ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Experimentalismo Social

Professor John List

Já me interroguei muitas vezes se algumas práticas sociais tidas como adequadas e incontestáveis, não poderiam eventualmente resultar de avaliações preconceituosas, de interesses de grupos profissionais ou da simples inércia das ideias feitas.

Tomemos por exemplo uma criança com dificuldades de aprendizagem. Consensualmente se considera que se deve investigar exaustivamente a origem do problema (testes genéticos, metabólicos, sofistificados exames de imagem, avaliações cognitivas, etc, etc.), promover os apoios possíveis (professores de ensino especial, terapeutas várias, estimulação precoce, etc., etc), exigir das famílias disponibilidade permanente para frequentar hospitais, centros de apoio, associações de doentes, etc,etc.
Frequentemente deparámo-nos com contextos familiares carenciados tanto económica, como culturalmente e muitas vezes me interrogo, se uma percentagem diminuta dos recursos alocados anualmente àquela criança (dezenas de milhares de euros, com facilidade!), fosse canalizada para apoiar genericamente a família, se daí não resultaria um benefício concreto superior, para  a criança!
Só o esboço desta hipótese me expõe perigosamente aos sacerdotes do politicamente correcto e/ou a uma cada vez maior horda corporativa dependente das "políticas sociais", mas tal circunstância não nos deve impedir de pôr em causa as ideias feitas, visando sempre utilizar da forma mais racional os recursos existentes, com o melhor proveito para os seus destinatários.

 John List, um professor de economia da Universidade de Chicago, conseguiu reunir um fundo de 10 milhões de dólares, para conduzir uma experiência ( A Experiência Griffins) que envolve 600 crianças de áreas carenciadas, testando a maneira mais eficaz de apoiar o seu desenvolvimento e educação.
Embora a experimentação científica seja uma prática habitual, por exemplo, na área médica, nas políticas sociais é pouco comum desenharem-se estudos de larga escala, com metodologia científica, testando várias hipóteses de intervenção.
List dividiu as 600 crianças (entre 3 e 5 anos) em três grupos - o primeiro terá acesso gratuito a ensino qualificado, no segundo os pais ou responsáveis receberão formação de parentalidade e um subsídio anual de 7000 dólares (equivalente aos recursos aplicados no primeiro grupo) e um terceiro não terá qualquer tipo de incentivo.
O estudo monitorizado pela Universidade de Chicago e de Harvard, deverá seguir por toda a vida os selecionados, avaliando o seu aproveitamento escolar, taxas de abandono, qualificações académicas atingidas e mais tarde na vida adulta as carreiras profissionais, níveis de rendimento, registos criminais, etc.
A ideia de List, de 41 anos e no topo duma lista internacional dos mais importantes e influentes economistas com menos de 15 anos de actividade,  é que o Estado põe "demasiados ovos no cesto das crianças", esquecendo os pais.
Os primeiros resultados estarão disponíveis já este ano, mas trata-se de uma experiência com objetivos de longo prazo.

Esta experiência, quer pela sua magnitude, como pelo facto de assentar em pressupostos económicos e não pedagógicos, está certamente no centro de uma grande polémica - mas tem a virtude que é suposto a ciência ter: pôr em causa as ideias feitas, testar hipóteses, mesmo as que possam parecer mais disparatadas!
De resto experiências deste tipo, em larga escala e com orçamentos exponencialmente superiores, é o que tem sido a política de educação em Portugal nos últimos decénios, sem que aparentemente se chegue a qualquer conclusão consensual e satisfatória.

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