquistão em 1964.
E além disso há a aparência física - Saleem, o Muco na Penca, o Sorve Ranho, o Cara de Mapa, o Pedaço de Lua, também Buda, o cão pisteiro, partilha com o autor um nariz proeminente, uma tonsura capilar precoce, umas pálpebras que não fecham e outras particularidades que não podem ser desvalorizadas ("cresci com as pernas irremediavelmente tortas, porque me pus de pé cedo de mais" (..) com "um ano, duas semanas e um dia" -  idade afinal normal para qualquer criança andar!?.)
E a futura mulher, que pacientemente escuta a sua febril narração, será afinal a Padma Lakshmi, sua quarta mulher desposada em 2004 (foto), de origem indiana e apresentadora dum reality show americano ("Top Chef")?

O ritmo da escrita é alucinante, com permanentes histórias laterais, apartes, devaneios. O estilo é feérico, excessivo, caleidescópico, diria mesmo ruminante, com a história a ser sucessivamente regurgitada e mastigada, sendo nisso fielmente indiano, país dos excessos - de cor, de desgraça, de cheiros, de imaginação.
Nenhum país incorpora tantas religiões e um panteão tão povoado e improvável. Deuses que têm mil representações, shivas de inúmeros membros e divindades de cabeça de elefante.
Saleem Sinai tem um filho, no preciso momento em que era declarado o estado de sítio e suspensa a democracia pela Viúva - Indira Gandhi (25 de Julho de 1972).   Filho que afinal não era seu, mas era neto dos seus pais e tinha orelhas de elefante - tal como Ganesh, com quem tinha em comum ser filho de um Shiva e de uma Pavarti.

Um país de imaginário ancestralmente pop e que continua a gerar gurus que atraem ciclicamente vedetas ocidentais (como um dos filhos do livro, Cirus transmutado em Khusro, que era "visitado por guitarristas americanos, que se sentavam aos seus pés e nenhum se tinha esquecido do livro de cheques"). Sendo uma narrativa comentada da Índia, o leitor que não for um bom conhecedor da sua história perde muitas das ironias, referências, interpretações (houve mesmo um primeiro ministro que bebia a sua urina? Os lideres comunistas retratados são reais ou delirados? a resolução da crise do Paquistão Oriental/Bangladesh, fez-se com festejos?).
Perpassa em todo o livro uma muito salutar capacidade de gozar consigo próprio e com o seu país ( "cada indiano tem uma versão da Índia! ).

Este livro tem demasiadas coisas lá dentro, muito excesso e muitas preciosidades!
Como todos os grandes livros é atual e aplica-se-nos - " No dia em que ao mesmo tempo, subiram os impostos e baixaram as isenções! É como quem vai à retrete - camisa para cima e calças para baixo! Este governo trata-nos como a uma retrete!" Aliás há mais referências a Portugal - uma Carmen Verandah de chapéu de frutas que não poderá ser outra que a nossa, do Marco, Carmen Miranda! - a inevitável Catarina de Bragança, que em 1660 levou de dote para Carlos II de Inglaterra, nada menos que Bombaim ( que derivará do português Bom Bahia )!
Das incontáveis histórias dentro da narrativa, retenho a do Fórum Radiofónico dos 581 garotos filhos da meia noite, que ocorre telepaticamente promovida pelos dons mediúnicos de Saleem na e que é uma antevisão profética e poética do Face Book.

Sendo necessário um ritmo de leitura pujante, para não nos atolarmos nas permanentes manobras de diversão, lê-se este delírio de uma personagem paranóica que interpreta o percurso histórico da Índia como decorrente da sua história pessoal, como se a História acontecesse toda em sua função, com o objetivo último de o tramar a si e aos 1001 filhos dessa meia noite de 15 de Agosto de 1947, em que a Índia se tornou um Estado Independente.

Estabelecendo uma conexão com um livro aqui comentado recentemente (A tia Júlia e o Escrevedor), este parece um fenomenal folhetim de Pedro Camacho, cujo sucesso tão apoteótico terá seguramente muito a ver com a importância social, económica e cultural da comunidade hindu no mundo anglosaxónico e com o tom de refinada auto-ironia, que preveniu a rejeição dos antigos colonos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Deus das Moscas

William Golding foi Nobel da Literatura em 1983
"William Golding (1911-1993), um dos maiores escritores do século, ganhou o prémio Nobel em 1983 e este é um dos seus grandes livros, duas vezes adaptado ao cinema. Nesta obra Golding conta a história de um grupo de crianças de um colégio inglês que naufraga, dando à costa numa ilha deserta. Contra este pano de fundo mais ou menos idílico, a lembrar obras como "Dois Anos de Férias" de Júlio Verne, Golding vai conduzindo o leitor pelo verdadeiro tema da obra: a maldade e a estupidez humana, a selvajaria brutal que tudo subjuga ao prazer imediato. Quando foi publicado, em 1954, o mundo ocidental acabava de sair dos horrores da segunda guerra mundial; mas hoje a obra continua infelizmente actual porque a estupidez humana é uma das constantes que ao que parece veio infelizmente para ficar.
Do ponto de vista formal, estamos perante uma escrita depurada que parece esconder na sua impassível objectividade narrativa um grito surdo que passa a habitar-nos para sempre. Se há romance contagiante, é este. A sensatez do herói do romance, que procura convencer os seus companheiros a não se deixarem iludir pelos apelos constantes à brutal selvajaria é quase dolorosa. Estamos perante um grande livro, que merece ser lido e discutido e do qual é imperativo extrair uma lição.
Gostava de destacar um aspecto crucial. Na sua tentativa de convencer os seus companheiros a agir de forma sensata e racional, o protagonista vê-se obrigado a instituir rituais — menosprezados e espezinhados por todos. E este é um aspecto que parece captar uma característica importante da natureza humana e que muitas vezes não é suficientemente tida em conta — nomeadamente em discussões relacionadas com a filosofia da religião. Os seres humanos precisam de rituais, de símbolos, de histórias para conseguirem ser sensatos; precisam da iconografia, do gesto ritual, do preceito religioso; e precisam, sobretudo de dramatizar o bem e o mal morais. Essa dramatização culmina, claro, com a invenção dos deuses das várias religiões, guardiães dramáticos da acção moralmente correcta.
Termino com uma nota de cautela. Este livro não é para espíritos fracos. O seu desenlace trágico, pinta em tons fortes os abismos morais a que a miséria humana pode conduzir. Mas, como grande escritor que é, Golding faz mais do que impressionar o nosso sentido moral: impressiona o nosso sentido estético com um poder tal que o convívio diário com esta obra nos marca para sempre. "
Desidério Murcho

"Comecei a desconfiar de Rousseau quando li O Deus das Moscas. De súbito, a questão impôs-se: “Será mesmo o Homem naturalmente bom?”.
“O Deus das Moscas” foi, ao que parece, uma resposta de William Golding ao livro “A Ilha de Coral” escrito por Ballantyne, onde três rapazes britânicos, Jack, Ralph e Peterkin encontram-se numa ilha e, ao contrário do que acontece em “O Deus das Moscas”, conseguem, de forma heróica, ultrapassar todos os problemas que vão surgindo. William Golding oferece-nos a versão alternativa, descrente da bondade entre os seres humanos.

Deixo ficar uma série de notas, colhidas aqui e ali, sobre o próximo livro do Clube de Leitura (que tem uma versão virtual e outra real!), para entusiasmar os disponíveis!

Boa leitura!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Recado para o Wikileaks - há certas coisas que é bom manterem-se num círculo restrito!



Joana foi ao Hospital fazer umas análises e como teve uma fraqueza depois da colheita do sangue, foi ao bar do pessoal tomar o pequeno almoço!
O corredor está cheio de cartazes de reuniões, congressos, apelos, informações!
Joana sentiu-se bem, no meio daquela azáfama de batas, socas e estetoscópios. Tinha sonhado ser enfermeira, na altura bastava o 5º ano, mas o pai tinha achado pouco próprio - "No meu tempo, nem podiam casar, não é vida digna para uma mulher!". Mas isso já lá vai. Também sou feliz assim, pensou, mas aquele ambiente aqueceu-lhe o coração, quiçá os ossos, deixou-se estar sem pressas a beber a meia de leite, de facto andam meios despidos e as conversas meu deus, são um bocadinho desregradas! Alguém tem de fazer isso, é verdade, pôr algálias, lavar as partes, sei lá os clisteres ...
A vida de costureira, só tinha de mal ser solitária e não ter rendimento garantido! Aqui há quem fique à mesa a manhã toda, pensou. Toca a andar que aqui não vou ganhar o dia.
Na saída, sem pressas, detem-se num cartaz dum encontro sobre "Cancro do recto baixo", interessou-lhe, pois fora disso que morrera a sua mãe. Coitadinha, uma agonia: tiveram que lhe abrir um buraco na barriga, por onde saíam as fezes! Nessa altura, fora enfermeira - mas porque era a mãezinha, não era capaz de fazer o mesmo por um desconhecido!
Ora deixa ver: subtitulado lia-se:
- Risco familiar
- Prevenção
- Poupar o esfincter ... e a função!

