ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Benvindo Mr. Chance



Surge hoje pela boca do Prof. Marcelo (parece nome de personagem da Mónica!), o anúncio do anúncio da recandidatura do nosso Presidente à continuação no cargo.
Sempre que penso em Cavaco aparece na minha cabeça o jardineiro (Mr. Chance), interpretado por Peter Sellers num filme de Hall Ashby (Being There, 1979).
Para quem não viu ou já não se recorda, Chance era o jardineiro de uma personalidade importante de Wasghinton D.C., que vivia confinado à sua mansão e só mantinha conhecimento da realidade através da televisão. Após a morte do seu patrão, sai para o mundo com um vestuário formal e clássico, o que a par com uma perspectiva original da realidade, acaba por lhe dar acesso ao convívio com um influente analista político e consultor do Presidente.
 Referindo-se à realidade sempre com metáforas sobre a Natureza e a jardinagem, os seus comentários são entendidos como verdadeiros oráculos sobre a vida política e consegue grande notoriedade na Comunicação Social.
Com a morte do seu protetor (Ben Rand), é indigitado como Conselheiro Presidencial, apesar de nunca ter sido senão um modesto jardineiro e de as suas considerações sobre botânica, não serem mais do que apenas isso.
Pensarão muitos - a maioria - que não estou a ser justo com Cavaco e mesmo insultuoso. A verdade é que desde o seu aparecimento na Figueira da Foz a fazer a rodagem do Citroen, trazendo na bagagem uma discreta passagem por uma secretaria de Estado, nunca lhe reconheci uma ideia de génio ou um desígnio para o País.
 Estou mesmo em crer que foi ele o grande iniciador da trajetória coletiva para o abismo em que agora nos encontramos.
Apesar de ter sido com ele que a máquina estadual mais cresceu e se burocratizou, apareceu mais tarde a denunciar o Monstro, nuns termos que não desmerecem Chance, porque se ficou pela parangona, nunca concretizando medidas, talvez porque tivesse que denunciar a sua própria governação (lembram-se por exemplo de "um politécnico em cada capital de Distrito" - que agora temos de sustentar!).
Depois veio a parábola da "má moeda" que precisava de ser destronada pela boa, em termos próximos aos que Chance falaria da floração das orquídeas, e que foi logo profusamente interpretada por uma legião de Pitonisas.
Houve depois um início de mandato presidencial, em que apareceu colaborante com o Governo e a cantar Ossanas ao futuro radioso, quando sabemos agora sem sombra para dúvidas, que estávamos em Plano Inclinado para o desastre - e nunca lhe ouvimos um alerta do género "não se esqueçam que quanto mais exuberante é a floração, mais horríveis parecerão as pétalas murchas"!
Tivemos depois à prova a sua capacidade de intriga política, no célebre episódio do Verão de 2009, com chefe de casa civil envolvido, num enredo amador, de opereta de bairro.
 Génio, visão de estado, não lhe reconheço pois.
Mas tal como com o Orçamento, estamos condenados à chantagem da realidade: a opção é muito má, mas a sua alternativa ainda poderá ser pior - a contracenar com o nosso Chance, temos uma personagem saída de A Lenda dos Guardiões, o guerreiro-poeta.

2 comentários:

  1. Bom dia.
    Navegando em busca de peter Sellers, um ator que aprecio e, como tento encontrar um download do filme benvindo Mr. Chance" legendado em português, fui encontrar este seu comentário. Na minha opinião está perfeito. O povo português não se interessa pela conhecimento profundo das causas, factos e outras realidades. Só vive de telenovelas. Depois chora lamenta-se do que fizeram, que não teve culpa que não merecia isto. Mas anda sempre a leste da realidade e não intervem. Quanda chega ao ato de votar, aí vai com as duas palas, e vota sempre nos mesmos. Assim não vamos lá.
    Cumprimentos Valença Cabral

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  2. Obrigado pelo comentário! Os factos recentes reforçam a minha convicção que Cavaco não se devia aventurar a falar de muito mais que de conquilhas. A nossa sorte teria sido que passasse a reforma a apanhá-las!

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