ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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domingo, 2 de janeiro de 2011

É o PIB! E depois?



Na situação económica em que Portugal se encontra, com um serviço de dívida elevadíssimo, é opinião quase unânime dos economistas que sem um crescimento económico sustentado, traduzido num aumento do PIB, será impossível qualquer recuperação. Claro que consideram que se esse aumento se fizer à custa das exportações será mais virtuoso, mas quase nenhum desvaloriza a importância do consumo interno no alcançar de tão vital desiderato.
Os gráficos, a análise dos números, a ciência económica não deixam margem para dúvidas.

Sendo assim e acreditando eu que a economia é uma ciência do real e não uma divagação onanística, analisei o comportamento de dois amigos meus na passagem de ano, para perceber qual o mais patriota, qual apresentava o comportamento que mais esperança trazia ao país:

João, tem dois filhos, sente-se bem com a vida e é aquilo que se poderia chamar um cidadão pacato!
Vive numa zona rural, próxima da cidade, numa pequena quinta da qual cuida nos tempos livres. Sendo esse o seu hobby principal não tem tempo para ginásios, nem desportos radicais, mas mantém à mesma uma boa forma física. Em contrapartida, consegue ter em casa legumes da sua produção, quase biológica, uma capoeira bem fornecida e lenha suficiente para os rigores do Inverno.
Este fim de ano, combinou passá-lo em casa com dois casais amigos e respetiva prole! Um deles ficou de trazer o vinho, da sua produção, o outro as sobremesas, feitas em casa, da chila, abóbora, ovos que também produzem.
Combinaram dividir as despesas do supermercado, que foram contidas - duas garrafas de espumante, umas passas (porque nozes, avelãs, têm de casa!) e pouco mais - ao todo 30 euros a dividir pelos 3 casais!
Sexta feira à tarde passearam pelo monte com as crianças e tiveram a sorte de apanhar dois quilos de míscaros (um dos amigos é um experiente micologista!) que acompanharam na perfeição os dois galos sacrificados! Durante a noite dançaram, jogaram em conjunto e beberam um pouco mais do que o costume! Sábado mantiveram o passeio de bicicleta programado, já que o tempo esteve agradável. Conversaram, falaram da inevitável crise, mas concluíram que não iriam alterar muito o seu estilo de vida, a menos que ocorresse mesmo uma situação de caos! Os miúdos divertiram-se, eram 7 ao todo e pelas contas feitas em número exato para assegurarem a estabilidade populacional e a garantia duma velhice apoiada! Domingo despediram-se confiantes no futuro, embora apreensivos com o rumo do país!

Rodrigo, com uma idade e rendimento similares a João, é solteiro, moderno e folgasão! Não tem filhos, nem nenhuma relação estável, frequenta o ginásio religiosamente 3 vezes por semana, o que lhe dá uma aparência atlética e saudável, renova o guarda roupa todas as estações, o que o mantém atrativo e desejável,  é espirituoso, agradável e tem um fraquinho por gadgets tecnológicos - smartfone, Ipad e até não resistiu a uma PS3 este Natal, com a qual aumentou a popularidade junto dos sobrinhos.
Depois de muita cogitação decidiu que o mais adequado seria uma passagem de ano no Sul, com um grupo de conhecidos da Marta, que conhecera e de quem ficara amigo nas férias de Verão no Brasil.
Embora o orçamento previsto não fosse muito consentâneo com sua conta bancária - o décimo terceiro já fora, nas compras de Natal, a acabar de pagar as férias de Verão, na entrada para o carro que teve que comprar para aproveitar antes do aumento do IVA - mas com o recurso ao cartão de crédito era exequível. E havia que gozar enquanto não fosse proibido!
Lá abalou para o Sul, na quinta feira (baldou-se ao trabalho na sexta, mas o chefe não foi ranhoso!), e ia dormir em casa da Marta. Jantaram num espetacular restaurante de chefe, que a Marta tinha reservado já há quinze dias e com os cupões de desconto que a Marta conseguira saiu-lhe o repasto em 70 €. Encontraram-se depois num clube com os amigos com quem passaria o ano, beberam, dançaram, assistiram a uma performance e creditou mais 50 € no cartão (desculpem a picuinhice dos gastos, mas isto é um artigo de análise económica!). Antes de deitar fez contas à viagem, ida e volta 750 kms, mais portagens, esquecendo o desgaste da viatura, 150 €!
Sexta feira acordaram tarde, comeram qualquer coisa em casa ( um "brunch" - ó pinta!) e rumaram para o SPA Resort onde iam passar o ano (duas noites, ceia de gala com animação, massagem Thai incluída - 300 €). A passagem de ano esteve bem, fez votos de um 2011 de recuperação económica, aprendeu umas coisas sobre aplicações de capitais com um amigo da Marta, que era broker e que de resto o convenceu que a crise era um estado de espírito, mas não o deles - há aqui alguma crise?- rematou espirituosamente!
Domingo tinham late check-out, dormiu até tarde, abalou satisfeito e no regresso meditou neste fim de ano - passou-o em grande, sem dúvida, na capital as pessoas divertiam-se mais, eram cosmopolitas, fins de semana low-cost em Dublin, Florença, Paris, todos os meses, teria alguam hipótese de se mudar para cá?, a Marta tinha deixado mais ou menos claro, que não lhe interessava continuar este tipo de encontros esporádicos, era o mesmo, mas estava cansado, dormira pouco o fim de semana, tinha o ano todo para descansar  e pensar no assunto ... donde é que saiu este gajo?!, vou bater, aihh!
Acordou com a lâmpada da médica do Inem apontada aos olhos, sim, chamo-me Rodrigo, dois dedos, é Domingo, 2011! Ok, mantém o colar cervical - ouviu dizer! Reagiu, estava bem, levantou-se, viu o carro amolgado, pegou instintivamente no telemóvel, ligou ao Francisco, estava de Serviço na Boa Nova, "anda para cá, senão vais passar horas nos corredores!", assim fez, um TAC craniano e um exame clínico criterioso, permitiram-lhe regressar a casa nessa noite, apenas uma ligeira escoriação na têmpora e um ombro dorido!
Felizmente o seguro contra danos próprios, resolvia o caso - tinha apenas de pagar os 2000€ da franquia e 220 da Clínica.

Vejamos: Rodrigo para além das suas despesas regulares tinha gerado um aumento direto de PIB de 2790 € enquanto que o seu colega João se ficou pelos 10€.

Esqueçam agora toda a história e recebam esta informação sob a forma estatística - variação do PIB, gerado por cada um dos comportamentos!
Claro, e sendo eu um leigo na matéria, imagino que muitos indicadores mais seriam necessários para aquilatar das consequências económicas destes comportamentos, mas não tenho dúvidas que numa análise estatística, numérica, economicista, se concluiria que com muitos Rodrigos este país teria hipóteses de progredir e superar a crise, mas que com Joões não iria lá!

E você acha o mesmo? Acredita que será com economistas-técnicos a comandar a política do país que nos vamos safar?

Um bom ano, a pensar pela sua cabeça!

1 comentário:

  1. Portugal está em situação que países fora do eixo europeu vivem há anos.

    Esperamos que o governo saiba como conduzir,. no futuro,essa crise. Porque no presente quem sofre é a massa trabalhadora portuguesa.

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