Joana teve como que um arrepio pela coluna, de cima para baixo entenda-se, uma fraqueza nas pernas!
Decorou aquela mensagem, para comprensão futura, não estava a atingir o seu significado pleno, mas não teve dúvidas que aquilo lhe interessava!

À noite João lia o Record e respondeu meio mecânicamente, "sim parece que na altura o médico disse que os familiares também podiam ter a doença! Pergunta ao teu irmão que estava comigo quando o médico passou a certidão".

João não estranhou quando três dias depois a mulher lhe recusou um alívio sexual, as mulheres não sentem tanto estas necessidades, lá me vou habituando, puta de vida - nem por trás?, não faças essa cara que parece que te bati!

Duas semanas mais tarde, Joana dava entrada no serviço de Urgência, com vómitos, sendo-lhe diagnostica oclusão intestinal. Dada a história familiar a primeira hipótese diagnóstica foi de carcinoma colo-rectal, mas alguns exames mais tarde, conclui-se que afinal tudo decorria dum meticuloso programa de prevenção que Joana tinha gisado - não alcançara, que poupar os esfincteres era um tópico para os planos cirúrgicos de tratamento da doença e não uma recomendação para os doentes.
Mesmo depois de tudo esclarecido, nunca mais Joana voltou a ter aquele prazer que sentia, quando esvaziava a tripa!

Moral da história - os bares do pessoal hospitalar, não são para os doentes!
Ou dito de outra forma - certas informações, mal interpretadas, podem dar cagada!

O meu primeiro filme!



Nas minhas férias de Natal de 1969 (ou seria 1970?), tive a minha primeira experiência verdadeiramente cinematográfica - a ida a uma sala de cinema, o Terço no Porto, com bilhete pago, mas sem direito a pipocas que não se usavam na época, assistir a um musical que tinha ganho o Óscar de melhor filme (1968).

"Oliver" era uma adaptação do livro de Charles Dickens, produzido e realizado em Inglaterra por Carol Reed.
Oliver Twist é um órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, sofre a crueldade da sua família e acaba fugindo para Londres. Lá, ele é recolhido das ruas por Artful Dodger, um ladrão que o leva até Fagin, um velho que comanda um exército de prostitutas e pequenos marginais. Quando Oliver conhece um bondoso homem em quem finalmente enxerga um possível pai, Fagin não vai permitir que o garoto denuncie o seu esquema, e ainda aproveita para planear um assalto a casa do rico Sr. Brownlow, o pai desejado por Oliver.

Foi na companhia duns 15 primos, sob o patrocínio de um tio sem filhos e dado à cultura que fomos ao cinema. Recordo deste dia, detalhes que não lembro de momentos que supunha mais importantes na minha vida. Vivemos as desventuras e injustiças sofridas pelo pequeno Oliver, como se de nós se tratasse. As "reflexões" sobre o filme prolongaram-se até ao início das aulas. Sendo o cinema uma das fontes de prazer e cultura da minha vida, dá para perceber a importância deste momento.

Quão diferente e mais densa é hoje a vida duma criança.
Daqui a 40 anos saberão os meus filhos recordar o primeiro filme que viram?
Não, quanto mais não seja, porque não houve "esse" momento! Aos 10 anos já têm uma filmografia quase igual à minha, o que também quer dizer que o cinema já não terá para eles o mesmo efeito mágico que teve para mim.
Talvez reservem a memória para coisas mais importantes: os primeiros amigos, a primeira namorada, os primeiros desgostos ...

Roman Polansky em 2005, antes de cair em desgraça, retomou a história de Dickens - na primeira oportunidade, tenho filme para ver com os meus filhos!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tapetes (3) - Kilim

Pecos Kilim southwestern rugs kilim rugs woven carpet rugs

Nos tapetes ditos orientais ou também chamados de persas, o Kilim constitui um grupo à parte, sendo mais um tecido que uma tapeçaria.
Na confeção de um tapete utiliza-se uma urdidura, um conjunto de fios verticais, fixos, que muitas vezes aparecem nas extremidades longitudinais dos mesmos, quando terminados.
Sobre essa urdidura são feitos nós, que podem ser simétricos (nó turco) ou assimétricos (nó persa). Entre cada fiada de nós é passado um fio horizontal - a trama, entrelaçada na urdidura, cuja função é fixar os nós no seu lugar e que vai sendo sucessivamente acrescentada à medida que se vai completando cada fieira de nós.

Ora os Kilims diferenciam-se de todos os outros tapetes por não terem nós, sendo apenas compostos pela urdidura e pela trama, que é responsável pelo desenho do tapete. De certa forma é como se de um bordado se tratasse, pela passagem de segmentos de fio, pela urdidura.
Por esta razão têm uma superfície lisa, são maleáveis, dobráveis, fácilmente transportáveis. Sendo um produto característicamente de origem tribal, que só recentemente passaram a ser comercializados, eram utilizados na confeção das tendas, dos sacos, utilizados como colchas, toalhas ou almofadas. Para além do aspeto decorativo, realçado pelas suas cores vivas e desenhos geométricos profusos, funcionavam como fator de coesão grupal, particularmente importante nos grupos nómadas sem identidade territorial.
Originários da Anatólia, a sua distribuição estende-se dos Balcãs ao Paquistão.
Os desenhos tradicionais, são identitários das tribos donde provêm, sendo dessa forma possível determinar a sua origem, já que cada artesão embora produzindo peças sempre únicas, não fugia ao padrão ancestral do seu grupo.
Foram encontrados no sítio arqueológico de Dorak (perto de Bursa, na Anatólia), vestígios de fios de lã coloridos em disposições geométricas nos solo, que foram atribuídos a Kilims, datados de 2500 a.C..
Com a sua comercialização intensiva a partir dos anos 80, já que os seus motivos se adaptavam bem à decoração ocidental e a sua técnica de confeção permite preços mais acessíveis que os "verdadeiros" persas, surgiram muitos padrões modernos e alargou-se a sua proveniência geográfica.
Embora continue a ser a Turquia a sua principal pátria, os Kilims de origem magrebina, moldava, afegã, paquistanesa, indiana, estão bastante difundidos.
É muito provável que mesmo que não tenha um tapete destes lá em casa, tenha uma almofada, uma carteira ou uma mochila, com aplicações Kilim.

O primado da política!



A política pode ser uma arte!
Saber conduzir as massas, com um objetivo em mente, saber contornar os obstáculos!
Infelizmente tem sido e promete continuar a ser, um patamar curricular de ambiciosos sem profissão, a ganhar balanço para um posto num conselho de administração ou numa prateleira dourada!

Ontem, Mário Soares e Freitas de Amaral, foram entrevistados pela Constança Cunha e Sá (uma mulher sem idade!).

Reforcei a convicção que Portugal perdeu uma grande oportunidade ao ter rejeitado Mário Soares para Presidente da República! O argumento da idade, tão acenado na campanha veio a revelar-se falso - continua muito mais lúcido, do que alguma vez Cavaco terá sido na vida.
Um povo inculto deu-lhe um resultado desprezível, como continuará a fazer a quem se candidatar sem promessas de vendedor de banha de cobra!

M.S. poderá estar errado em muito do que pensa e diz, mas tem um instinto que impressiona.
Com ele, Portugal não estaria acossado a cumprir diretivas de economistas tecnocratas, tolhido às mãos de medíocres, que só anseiam cumprir a voz do dono, na esperança de mais tarde serem recompensados com um posto alcatifado num gabinete de uma Europa decadente.
Pelo menos reagiríamos, "impunhamo-nos ao respeito" - pior do que perdermos os bens é estarmos a perder a dignidade!
A sua magistratura presidencial, não seria de recadinhos, de tabus, de silêncios!
Haveria algumas gaffes, inconveniências, mas estaríamos mais desencalhados, a lançar reptos na cena europeia, a mobilizar descontentamentos, a unir esforços com parceiros de infortúnio!

