A minha primeira bicicleta, que me foi oferecida após a quarta classe (juntamente com um relógio Cauny quadrado), foi talvez o objeto mais cobiçado e utilizado da minha vida.
Para terem uma noção, por aquela altura uma bicicleta era um veículo que preenchia quase obrigatoriamente os seguintes requisitos: era preta, tinha guarda lamas metálicos à frente e atrás, descanso, porta bagagens atrás, com um sistema de molas, guarda corrente, sistema de iluminação com dínamo à roda da frente, campaínha e bomba de encher, que se alojava em duas cavilhas do quadro.
A minha bicicleta não tinha qualquer tipo de mudanças - pedaleira única e pinhão fixo (também eram frequentes as mudanças (3) de tambor e pinhão único, mais para a gente crescida). Mudanças com pinhões múltiplos só nas chamadas bicicletas de corrida, de pneu fino e que não estavam acessíveis à rapaziada comum, nem nós as queríamos para nada.
Passei muitos Verões na companhia da minha adorada bicicleta.
O primeiro objetivo após as semanas iniciais de limpeza e lubrificação diária, era começar a aligeirar o veículo de todas as peças que considerávamos inúteis e pesadas, até atingirmos o estado da bicicleta da Audry Hepburn, que depois de muito googlar foi o veículo que encontrei mais parecido com essa minha bicicleta de sonho.
Aqui a dificuldade consistia em vencer a resistência dos nossos pais às transformações, pois achavam sempre que estávamos a desfazer o velocípede. Geralmente começava-se pelos guardas lamas, com a desculpa de empenos, que já não se conseguiam corrigir, depois o descanso com a mola abalada, os faróis porque já tinham os fios traçados, até atingirmos a ligeireza pretendida : duas rodas, um quadro, um selim e um volante, os travões, reduzidos idealmente ao da retaguarda.
Muito tempo antes de vir a moda das mountain bike e das bmx, tivemos isso tudo - organizámos provas de resistência de 12 horas com teams de dois condutores em circuitos de terra de 3 ou 4 kms, provas de descida cronometradas, sempre com alguns feridos no saldo final ( isto muito antes de sabermos dizer down hill), jogos de futebol de bicicleta no campo pelado da aldeia, excursões noturnas e diurnas.
Sabíamos desmontar uma bicicleta, consertar furos, substituir cabos e contávamos com a paciência do garageiro - o tio Júlio, para nos resolver os problemas mais complexos.
Lembro-me de numas férias grandes, aí pelos 15 anos, termos conseguido (éramos quatro) autorização para uma expedição minhota - quatro dias de bicicleta e mochila às costas: Vila do Conde - Viana - Ponte de Lima - Arcos - Braga - Barcelos - Vila do Conde. Para nós foi o equivalente a uma travessia do Sahara!
Por essa altura as bicicletas tinham matrícula municipal (amarela, e que nós também arranjávamos maneira de fazer desaparecer!) e livrete. O aloquete era um acessório desnecessário!
Aí pelos 16 anos resolvi pintá-la de amarelo, inspirado num movimento holandês que "confiscava" as bicicletas, pintava-as de amarelo para as descaracterizar e ficarem de utilização coletiva. Sei lá se por isso algum tempo mais tarde foi roubada ao meu irmão, deixando um vazio que nem a minha atual Scott, cheia de suspensões, truques e triques, veio preencher.
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