ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Razão e Ordem versus Irracionalidade e Tirania?





Acabo de ler "O Deus das Moscas", obra que não me encantou pelo seu valor "literário", mas que me entusiasmou por no seu aparente estilo de aventura juvenil, forçar uma salutar e profunda reflexão sobre questões pedagógicas, sociais e éticas. Trata-se de um livro-tese, descaradamente maniqueísta, de resto como toda a literatura, pois a objectividade é sempre a que é permitida pela perspectiva de quem escreve. 

E que pontos William Golding pretende fazer valer:
1 - A vida em sociedade implica um conjunto de regras e o seu respeito.
2 - A estrutura social implica uma liderança (natural ou imposta) e uma hierarquia.
3 - O poder tende a ser disputado balanceando a escolha entre a força da razão (a democracia, o primado da política) e a razão da força (a ditadura, o primado do autoritarismo).
4- Em situações de crise, o domínio é favorável a quem garantir a satisfação das necessidades básicas e imediatas, mesmo que a autoridade e a ordem se assegurem pela tirania e violência!
5 - A sustentação duma ditadura, assenta na exploração de uma ameaça ao grupo (aqui, "a fera", mesmo que inexistente, é pressentida como real e convoca todos os medos!).
6 - As ritualizações grupais encantatórias ( aqui a "dança da caçada") permitem submergir o discernimento individual, levando o grupo a comportamentos "incontroláveis", que seriam impensáveis num contexto de livre arbítrio.
7- A consolidação do poder despótico beneficia da culpa colectiva sublimada (a morte de Simão) e da diabolização do "outro" (os exteriores à comunidade).

Uma sociedade civilizada implica a subordinação das suas estruturas "instrumentais" (exército, finanças, diplomacia) a uma liderança baseada no interesse colectivo e bom senso (o que deveria ser a política!).
Quando se perde essa força aglutinadora e condutora, o risco de barbárie é real!
A razão pode pouco contra a força de uma massa alienada e euforizada!

Há na personagem de Rafael uma incredulidade sobre o pulsar destrutivo do grupo ( "Não. Não são tão maus como isso. Foi um desastre.") e um sentido de responsabilidade, que se lhe impõe como um imperativo ético e uma evidência ( "A fogueira é a coisa mais importante. Sem a fogueira não nos poderemos salvar. Eu também gostaria de me pintar como um guerreiro e brincar aos selvagens. Mas é necessário manter a fogueira acesa. A fogueira é a coisa mais importante na ilha"), que o impedem de se conformar com o delírio colectivo.

 Essa maldição também eu a sinto desde a sua idade e é ela que não me permite, hoje, viver despreocupado como a maioria dos meus concidadãos, que ainda agora correram aos stands de automóveis a apropriarem-se de um, antes que o país feche!

(Como terá vivido Rafael quando voltou à sua vida "normal"?
Depois da perda da sua "inocência original" nunca mais o Mundo voltou a poder ser visto pelas lentes da fantasia e do optimismo?)

Mesmo um "pessimista" como Golding não exclui a possibilidade de um milagre no último minuto - seria  também essa a minha esperança, caso a nossa vida colectiva fosse o argumento de um autor benevolente!

 Pode ser que Deus exista!

1 comentário:

  1. Pode ser que Deus exista!...
    Se existe, pela teoria mais aceite, tb nos muniu de mecanismos de salvação, os quais tardam a ser accionados ao perder a "inocência original", segundo a qual seremos sempre salvos por um "herói", desta vez bem magro: o Estado.
    Ou será que o nosso País já confunde os Deuses?

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