Pobre país que na possibilidade de um líder, prefere escolher entre patetas e poetas!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

BISMUTO, CHENOPÓDIO! HABITUEM-SE ...



São hoje em dia frequentes os artigos científicos a alertar para o uso excessivo de antibióticos, problema particularmente grave em Portugal, de que resulta uma crescente resistência bacteriana aos tratamentos e um aumento incomportável dos custos com a saúde. Múltiplos trabalhos recentes parecem sugerir que certas patologias como as otites, sinusites, faringites, poderão ter evolução clínica idêntica, nas situações em que não se recorre ao antibiótico, como agente terapêutico inicial.
Depois de uma semana em cuidados domiciliários a filhos com amigdalites, prestei atenção aos comentários da minha mãe: que eu em pequeno também era muito achacado às faringites e amigdalites e que a coisa se resolvia com supositórios de bismuto e pinceladelas da garganta com azul de metileno. Só mais tarde, pré adolescente, é que se começou a recorrer a umas injeções de penicilina, de quando em vez.
Fui então pesquisar o assunto!

O bismuto é um metal pesado, com o nº atómico 83 na Tabela Periódica, tendo a particularidade de ser praticamente não tóxico. Continua a ser usado em Medicina sob a forma de salicilato, no tratamento das diarreias, desconforto gástrico, pirose e úlcera péptica, isolado ou em associação medicamentosa.
Sob a forma de sal ou gluconato continua a ser utilizado na medicina alopática ou natural, nas afeções do foro otorrinológico (otites, sinusites, faringites ).
O azul de metileno, que dado o seu elevado potencial redutor ainda é usado para reverter as situações de metemoglobinemia, tem um efeito inibidor da vasodilatação nas situações de inflamação, pelo que se compreende a sua ação regeneradora sobre umas amígdalas hiperemiadas e dilatadas.
A penicilina, descoberta acidentalmente em 1928 por Fleming, só passou a ter utilização clínica nos anos 40, tendo produção industrial a partir de 1943. No início distribuída internacionalmente pela Cruz Vermelha, só em 1945 foi decidido que a sua comercialização em Portugal se faria nas farmácias. Nestes tempos pioneiros, conta-me a minha mãe, que quando se tinha um doente a ser tratado com o antibiótico, tinha que se deslocar diariamente ao Porto à CVP para obter o fármaco, que era transportado em embalagem com gelo e obrigava a pernoitar em casa do doente, pois a administração era prescrita de 3 em 3 horas!
Só na IV Farmacopeia Portuguesa de 1961 é que aparece referida a Penicilina, embora houvesse utilização anterior! Mas nos anos 50 e 60, ainda não se usava corriqueiramente este medicamento - amigdalites tratavam-se com supositórios de Bismucilina e zaragatoas de azul de metileno ou de Anginol (um composto iodado).
Neto de farmacêutico e com infantário feito na Botica, quis saber que mais tomava eu em pequeno: - óleo de ricino com essência de chenopódio e hortelã de pimenta, era o que toda a criançada tomava regularmente para "as bichas".
Nova pesquisa e lá encontro nas medicinas naturais o extrato de chenopódio, planta abundante na Natureza, com importante efeito anti-helmíntico!

A Botica que eu frequentei em pequeno, era mais das medicinas naturais, que uma distribuidora da Industria Química.
Para além dos curativos, suturas, drenagem de abcessos (pelos vistos os mamários eram muito frequentes no puerpério e eram drenados após três dias de compressas com óleo de linhaça), também se curavam fraturas, com talas artesanais e sem Rx.
Os casos mais difíceis tinham a colaboração dos clínicos da região, que utilizavam as instalações da Farmácia para executarem as ações mais arriscadas.

O tempo trouxe progressos, mas também desprezo por muitos procedimentos ancestrais, que o deslumbramento pelo progresso da química e da indústria acelerou.
Algumas destas práticas persistem e têm sucesso alojadas na Medicina Alopática, mas o que se me afigura mais importante seria recuperarmos a capacidade de refletir e atuar com sabedoria, que um tempo mais lento e com menos pressão comercial, permitia.
Muitas patologias - a obesidade, a hipercolesterolemia, a hipertensão, a diabetes, a depressão, ... -  que ensombram a vida contemporânea e são um escoador sem fim dos recursos materiais da nossa sociedade, poderão ter abordagens diferentes daquelas que se impuseram como norma!

Mudar de vida é mais difícil que tomar uma pílula milagrosa, mas seguramente mais saudável, eficaz e de efeito mais duradouro.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tapetes (2) - Gabbeh

Em farsi (o idioma da Pérsia), a palavra significa bruto ou natural, ou "em bruto".
Os Gabbeh são os tapetes persas mais conhecidos no mundo.
São tapetes tribais, de origem nómada, originários das tribos Qashqai, tradicionalmente tecidos para uso pessoal, estando muito presente a interpretação artística pessoal do artesão, habitualmente mulher.
Característicamente são muito espessos, atingindo em regra os 2,5 cm de altura e são tecidos numa densidade relativamente baixa, aproximadamente 40 000 - 90 000 nós por m².
Os desenhos são tipicamente geométricos e simbólicos, podendo contar uma história, retratar uma paisagem ou cena, ou mesmo transmitir uma emoção.
É este processo subjetivo e aleatório, em que o artesão transmite a sua história, que torna a Gabbeh uma obra de arte completamente original, distinto de outros tapetes persas e de muitos outros tipos de tecelagem.

Os Gabbeh geralmente são tecidos em teares horizontais, que podem ser montados rápida e facilmente - uma necessidade para os povos nómadas. São manufaturados a partir de lã local e usando tintos vegetais. Os corantes extraídos de plantas nativas e das raízes, são formulados a partir de receitas tradicionais que têm sido desenvolvidos ao longo dos séculos. Casca de romã, casca de noz, de raiz de ruibos e indigo são alguns exemplos de matérias-primas utilizadas. As cores são caracteristicamente vivas - vermelhos, verdes, amarelos, azuis - e irregulares, resultando numa colagem de cores semelhantes, o que dá Gabbeh sua textura rica e sublinha a sua origem nómada inconfundível.
Existem vários tipos de Gabbeh sendo os mais conhecidos o Base e o Kashkoli Gabbeh, caracterizados por uma textura fina e desenhos esparsos, simples e coloridos.

Na apreciação da qualidade de qualquer tapeçaria artesanal, a densidade dos nós, são um parâmetro básico. Pode-se facilmente calcular a densidade contando o número de nós num quadrado de 1 cm de lado (nas traseiras do tapete) e de seguida multiplicar por 10 000 para obter o número de nós por m².
Alguns vendedores de tapetes exageram a densidade de nós, por isso para se assegurar da qualidade do artigo, vale a pena verificar pessoalmente.
Atualmente a maioria dos gabbeh que se encontram no mercado, são de origem Indiana ou Paquistanesa, sendo a principal diferença a qualidade da lã e a utilização, por vezes, de corantes químicos e são geralmente identificáveis pela trama ser em algodão. Embora sejam habitualmente de origem artesanal,  não é de excluir a possibilidade de recurso a métodos industriais na confeção. Os preços dos Indian Gabbeh também são incomparavelmente mais baixos.
Mas mesmo um Persian Gabbeh original, tem um valor acessível quando comparado com outras variedades persas (embora possa ser muito valorizado pela antiguidade e originalidade), pelo que é um tapete adequado para um apreciador que se queira iniciar neste gosto.

Para enquadrar!



Com legendas em português, entrevista ao TED de Julian Assange, em Julho de 2010.

Na Alemanha, país em que a seriedade é levada mais a sério que na bacia do Mediterrâneo e em que o escrutíneo público é maior, já rolou uma cabeça, em consequência da divulgação dos primeiros telegramas diplomáticos. Ver aqui.

