Praticamente há dois meses que parei a minha modesta actividade bloguista e embora as férias tenham ajudado, a razão principal do meu estado de inanição teve a ver com a perplexidade que o novo rumo da vida política e social nacional me causou.
Estou nos antípodas da mentalidade dominante que tem orientado o país nos últimos anos - sou avesso a consumismos, não me dislumbro com a novidade, gosto de maturar uma ideia antes de actuar, cultivo a prudência, odeio os lugares comuns, não aceito acriticamente as ditaduras das maiorias.
O estado de penúria em que se encontra o país, de dinheiro, mas também de princípios, foi em parte o móbil que me levou a criar este blog, numa altura em que o ambiente já me parecia asfixiante e eu sentia necessidade de uma janela aberta para respirar.
A "crise" que vive o país, é apenas o início de uma descida aos infernos, que ainda não chegou ao purgatório. E o que me levou a voltar agora à escrita foi um post da "ana de amsterdão" que lucidamente diz que "ainda muitas rotundas se farão em Portugal" (pode linkar na lista de blogs).
E é por ver os mesmos que nos trouxeram aqui, a mesma mentalidade, a mesma falta de visão, a mesma mediocricidade, agora adaptados "à nova realidade", com "novos" designíos, que eu me assusto ainda mais!
Pensando bem, não poderia ser de outra maneira, que nem nas revoluções as coisas mudam por magia, mas há outras pessoas neste país, mais clarividentes, menos corruptas, mais imaginativas, que continuam afastadas dos centros de decisão e poderiam promover novos paradigmas de sociedade.
Mas a sociedade do espectáculo aposta nos "originais", nos messias mirabolantes e as pessoas felizes, com vidas estáveis, sem vontade de "dar o corpo pela alma", estão arredadas da ribalta.
A grande diferença das sociedades nórdicas da nossa, ou melhor, onde essa diferença mais se consubstancia, é no facto dos políticos, dos directores dos organismos públicos, dos decisores, serem pessoas "normais", de andarem de transporte publico, irem ao supermercado, terem famílas para onde voltam ao fim do dia.
(Intrepretem como quiserem, mas eis uma sugestão para tese de sociologia: faça-se uma estatística de quantos "influentes" portugueses têm hábitos comuns - comem regularmente em casa, têm filhos e convivem diariamente com eles, fazem as compras de casa, etc.)
Eis porque o estado da Jarra passou de pensativa a estupefacta - como se no hardwear social obsoleto tivesse sido introduzido um novo softwear, que com o tempo se virá a revelar incompatível.
Sociopoliticamente falando vivemos tempos bons, porque cada dia que passar se encarregará de nos lembrar que no dia seguinte estaremos ainda pior!
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