ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe
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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Crianças Difíceis
Todos nós já conhecemos "Crianças Difíceis"!
Normalmente os pais alardeiam a sua incomodidade à família, aos amigos, aos colegas, aos vizinhos, ou porque desde que o bébé nasceu nunca mais conseguiram dormir, ou porque as horas das refeições passaram a ser um pesadelo, seja por ser impossível a vida social por terem um filho estranho, normalmente "hiperactivo", birrento, insuportável!
Crianças diagnosticadas mais tarde, na idade escolar, como tendo perturbações do afeto ou síndromes de deficite de atenção/hiperatividade, sofreram na primeira infância (até aos três anos) de uma disfunção hoje conhecida como Perturbação Regulatória.
Ter birras faz parte dum desenvolvimento psico-afetivo normal e a sua ausência deve mesmo ser encarada com alguma preocupação.
Porém comportamentos birrentos desproporcionados e aparentemente incompreensíveis, perturbações do sono ou do hábito alimentar, estão na origem frequente dum mal estar entre a criança e os progenitores, que normalmente ainda avolumam mais a disfunção e a incompreensão mútua.
As perturbações regulatórias são alterações do processamento sensorial, que se identificadas permitem muitas vezes resolver o problema, " mudando as circunstâncias " (este conceito anda-me a soar bem, desde o post do Ortega e Gasset) e impedir a cronificação da disfunção.
Tomemos os cinco sentidos clássicos e acrescentemos-lhes mais alguns - a propriocetividade (digamos a noção de postura corporal) e a sensação gravítica.
Imaginemos um bébé com limiares de tolerância perturbados a algumas latitudes dos seus sentidos - para quem um som agudo soe insuportável, ou uma determinada banda luminosa, ou a sensação de queda eminente, sejam percepcionados como intoleráveis.
Consiguemos entrar na sua pele - e esse é o segredo para se diagnosticarem estas situações, amar a criança, ter compaixão pelo seu sofrimento, ter tempo e imaginação para o interpretar.
As pessoas próximas, os pais, os cuidadores estão em posição priveligiada para esta tarefa, muito mais que qualquer médico ou terapeuta.
(O problema está em que muitas vezes os pais, são ou tornaram-se parte do problema!).
E agora torna-se fácil perceber porque é que o joãozinho rejubila quando é bombardeado com estímulos sonoros e cócegas e já o rodriguinho berra desalmado quando a vendedora do mercado lhe grita "Ai meu rico menino"!
Porque há bébés que gostam de ambientes luminosos e outros ficam confortáveis na penumbra! E estas perturbações podem ir aparentemente ao detalhe de uma determinada côr (será por isso que as côres das meninas são tradicionalmente diferentes das dos rapazes?).
Porque há uns que adoram ser atirados ao ar pelo avô e outros desatam num choro compulsivo!
Há casos clínicos descritos de crianças que perdem o control na presença de certos cheiros, que serenam com outros, que tem aversão a certas sensações tacteis e por aí fora.
O segredo para estas "perturbações", que são mais ideossincrasias, é tratar cada criança na sua individualidade, não ter receitas universais, modelos pedagógicos e comportamentais definitivos.
Isto não é muito mais que o bom senso, mas implica coisas que rareiam muito nos tempos que correm - tempo e disponibilidade, humildade e autoconfiança.
E sobretudo amor ...
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Ler estes teus textos, põe-me a pensar no que fiz, e tento desculpar-me dizendo "no que a vida me obrigou a fazer!"
ResponderEliminarComo muitos outros, nessa idade inicial da idade adulta, as múltiplas solicitações, fizeram-nos perder a noção do fundamental!
Felizmente que não houve feridas insanáveis!
Resumir o tratamento destas crianças como apenas a "necessidade de bom senso por parte dos pais" é redutor e culpabilizante dos pais. É dizer-lhes que quem tem problemas é porque não ama o suficiente, nem cuida o suficiente... Se assim fosse não seriam necessários terapeutas, nem terapias de integração sensorial, mas apenas alguem para dar bons conselhos à familia e mais amor às crianças... É injusto,sendo que muitos destes pais desesperam por amor e os estudos dizem que a vinculação a crianças "dificeis" não é menor. O que é preciso é tratar a díada crianças-pais e dar-lhes apoio, parar de "simplificar e culpabilizar" e apoiar. Incentivar os pais a procurar ajuda, antes que esta chegue tarde de mais e fiquem sequelas para a criança e para a familia...
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