Doutores da Mula Ruça



Nas poucas vezes que escrevi neste blog sobre assuntos que domino melhor, em virtude do meu percurso académico e profissional, em que me permiti opiniões mais fundamentadas e menos "universais", despertei variadas reações de intolerância, a remeterem-me para a "minha ignorância sobre o tema".
Fiquei surpreso com tantos "doutores da mula ruça", mas a verdade é que juntamente com os "engenheiros de obras feitas" e os "treinadores de bancada", são dos profissionais em que o país mais é pródigo!

Esta expressão. usada regularmente em Portugal, é como é sabido, dirigida em tom sarcástico e pejorativo, às qualificações académicas do visado.
Mas o que nem todos saberão, é que ao contrário das outras expressões do género, o "Doutor da Mula Ruça" existiu mesmo.
Em 1534, o livro da Chancelaria de El Rei D.João III refere-se-lhe explicitamente. António Lopes, que exercia medicina na cidade de Évora, teria alegadamente estudado medicina em Alcalá de Henares, mas não possuía qualquer comprovativo.
Figura popular na região, entre outras razões por se deslocar sempre na sua mula ruça, era contestado pelos físicos diplomados que o tentavam impedir do exercício da medicina.
Sendo D.João uma visita assídua da cidade, dirigiu então António Lopes uma petição ao Rei, pedindo-lhe que o seu médico principal pudesse testar os seus conhecimentos de ciência médica, facto que terá efectivamente ocorrido segundo o extracto do livro da Chancelaria:
"Dom Joham III a quantos esta minha carta virem, faço saber que o doutor António Lopes, físico de Évora, me apresentou ua carta do doutor Diogo Lopes, meu físico moor, de que o theor de verbo é o seguinte: O doutor Diogo Lopes, comendador da Ordem de Christo e físico moor del Rey Nosso senhor em seus regnos e senhorios, faço saber a quantos esta minha carta de doutorado virem como por António Lopes, físico da mula ruça, morador em esta Évora, me foy apresentado hum allvará dellRey nosso senhor, por sua alteza assygnado e passado per sua chancelaria do qual o trellado he o seguinte: Eu ell Rey, faço saber a vós Doutor Diogo Lopes seu fisico moor, que António Lopes, físico da mula ruça, morador en esta cidade, me dice por sua petiçam que elle estudou nove ou dez annos no estudo de Alcala de Henares."

E com esta conseguiu o doutor da mula ruça que o não impedissem do seu exercício profissional e além do mais ficar imortalizado, ainda que jocosamente.
(O método usado para a certificação, hoje muito em voga, é o da citação circular e desresponsabilizante - o rei cita o seu médico, que por sua vez cita o rei, que mais não fez que citar o requerimento.)

Quase 500 anos depois, um engenheiro diplomado num fim de semana, inspirado na benevolência de Dom João III, criou as Novas Oportunidades, institucionalizando a certificação de todos os candidatos a doutores, que apresentem petição.

sábado, 4 de dezembro de 2010

let it snow, let it snow, let it snow



A anunciar a época da neve e do Natal, deixo aqui ligação para 37 fantásticas fotografias!
Para prazer dos olhos ...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

HERÓIS CONTEMPORÂNEOS

Julian Assange, WikiLeaks founder

Julian Assange está para o presente, como Che Guevara para os anos 60 do século XX.
Tem tudo para se transformar num ícone da alvorada do sec XXI - enfrentou o poder estabelecido a uma escala impensável, expondo a hipocrisia e o cinismo que cimentam a política das grandes potências e seus líderes; conseguiu ter atrás de si os mais importantes serviços secretos do Mundo; movimenta-se com mestria e segurança na selva contemporânea, a Internet.
De origem Australiana, é neste momento um pária internacional, depois das declarações do seu primeiro ministro, que considerou que tudo faria para o deter, mostrando-se disponível para colaborar com o Departamento de Estado Norte Americano.
Com a cabeça a prémio, ouvimos mesmo nos últimos dias Tom Flanagam, conselheiro do primeiro ministro Canadiano, apelar à sua eliminação física, incitando Obama a declarar-lhe uma Fatwa, em estilo ocidental.

Sendo a face visível da organização Wikileaks, que desde há três anos ensombra a vida das diplomacias e serviços secretos de todo o Mundo, já tinha mostrado um papel relevante ao denunciar os abusos americanos nas guerras do Iraque e Afeganistão, mas atingiu a ribalta com a divulgação, em curso, de 250 000 mensagens entre embaixadas americanas.
Tendo conseguido até agora ficar ileso a todas as investidas legais à sua pessoa, obrigou as suas vítimas a mudarem de tática, sendo agora alvo de um mandado de captura internacional por assédio sexual, passando a valer tudo para o tirar de cena.

Embora algumas das críticas que se fazem à Wikileaks, tenham sentido (a diplomacia, necessita de um véu de secretismo para poder ser eficaz, mesmo quando labora em boas causas), Assange defende-se coerentemente (as divulgações são precedidas de edição e avaliação prévia por mais que um interveniente), e aumenta a sua aúrea de herói romântico e revolucionário, cavaleiro da verdade contra o cinismo.
E na sua cruzada vai expondo as debilidades das democracias ocidentais, como aconteceu esta semana quando a Amazon impediu o acesso ao seu servidor, confessando pressões do Governo Americano.
A wikileaks encontrando soluções expeditas para ultrapassar o boicote, ainda  vem com fair play dizer que só tinha recorrido a certos servidores, para dessa forma denunciar como entidades pretensamente livres, estão dependentes do poder político!

Num mundo desencantado, carente de causas, eis um David que enfrenta Golias e traz um alento para os inconformados desta Nova Ordem Económico/Estratégica Mundial.

Aqui encontrará um site do jornal Guardian, onde Julian continua a responder às questões que lhe são postas e a manter-se visível para o Mundo.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tapetes


Ao ler recentemente uma entrevista de Luís Portela, líder da Bial, ao Expresso, fui surpreendido pela sua crença na reincarnação.

(Clara Ferreira Alves: O que acha que lhe vai acontecer quando morrer?
Luís Portela: Estou no mundo-escola e parece-me primitivo entender que numa única passagem pela terra vou tudo aprender.
Parece-me que não, parece-me que estou numa de múltiplas passagens.
Acredito profundamente que existe algo além da vida física e que existem vidas sucessivas.
Como também me parece limitativo pensar que a terra é o único planeta habitado.)

Eu que há muito brincava que devia ter sido comerciante de tapetes numa existência anterior, vou tentar colmatar a partir daqui a minha ignorância sobre o assunto, que mesmo que já não me venha a ser útil nesta vida, poderá ajudar numa futura ...

O tapete que ilustra estas notas, o mais antigo de que há conhecimento, foi encontrado numa escavação arqueológica, em 1949, entre o gelo do vale Pazyryk, no túmulo de um príncipe cita, nas Montanhas Altai, na Sibéria.
Testes com carbono-14 indicaram que o tapete Pazyryk foi tecido no século V a.C.. Este tapete tem 2,83 por 2,00 metros e tem 36 nós simétricos por cm².
A avançada técnica de tecelagem usada no tapete Pazyryk indica uma longa história de evolução e de experiências nesta arte. A sua área central é de cor vermelho escuro e tem duas grandes bordas, uma representando um veado e a outra um cavaleiro persa.
Acredita-se que o tapete de Pazyryk não seja um artesanato nómada, mas sim um produto de um centro de produção de tapetes aquemênidas na Pérsia.

Começo assim pelo princípio, 2500 anos atrás, mas prometo voltar regularmente aos tapetes. Mesmo que nunca tenha sido um mercador persa, da próxima vez que regatear um preço, seja nas bordas do Sahra, em Cachemira ou Karachi, sempre saberei melhor do que estou a falar!

FFFF


Dizia-se antigamente que o Estado Novo promovia os três Efes, para manter o povo obediente e desinteressado da política e de outras matérias que o pudessem desalienar!
Nada mais errado - o tempo veio provar quão preconceituosa era esta teoria!
Tendo a ditadura arrumado as botas há 36 anos, a pujança de qualquer destes vetores estruturantes da nossa vida cultural, social e simbólica, está mais firme do que nunca.

Não fosse o Fado deste povo ser desgraçado e pobre, talvez outra sorte nos sorrisse!
Não fosse a motivação que o Futebol, na sua complexidade, desperta no lusitano e talvez já nem sequer fosse capaz de sair da cama todas as manhãs!
Não fosse Fátima e a Igreja que a promove e ainda pior estariam todos os desamparados pela crise, que vêm o Estado Social sair sorrateiramente de cena.
Mas agora, como dantes, há um quarto F que adjetiva a sorte deste Povo.

