ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Saiba dizer não!



A maioria das pessoas, quando se trata de Cuidados de Saúde, pensa que mais cuidados, significam melhores cuidados, mas muitos estudos provam justamente o contrário!
De acordo com este artigo no The New York Times (Leonhardt D, April 6, 2010),  quando mais, significa exames e tratamentos desnecessários, novos riscos surgem para os doentes, com consequências na sua saúde, isto para além da escalada insustentável de custos do Sistema de Saúde.
O artigo, que se recomenda na íntegra (link acima), cita um estudo recente que calcula em 15000, o número de mortes desnecessárias resultantes da exposição anual à radiação pelos TACs realizados nos Estados Unidos, dado o acesso fácil a este exame, para esclarecer qualquer sintoma ligeiro ou dor passageira.
Para o sucesso de qualquer sistema de saúde, advoga que a cultura "do fazer tudo e mais alguma coisa" tem que acabar, embora reconheça que é mais fácil dizer que fazer.
Apresenta 3 sugestões para esse objetivo ("mais cuidados não são melhores cuidados"!) -
1) refletir mais acerca de quando e como uma investigação e um tratamento trazem benefício para o doente;
2) fornecer aos doentes, informação realista acerca dos tratamentos;
3) orientar a avaliação económica da Medicina para indicadores de melhores cuidados, em vez da contabilização da quantidade de cuidados!
Sugere ainda que deverão ser os doentes, a impor limites nos exames e tratamentos a que serão sujeitos, pois são eles os verdadeiros interessados e se deixarem nas mãos dos médicos e da indústria farmacêutica, tal nunca acontecerá!

Quanto a este último aspeto, tenho sérias reservas, pelo menos no nosso contexto social e cultural!
Se não forem os profissionais de saúde a autodisciplinarem o consumismo médico, estou convencido que este continuará a aumentar entre nós, já que muitas vezes funciona mesmo como compensação de frustrações de natureza económica e mesmo emocional de muitos utentes (entendido num contexto de acesso universal!)
Isto para além de que a cultura "do fazer tudo e mais alguma coisa" é de facto popular entre nós, embora não tenha sido sempre assim!
Um bom exemplo é o da taxa de cesarianas em Portugal , em crescimento imparável, que já apresenta valores acima dos 35%, embora haja maternidades com taxas de 80% (sic Ministra da Saúde). A média europeia andará ligeiramente acima dos 20%, mas a mais contida Holanda tem um valor de 15%.
Uma cesariana é um parto que em circunstâncias normais é prejudicial quer para a mãe, quer para o recem nascido, implica uma logística e custos incomparavelmente mais altos que um parto normal (bloco operatório, dias de internamento), mas em torno do qual se desenvolveu um mito popular de que é menos cruento, mais seguro, mais cómodo!
Os médicos, pressionados pelas utentes e por razões defensivas, sentem-se muitas vezes encurralados nessa opção. (É ingénua a convicção do Grupo para a Redução da taxa de Cesarianas, de que divulgando os números das diferentes unidades hospitalares, as pessoas escolherão as que apresentem valores mais baixos. Correm o risco, penso eu, que aconteça precisamente o contrário...).
Numa altura, em que a evolução tecnológica disponibiliza um número cada vez mais específico e dispendioso de técnicas (nomeadamente na área da imunologia e da genética) e de terapêuticas (um novo antiepilético recentemente comercializado custa 10 vezes mais que os medicamentos que vem substituir e foi comparticipado a 100%(???)), com vantagens às vezes marginais, impõe-se refletir sobre o assunto, cativar profissionais e utentes para esta realidade, de forma a ser sustentável o nosso sistema de saúde, uma das poucas áreas em que nos podemos comparar internacionalmente sem complexos!

1 comentário:

  1. Meu caro Jarra:
    Já pouco acredito que a "razão" pode condicionar a "emoção".
    São os manipuladores das emoções que estão no top, em qualquer área da sociedade.O parto e a doença são fenómenos apetecíveis para o consumo desenfreado, Uma vez que, por agora, o armamento tem menores exigências.

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