ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Os meus veículos (1) - Trotineta



Tive antes deste, outros veículos - o carrinho de bébé, um triciclo - mas deste, que tive pelos meus 9 anos, lembro-me bem, das muitas tardes, passadas a descer a rampa de casa dos meus pais.
A plataforma em fórmica - material revolucionário que permitia uma limpeza e uma leveza superior à madeira, sem enferrujar nem risco de cortar como acontecia com a chapa metálica - não destoava com os móveis da cozinha a estrear!

A da fotografia não é a original, "a minha", mas corresponde à imagem mental que guardo do veículo!

Não só a tecnologia era outra, como penso que a motricidade infantil também não era comparável com a actual - não me lembro de descer escadas, dar saltos (hoje ollies), como hoje vejo os meus filhos fazerem, porque havia limitações "técnicas" (hoje um puto de 9 anos discute e troca rolamentos, "os abec7, são melhores que os abec5"), mas também porque havia menos radicalidade na vida e no lazer.
A título de exemplo, recordo que só após 1974, se começaram a comercializar em Portugal as sapatilhas de marcas multinacionais, até aí excluídas por férreas normas protecionistas (que também impediam a importação da coca-cola), estando os jovens limitados às famosas Sanjo de lona, nacionais.
A transformação da brincadeira e do divertimento num enorme negócio planetário, levou ao progresso constante dos aparatos e ao apuramento incessante das formas da sua utilização.
Para mim, as lentas tardes de trotinete eram uma forma de iludir um tempo longo, que sobrava diariamente dos deveres escolares, ainda com pouca ocupação  "extracurricular".
Hoje a trotinete, os patins e sobretudo o seu sucessor moderno, o skate, são utilizados pelos jovens numa lógica de empenhado aprimoramento, com desenvolvimento de manobras por todos conhecidas e profusamente divulgadas em canais de TV temáticos, publicações de especialidade e pela publicidade de uma influente indústria de roupa, gadgets e imagem geracional.

A cultura e a sociedade contemporânea trouxeram a criança para o centro da vida coletiva. Tal atitude constituiu do meu ponto de vista, um progresso sem precedentes na história, um estádio "pós psicanalítico" da humanidade, momentâneamente apaziguada com os seus fantasmas e traumas ancestrais. Saibam-se evitar os excessos, corrigir alguns desiquilíbrios criados (voltar a valorizar a sabedoria dos velhos, por exemplo, em contraponto com a energia dos novos) e teremos todas as razões para confiar no futuro.

A minha antiga trotinete, com uma aerodinâmica "espacial" e que se foi desfazendo em lascas de aglomerado e perdendo o cromado rutilante sob a pressão da inexorável ferrugem, não teria resistido hoje à necessidade de mudar tábuas, substituir rolamentos, actualizar tracks ... mas também não teria ficado na minha memória como uma companheira fiel da minha infância!
Cada tempo tem as suas virtudes!

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