A ilustrar esta desafortunada nota, tenho uma reprodução da imagem da Nossa Senhora de Fátima, da autoria de João Cutileiro e comercializada pela Atlantis aquando da visita do Papa Bento XVI à Cova da Iria.
Desconheço o sucesso comercial da obra, nomedamente nos conventos, mas não poderia ser mais adequada para simbolizar o novo F que caracteriza a situação em que se encontra o País e os seus habitantes.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Clube de Leitura

OS FILHOS DA MEIA - NOITE  -  SALMAN  RUSHDIE

O Clube de Leitura que aparece referido na banda direita desta página, é uma iniciativa que consiste em ter um livro à leitura, cada quatro semanas.
Se algum dos visitantes, tiver reflexões ou outros aportes sobre o livro na estante, está convidado a deixá-los em comentários, com a promessa de serem publicados como posts aqueles que apresentarem mais consistência.

O romance "Os filhos da meia noite", publicado originalmente em 1980, ganhou no ano seguinte o conceituado prémio de literatura em línga inglesa "Booker Prize". Em 1993, foi premiado com o título "Booker of Bookers Prize", conferido ao melhor livro publicado nos primeiros vinte e cinco anos deste prémio, tendo reeditado em 2008 o galardão, de Booker dos primeiros 40 anos.
A história da Índia moderna, a partir de sua independência em 15 agosto de 1947, é a base do romance de Salman Rushdie que utiliza como fio condutor a troca de dois bebés, um de família hindu e outro de origem muçulmana, nascidos exatamente à meia-noite. Uma das crianças, Salim Sinai, o hindu pobre criado por engano numa rica família muçulmana, é o narrador do romance.
A trajetória de Salim Sinai começa, para ser exato, em Caxemira durante a primavera de 1915 quando seu avô, o jovem e recém-diplomado dr. Aadam Aziz, bate com o nariz em um montículo de terra endurecida pela neve durante as suas orações: "Três gotas de sangue saltaram de sua narina esquerda, endureceram instantaneamente no ar gelado e caíram, diante de seus olhos, transformadas em rubis, sobre o tapete de oração. Jogando o corpo para trás, até ficar com a cabeça novamente ereta, ele percebeu que as lágrimas que lhe haviam surgido nos olhos também tinham se solidificado; e naquele momento, enquanto desdenhosamente afastava os diamantes dos cílios, ele decidiu que nunca mais voltaria a beijar a terra por nenhum deus ou homem. Essa resolução, criou um buraco dentro dele, um vazio numa câmara vital interna, deixando-o vulnerável às mulheres e à história."

O romance "Os filhos da meia-noite", de Salman Rushdie, sobre a independência da Índia, está ser adaptado para cinema pela realizadora Deepa Mehta.
O argumento é escrito pelo próprio Rushdie em colaboração com a realizadora, nascida na Índia e naturalizada canadiana.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sócrates em dia de greve!



      O HOMEM INVISÍVEL!

Há quem lhe chame outra coisa!

Conversa de café!



Tenho andado aturdido (ou azonzado, como diz o meu filho!) sobre a bipolaridade do discurso público em Portugal.

A queirosiana perspetiva "da choldra", tem-se vindo ultimamente a impor no discurso crítico dominante, em variadas versões, algumas muito lúcidas e vai sempre desaguar na solução de sempre - nada se resolverá enquanto não vier alguém de fora pôr mão nisto!
De acordo com esta visão, com mais de cem anos de tradição, este grupo de Iberos é ingovernável ( "não se governa, nem se deixa governar"*), é responsável pela sua própria desgraça e nada fará para sair dela (ainda ontem em artigo do Le Monde, se vaticinava que os portugueses caminham inexoravelmente para a pobreza coletiva).

Por contraposição existe uma tese desculpabilizante que atira para "os Outros" a responsabilidade dos nossos males - seja a crise internacional, a globalização desenfreada, os mercados soberanos, a Alemanha ou o FMI. Nesta leitura da realidade, somos sempre vítimas de campanhas conspirativas, pelo que nada podemos fazer, nem nos devemos preocupar com o assunto, porque o "Outro" é que terá de o fazer.
Nesta corrente de pensamento, muito antes de Boaventura Sousa Santos, foi mestre um bêbado da minha aldeia, de apelido sugestivo "O Fadista", que se endividava para além do passível de ser algum dia saldado, para fundamentalmente beber e jogar, em pose de grande senhor, no Casino. E quando se lhe perguntava se isso não lhe tirava o sono, respondia o Fadista: "Eu durmo bem e satisfeito que até levo uma boa vida! O que me custa a perceber é como os gajos que me emprestam o dinheiro, conseguem dormir!"
(A história é verídica e o Fadista morreu atropelado numa berma de estrada numa noite de maior felicidade, deixando um imensidão de financiadores frustrados e sete filhos sem ter de comer!).

O discurso oficial tem oscilado entre as duas versões, no seu situa"cinismo" cada vez menos convincente, mostrando-se incapaz de definir um rumo político para o País e resumindo o seu objetivo ao tentar manter-se à superfície! Convém lembrar que os mortos, quando começam a decompor-se também flutuam, sem que isso signifique nada de bom!

Ora do meu ponto de vista ambos os discursos têm aspetos corretos e estaríamos na altura de fazermos uma síntese de superação do dilema.

 Se uma instituição bancária abre falência seja por erros de investimento, fraude ou consequência de especulação desenfreada, não compete ao Estado, em nome de todos nós, ir a correr salvar o moribundo - apenas lhe compete honrar as suas obrigações legais, isto é, accionar e cobrir as garantias dos depósitos e gerir o processo de falência!
Se foram os bancos alemães ou franceses ou ingleses que vão ficar a perder, tanto pior para eles, que fizeram aplicações que se revelaram pouco assisadas! Agora endividar-nos a nós todos, para salvar o sistema financeiro do "risco de contágio" (mito por demonstrar que tem dado cobertura a todos os desvarios) e depois ir mendigar a esse mesmo sistema que nos financie o dia a dia, isso não!

Culpar os especuladores internacionais dos juros insustentáveis da dívida, sem que se consiga inverter a situação de dependência quotidiana da nossa economia, lembra-me o toxicodependente que em vez de deixar o vício, insulta o traficante por aumentar os preços da dose. E também nesse caso não falta quem desculpabilize o drogado - pelos problemas de infância, o contexto social ou psicológico, porque é um doente ... e que deveria ter acesso a doses gratuitas em salas de chuto decentes.

Só sairemos deste ciclo vicioso se formos capazes de mudar de vida, adaptando os nossos padrões de consumo às nossas possibilidades!
Só negociaremos com os nossos credores de cabeça levantada se soubermos que cada vez menos dependeremos deles!

O que se passa infelizmente está muito longe disto - e execução orçamental deste ano mantém o mesmo nível de despesa do ano anterior, apesar dos PECs, das ameaças e dos compromissos. Continua-se à espera de resolver o problema à custa de receitas extraordinárias - só que quando acabarem os anéis, começam a ir os dedos. E já estamos perto das amputações.

Competiria aos lideres, não só por questões de exemplo moral mas porque de fato estão nas suas mãos as decisões mais difíceis e importantes, passarem a não transigir com qualquer despesa que não se revele essencial, mesmo quando isso contrarie hábitos e ideias feitas!
E esperar que por evidência esta atitude contamine os cidadãos, quando finalmente estes perceberem duas coisas - que a situação é de facto insustentável e que depende de nós a sua solução (contrariando as duas correntes de racionalização conhecidas: a que desculpabiliza os portugueses - "a culpa é dos outros" - e a que acha que só alguém de fora vai endireitar isto - "porque isto é uma choldra"!

Advogo pois uma terceira via, a da responsabilidade e da dignidade, uma verdadeira revolução cultural!
Isto implica que todos se sintam mobilizados para discutir os assuntos públicos como seus - que nos preocupem mais as finanças públicas, que o enredo das novelas, que sejamos tão intolerantes com os políticos que erram ou roubam, como somos com os treinadores que não conduzem o nosso clube à vitória, que houvessem multidões a acenar lenços brancos numa visita de um ministro que não atingisse os objetivos propostos, que se entrasse num café e se ouvissem acaloradas discussões sobre a execução orçamental ...

Será isto possível? Possível é ...!
Ficaremos mesmo mais pobres?, haverá fome?, insegurança pública?, perda da independência?, retrocesso civilizacional?  É mesmo muito possível!

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*«Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!» - escrito no séc. I ou II a. C. por um general romano em serviço na Ibéria, em carta enviada ao Imperador. A autoria da frase passou mais tarde a ser atribuída a Caio Júlio César.

Porque é demasiado belo para se perder!



Encontrará aqui 47 fotografias do Concurso Anual da National Geographic, que só por si valem o dia!
De lá poderá aceder ao site da NG para votar até 30 de Novembro!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

VIDA INACABADA



Filme de 2005 de Lasse Hallström, realizador sueco que tendo começado por produzir videoclips para os Abba, é hoje um dos mais bem sucedidos de Hollywood ("Chocolat", "Shipping News", "Casanova", "Cider House Rules/Regras da casa", tendo dirigido recentemente Richard Gere - "The Hoax"(2007), "Hachico"(2009)).
Neste filme com Robert Redford (nasc.1936), Morgan Freeman (nasc. 1937) e Jennifer Lopez (nasc. 1969), aborda a questão da perda, da culpa e da dificuldade de as ultrapassar.
Robert Redford um veterano com 64 presenças como ator e 8 títulos como realizador (foi óscar de melhor realizador, logo no primeiro - "Gente Vulgar"- em 1980), assume aqui  o ideal de uma América rural, políticamente incorreta, de gente crua mas humana, na senda de Clint Eastwood (nasc.1930, 66 presenças como ator e 35 filmes realizados desde 1990),  a que cada vez mais se assemelha.
Morgan Freeman (89 filmes), contemporâneo de Redford, assume com este uma relação muito idêntica à que tem com Clint Eastwood em Million Dollar Baby (2004) - é o elemento humanizador, capaz de vergar a personalidade difícil do durão desencantado com a vida, de convocar pela sua frontalidade e fraternidade,  a alma sensível que se esconde atrás dum carácter aparentemente inacessível. Aliás também o faz em "The Bucket List/Nunca é Tarde Demais" (2007), com Jack Nicholson, outro insuportável ego, que aceita que Freeman o redima, obrigando-o a acertar as contas com a vida.
Têm todos estes três filmes muito de comum - três personalidades fortes, de herói americano clássico (Marlboro Man assumido no caso de Redford neste filme), indiferentes ao que os outros possam achar das suas vidas, mas todos eles com questões por resolver e a quem a personagem de Morgam, simples, tolerante, capaz de perdoar, aparece como anjo redentor, conseguindo quase anónimamente trazê-los à razão e põ-los de bem com os outros e consigo próprios.

Eu que tenho um fraco por corações empedernidos e acredito em anjos da guarda, gosto de ver estes filmes num domingo à tarde e deixar-me emocionar.
Quem dera o mundo fosse assim, de gente difícil, mas curial, passível de se regenerar ...

domingo, 21 de novembro de 2010

NYCO - Perto da Perfeição



The NYCO is:  Marty Ehrlich (reeds), Doug Wieselman (reeds), Briggan Krauss (alto sax), Douglas Yates (reeds), Andy Laster (bari sax), Riley Mulherkar (trumpet), Zubin Hensler (trumpet), Ron Horton (trumpet), Chris Stover(trombone), Andy Clausen (trombone), Mark Taylor (french horn), Robin Holcomb (piano, conductor),Wayne Horvitz (piano, conductor), Lindsey Horner (bass), and Bobby Previte (drums).

Ensemble formado em 1986, com apenas dois registos publicados (1990,1992) a New York Composers Orchestra, reuniu-se de novo para celebrar o seu 25º Aniversário, para um concerto duplo em New York (26 Outubro de 2010), tendo vindo ontem encerrar o Guimarães Jazz 2010.
Integrando a quase totalidade dos seus fundadores, este coletivo de 13+2 elementos (Robin Holcomb e Wayne Horvitz - foto e principal mentor- na direção), fechou de forma memorável o festival.
Trata-se de um conjunto de músicos maduros, excelentes intérpretes, confortáveis em variados registos estilísticos, que sobre as peças escritas interpretadas, mantiveram uma dinâmica improvisadora coerente, adequada, sem excessos exibicionistas.
Com um som a remeter tanto para as suites de metais de Stravinsky, como para  Ellinghton ou Mingus, sem abdicar de evocar toda a história do Jazz (pareceu-me ouvir até Sun Ra), resultou uma estética final comporânea e culta, onde porém a emoção continua a ter o seu lugar.
Alternando momentos de orquestra de câmara erudita, com celebrações free, o duo rítmico de Lindsey Horner e Bobby Previte, manteve sempre uma linha condutora bem sinalizada, sem qualquer risco para o público se perder.
Jazz intelectual, branco (um negro em quinze), urbano down town, académico, mas sem ser pretensioso, frio ou amnésico.
Música a assumir todo o passado e a revelar muito do futuro.
Música perto da perfeição!

(A Orquestra de Jazz do ESMAE, que tocou à tarde, a apresentar o resultado dum trabalho de uma semana, com os jovens músicos do grupo também novaiorquino The Story, soou muito agradávelmente e garantindo a esperança dum futuro rico para o Jazz em Portugal. Mas também ajudou, ao servir de referência, a perceber que a NYCO, está num plano incomparável, a que talvez um ou outro destes jovens possa um dia ambicionar aceder!)

(Mais tarde ainda houve jam session, com the Story e ..., e festa de encerramento! Um festival é mais do que uma soma de concertos - e em Guimarães notava-se uma mobilização da cidade em torno do evento (nos bares, restaurantes, salas de exposições, turismo). Um bom exemplo!)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Olhe-se para o que fazem, não para o que dizem!


Jean Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 1712.

Filho de protestantes, perdeu a mãe durante o parto. Aos 10 anos, foi entregue pelo pai a um tio, que por sua vez, o entregou a um padre, com o qual, teve uma infância infeliz.
Na adolescência, após um breve período de vagabundagem, entrou num reformatório em Turim. Em seguida tentou, por várias vezes, ser acolhido num seminário. Frustrado com as repetidas recusas, saiu da Suíça em 1730 e foi para França, onde se estabeleceu em Paris, no ano de 1742.

Na cidade conheceu Denis Diderot e tornou-se um dos muitos colaboradores da Encyclopédie. Rousseau ainda escreveu alguns artigos sobre a música, sua grande paixão, mas com a publicação do seu romance "Émile ou de l'éducation" (1762) entrou em conflito com as autoridades francesas, razão pela qual fugiu para Inglaterra em 1766. Um ano depois retornou à França protegido por um nome falso.

Em 1768, casou-se com Thérèse Levasseur, sua amada de longa data, com quem teve cinco filhos, todos entregues à adoção, devido à situação financeira do casal.
Morreu em 2 de julho de 1778, em França. Entre suas obras, as escritas em 1762, "O Emílio ou da Educação" e o "Contrato Social", são as que apresentam maior conteúdo pedagógico.

Em "Emílio", espécie de tratado pedagógico sobre a forma de novela, Rousseau explana um método educativo ideal que deveria ser seguido na educação de uma criança. As suas ideias foram reabilitadas durante a Revolução Francesa e inspiraram o sistema educativo então implementado. Rousseau foi durante a revolução homenageado com o translado dos seus ossos para o Panteão de Paris.
As ideias pedagógicas de Rousseau, que estão na origem do pensamento iluminista e moderno de educação, assentam no princípio que o Homem é na sua origem puro e intrinsecamente bom e é a sociedade que o corrompe.

"Emílio" está dividido em cinco livros: o primeiro, aborda o período da educação do nascimento aos cinco anos, defendendo que a sua ama o deverá amamentar e tudo fazer para não contrariar a natureza do pequeno ser; o segundo, debruça-se sobre a infância (5 aos 12 anos), realçando que a aprendizagem não se deve fazer pelos livros, mas assentando na exploração dos
sentidos e promovendo um sistema dedutivo espontâneo, que não condicione a pulsão natural; o terceiro livro, sobre a adolescência (12 aos 15 anos) incide sobre a escolha de uma profissão, que entende deve ser manual, para não deixar o intelecto submergir o natural; o quarto livro, sobre a puberdade, aborda as questões do amor e da fé e foi o que esteve na origem das principais controvérsias, que levaram à proibição e queima dos seus livros em França e na Suiça. O quinto livro aborda a educação de Sofia, a “mulher ideal” e futura esposa de Emílio e a vida doméstica e civil deste.

Sendo J.J.Rousseau, um intelectual e incapaz de criar qualquer um dos seus cinco filhos, como se tornou o fundador da moderna pedagogia ocidental, enaltecedora de um homem "natural", não condicionado pelos livros e pelas ideias?

Foi nesta preversão original que entroncaram muitos dos mal entendidos contemporâneos!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Para refletir!



Do artigo do jornal Público de 5 de Junho de 2010:
"Primeira grande surpresa do relatório anual de Avaliação da Actividade das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), que na próxima segunda-feira será apresentado nos Açores: um em cada cinco menores com processo instaurado é estrangeiro.
Segunda grande surpresa: o ano fechou com mais duas mil crianças retiradas às famílias do que em 2008. Mais precisamente, 2724 menores foram encaminhados para instituições (2510) ou para acolhimento familiar (214). Bem mais do que em 2008, ano em que apenas 701 foram forçados a deixar quem não os protegia: 625 para instituições e 75 para famílias de acolhimento.
O volume processual global alcançou o valor mais alto de sempre: 66.896."
(Comentário: um aumento de retiradas de quase 400% num ano!)

Da reportagem do i de 31 de Agosto de 2010:
"Cavaco Silva fez ontem a primeira visita oficial ao Refúgio Aboim Ascensão, em Faro. Reconhece que o modelo de emergência infantil que o centro lançou há 25 anos talvez seja demasiado pesado para as finanças do país.
Historicamente, defende Villas-Boas, “o que temos é este modelo criado há 25 anos e o que o dominou sempre, de internar crianças entre quatro paredes até aos 18 anos”.
A visão de Cavaco Silva contraria o balanço positivo do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, no relatório anual sobre os jovens em instituições de acolhimento divulgado em Abril.
Segundo o último protocolo de cooperação, assinado em 2009 entre a CNIS, a União das Misericórdias Portuguesas e a União das Mutualidades, com um reforço de 12% em relação aos montantes de 2008, prevê a comparticipação financeira de 469,11 euros por utente/mês nos Lares de Crianças Jovens – cerca de 36 milhões de euros por ano quando multiplicado pelas 10 mil crianças no sistema."
(Comentário - um ordenado mínimo por menor institucionalizado! A maior parte das famílias de onde provêm estes menores não terão o mesmo para vários elementos!)
 
De notícia do Público de 6 de Setembro de 2010:
"Nos primeiros oito meses do ano, a Brigada de Investigação e Averiguação de Desaparecidos da Polícia Judiciária recebeu 856 queixas, a maioria das quais (623) relativa a adolescentes com mais de 12 e menos de 18 anos, revelou à Lusa Ramos Caniço, director da Unidade de Informação e de Investigação Criminal.
Ramos Caniço destacou o facto de 478 das participações de adolescentes desaparecidos se referirem a jovens institucionalizados, que desaparecem várias vezes por ano dos centros educativos e citou o caso de um menor que fugiu 27 vezes de um centro."
Comentário: 75% das fugas de jovens provêm de um universo restrito de alguns milhares institucionalizados. Isto será indicativo do grau de satisfação das crianças institucionalizadas?"

De artigo do Diário de Notícias de 12 de Outubro de 2010:
"Só no ano passado, os pais sinalizaram às comissões 2342 situações de filhos em risco."
“Os pais vêm pedir para ficarmos com os miúdos porque sentem que a única solução é o seu acolhimento. Se a criança tem mais de 12 anos e se opõe, o internamento tem de ser decretado pelo tribunal”, acrescenta António Fialho, juiz do Tribunal de Menores do Barreiro. “Estas crianças não praticaram crimes para necessitar de internamento no sistema tutelar educativo mas encontram-se em risco. São causadoras do seu próprio risco. São marginais e os pais pedem ajuda para resolver o problema, entregando-os.”
Comentário: Os pais entregam ao Estado os filhos para este cuidar deles. São estes os verdadeiros filhos de Rousseau?

Saiba dizer não!



A maioria das pessoas, quando se trata de Cuidados de Saúde, pensa que mais cuidados, significam melhores cuidados, mas muitos estudos provam justamente o contrário!
De acordo com este artigo no The New York Times (Leonhardt D, April 6, 2010),  quando mais, significa exames e tratamentos desnecessários, novos riscos surgem para os doentes, com consequências na sua saúde, isto para além da escalada insustentável de custos do Sistema de Saúde.
O artigo, que se recomenda na íntegra (link acima), cita um estudo recente que calcula em 15000, o número de mortes desnecessárias resultantes da exposição anual à radiação pelos TACs realizados nos Estados Unidos, dado o acesso fácil a este exame, para esclarecer qualquer sintoma ligeiro ou dor passageira.
Para o sucesso de qualquer sistema de saúde, advoga que a cultura "do fazer tudo e mais alguma coisa" tem que acabar, embora reconheça que é mais fácil dizer que fazer.
Apresenta 3 sugestões para esse objetivo ("mais cuidados não são melhores cuidados"!) -
1) refletir mais acerca de quando e como uma investigação e um tratamento trazem benefício para o doente;
2) fornecer aos doentes, informação realista acerca dos tratamentos;
3) orientar a avaliação económica da Medicina para indicadores de melhores cuidados, em vez da contabilização da quantidade de cuidados!
Sugere ainda que deverão ser os doentes, a impor limites nos exames e tratamentos a que serão sujeitos, pois são eles os verdadeiros interessados e se deixarem nas mãos dos médicos e da indústria farmacêutica, tal nunca acontecerá!

Quanto a este último aspeto, tenho sérias reservas, pelo menos no nosso contexto social e cultural!
Se não forem os profissionais de saúde a autodisciplinarem o consumismo médico, estou convencido que este continuará a aumentar entre nós, já que muitas vezes funciona mesmo como compensação de frustrações de natureza económica e mesmo emocional de muitos utentes (entendido num contexto de acesso universal!)
Isto para além de que a cultura "do fazer tudo e mais alguma coisa" é de facto popular entre nós, embora não tenha sido sempre assim!
Um bom exemplo é o da taxa de cesarianas em Portugal , em crescimento imparável, que já apresenta valores acima dos 35%, embora haja maternidades com taxas de 80% (sic Ministra da Saúde). A média europeia andará ligeiramente acima dos 20%, mas a mais contida Holanda tem um valor de 15%.
Uma cesariana é um parto que em circunstâncias normais é prejudicial quer para a mãe, quer para o recem nascido, implica uma logística e custos incomparavelmente mais altos que um parto normal (bloco operatório, dias de internamento), mas em torno do qual se desenvolveu um mito popular de que é menos cruento, mais seguro, mais cómodo!
Os médicos, pressionados pelas utentes e por razões defensivas, sentem-se muitas vezes encurralados nessa opção. (É ingénua a convicção do Grupo para a Redução da taxa de Cesarianas, de que divulgando os números das diferentes unidades hospitalares, as pessoas escolherão as que apresentem valores mais baixos. Correm o risco, penso eu, que aconteça precisamente o contrário...).
Numa altura, em que a evolução tecnológica disponibiliza um número cada vez mais específico e dispendioso de técnicas (nomeadamente na área da imunologia e da genética) e de terapêuticas (um novo antiepilético recentemente comercializado custa 10 vezes mais que os medicamentos que vem substituir e foi comparticipado a 100%(???)), com vantagens às vezes marginais, impõe-se refletir sobre o assunto, cativar profissionais e utentes para esta realidade, de forma a ser sustentável o nosso sistema de saúde, uma das poucas áreas em que nos podemos comparar internacionalmente sem complexos!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A feijões todos podem ser, mas ninguém quer!






A CPCJ - Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, é um organismo participado pelas autarquias, Ministério da Saúde, Educação, Segurança Social, forças policiais, que desempenha funções numa área tão sensível, como a das crianças vítimas de negligência, maus tratos, abandono.
Tem poderes executivos, podendo promover a retirada de crianças dos pais e  a sua institucionalização e requerer a intervenção do Ministério Público quando a necessidade de intervenção ultrapassar a sua competência.
Os seus elementos são em regra técnicos das Autarquias ou da Segurança Social(assistentes sociais e psicólogos), destacados para essa função.
Deparando-se com casos complexos, sentindo uma pressão social e dos media crescente e tratando-se muitas vezes de pessoas com pouca experiência profissional e de vida, estão na origem de uma taxa de institucionalização de crianças que põe Portugal no topo do mundo ocidental.
Já me bati contra a retirada de crianças da sua família, por terem sido espancadas pela mãe, embora considere esse comportamento ignóbil. Mas entendo que retirá-las à sua família, que não é só a mãe, são irmãos, primos, avós, ao seu bairro, aos seus colegas e amigos e colocá-la à proteção de funcionários de instituições por mais zelosas que sejam, é uma forma de violência muito mais grave e traumatizante que as surras, excepto se estiver em causa um risco de vida ou de lesões incapacitantes.
Já me bati, contra a retirada de recém nascidos aos seus pais, por estes não terem as competências sociais, culturais e económicas consideradas adequadas para os criarem, porque entendo que a promoção da orfandade, nem sempre será melhor que uma família incompetente.
Já me interroguei sobre este negócio emergente dos lares e casas refúgio, subsidiadas pelo Estado e se não distorceriam pelos seus interesses, a visão social que temos do assunto.
Já, como adivinham, fui olhado de soslaio e questionado por estas dúvidas num ambiente dominado pelo politicamente correto, a cargo de profissionais cheios de certezas.
Com isto não quero ignorar que são geralmente decisões difíceis, que envolvem riscos, que hoje ninguém parece querer correr, nem tolerar, o que leva em regra, a excessos de zelo preventivos, sem se considerar os malefícios que daí decorrem.

E é por que tudo isto mexe com vidas, que se deveria apostar em dotar cada vez mais as CPCJ de pessoas experientes, competentes e de bom senso.
Mas não - em fase de contenção de recursos, as entidades integrantes das CPCJ, começam a não estar disponíveis para cedência de técnicos e começa a adivinhar-se o seu desmembramento.
No caso concreto do Distrito de Viana do Castelo, a Câmara em comunicado de 26/10/10, retira a cedência dos seus técnicos à estrutura, pois no caso da Presidência da Comissão implicava o exercício de funções a tempo inteiro.
Em reunião ordinária da CPCJ de 27/10/10 da CPCJ, demite-se a sua Presidente e não havendo solução à vista foi proposto que qualquer elemento da Comissão Alargada (isto é representantes da Assembleia Municipal, das forças policiais,das associações de pais, etc.), que se disponibilizasse passaria a exercer a Presidência da CPCJ, sem mais delongas. E felizmente, nem assim!
É de bradar aos céus - então tanta intransigência, tanto espírito de missão, tanta elevação social, moral e ética, dá nisto!
Qualquer pessoa, independentemente da sua competência e perfil, serve?

A crise começa a mostrar o que virá aí!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cada vez menos e mais frágeis!



Existirá um inconsciente coletivo?
Este trilho que sulcamos é inconsciente ou deliberado?

Já não bastava a realidade de nascermos cada vez menos neste país, a ponto de termos entrado em regressão populacional, como dei nota há tempos, como nascemos cada vez mais desprotegidos e dependentes!
Refiro-me ao aspeto biológico, embora case bem com a vertente sociológica e económica.

Agência Lusa, hoje: Taxa de nascimento prematuro é das mais altas da Europa
Quase nove em cada 100 bebés em Portugal nascem prematuramente, uma taxa que se situa acima da média europeia, segundo dados avançados pela agência Lusa que citam a responsável do serviço de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa, Teresa Tomé. O Norte do país apresenta uma taxa de prematuridade superior à média nacional.

À nascença o português contemporâneo, além de uma dívida congénita, também tem tempo em falta e deficite de maturidade!
Com um handicap destes à partida, estamos mesmo condenados!
O último a nascer, que feche a porta!

domingo, 14 de novembro de 2010

Meditações em Bad Trip


Diz o press release, profusamente difundido: "Esta formação reúne três dos maiores saxofonistas vivos da cena jazzística mundial: Joe Lovano, Dave Liebman e Ravi Coltrane". Já mais difícil era saber que estariam em palco com Phil Marcowitz (piano), Cecil McBeee (baixo) e Billy Hart (bateria), uma secção rítmica (e mais que isso) de sonho.
Uma sala excelente (Centro Cultural Vila Flor - Guimarães), inserido num festival com uma ótima tradição de música e público.

O concerto foi uma suite em 4 ou 5 andamentos, tocada sem pausas, ao longo de 90 minutos, em torno das "Meditations Suits" de John Coltrane.
A minha impressão é que se tratou do maior desperdício de talentos de que tenho memória ter assistido.
Fruto de uma obsessão ideológico-conceptual, que retirou toda a espontaniedade aos músicos e impediu a interação criativa do coletivo, presenciamos uma música sofrida, em tom de requiem free-jazz, talvez em memória às bad trips de Coltrane na sua última fase (de onde datam as First Meditations-1965 e Meditations-1966) numa altura em que juntou o consumo de LSD ao da heroína, drogas que atormentaram os últimos anos do músico que viria a falecer em 1967 com 40 anos.
O que apesar de tudo em Coltrane era excesso, espontaniedade e recusa de regras, aqui soou a excesso de regras e formatação, em ambiente de velório de Centro Cultural.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A raparigada



Em homenagem à cultura e idade do seu autor (80 velas) e por ter a liberdade de dizer o que eu não teria coragem!

TEMPO CONTADO: A raparigada

É o mesmo que em 1984, tinha a lucidez de escrever isto!

Mario Vargas LLosa



Mario Vargas Llosa, o meu autor deste mês, nasceu em Arequipa, a cidade branca, em 1936.
"Tia Júlia e o Escrevedor", o livro que me entretém de momento, foi publicado em 1977 e relata autobiograficamente o que foi a sua vida e o seu pensamento por volta dos seus 18 anos. Namorava então a sua tia Júlia (melhor dizendo a irmã de uma sua tia), com quem efetivamente veio a casar aos 19 anos e ganhava a vida como jornalista numa rádio de Lima, enquanto estudava Letras e Direito na Universidad Nacional Mayor de San Marcos.
Detenho-me no capítulo IX onde Marito confidencia à sua prima Nancy, a sua paixão pela irmã da tia Olga, Julia. A sua prima tenta chamá-lo à razão, alertando-o para o escândalo, recordando-lhe que "a família tinha ilusões, era a esperança da tribo." "Era verdade, a minha parentela cancerosa esperava de mim que fosse um dia milionário, ou no pior dos casos, presidente da República".
" Se te casares com ela, dentro de vinte anos, ainda és jovem e ela uma avozinha", recorda-lhe Nancy, sugerindo que do que ele precisava era de alguém como ela.  Júlia já lhe tinha, aliás, dito "Na melhor das hipóteses, o nosso caso duraria três anos, talvez uns quatro, quer dizer, até encontrares a miúda que vai ser a mamã dos teus filhos."

Ora isto não é um romance, é um oráculo.
Com vinte e oito anos, Mário divorcia-se de Júlia e um ano depois, casa-se com a sua prima Patrícia Llosa, sobrinha da sua primeira mulher e com quem vem a ter 3 filhos.
Em 1990 concorre à Presidência da Republica do Perú, pela Frente Democrata, perdendo para Alberto Fujimori.
Vinte anos depois em 2010 recebe o prémio Nobel da Literatura, que para além da consagração, vale para cima de 1 000 000 de Euros.
Cumpre-se assim a vontade da "parentela cancerosa" - o Marito, torna-se milionário, já que embora tenha tentado, não conseguira ser Presidente da República.



Aqui Vargas Llosa, aparece ao lado de sua mulher, Julia Urquidi  (à sua direita), que viria em 1983 a publicar a sua réplica à Tia Júlia e o Escrevedor, em "O que Varguitas não disse".
A fotografia é de 1959, tendo "Marito" portanto 23 anos e não aparentando ter menos 11 anos que Julia. É caso para dizer parafraseando o seu alter ego novelístico, Pedro Camacho, que ainda estava muito longe daquela idade que a ciência considera ser a do apogeu de um homem - os 50 anos.
Em foto de 1959, Vargas Llosa aparece ao lado da mulher Julia Urquidi (à direita) e da jornalista guatemalteca Maria Cristina Orive