ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quem nos defende dos nossos defensores! (Brecht)



Um grupo de médicos de Saúde Pública, propõe-se corrigir a maneira de viver da população, levando-nos todos a comportarmo-nos de uma forma mais saudável. Embora a ideia esteja cheia de boas intenções, também o Inferno está. E se as boas intenções nos poderão dar a salvação na Vida Eterna, não é certo que no-la deiam nesta!

Retiro do Público:
"Até ao final do ano queremos que sejam editadas três cartilhas - uma para crianças, outra para jovens e outra para adultos", explica o director-geral da Saúde. As cartilhas serão editadas pela Direcção-Geral da Saúde e a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (Ministério da Educação), adianta Francisco George.
Os especialistas recomendam o aumento dos impostos sobre o tabaco e a introdução de avisos de saúde com imagens a cores nos maços. Propõem ainda a restrição do número de máquinas de venda automática e a revisão da actual legislação.
Sugerem que se vá mais longe no controlo do fornecimento e venda de alimentos com alto teor de açúcar, sal e gordura, nomeadamente em refeitórios e cantinas de hospitais e escola, e se multipliquem os pontos de disponibilização de água potável (para evitar que as crianças bebam refrigerantes).
Recordam, a propósito, que os hábitos alimentares pouco saudáveis e o sedentarismo são as principais determinantes do aumento da diabetes, "que adquiriu expressão epidémica" e gera elevadas despesas para o sistema de saúde.
Relativamente ao consumo de álcool, os subscritores da declaração defendem que as iniciativas de informação e de fiscalização não se devem limitar à prevenção rodoviária, como acontece actualmente. Defendem ainda a redução da venda de produtos alcoólicos nas imediações de escolas.
" (Esta é) uma condição indispensável para o sucesso económico", sublinham os especialistas. "Manter a comunidade europeia saudável aumentará também a sua produtividade".
São necessárias "estratégias transversais a toda a sociedade" e aqui assumem relevo outros sectores, como a investigação, o planeamento urbanístico, a habitação, a política fiscal, entre outros.

Antes de mais, há que explicar o que é um médico de Saúde Pública - não se trata de um clínico, um médico habituado a lidar com as pessoas, as suas doenças, as suas fragilidades, mas sim de um planeador de saúde, cujo objeto de trabalho são estatísticas, estudos epidemiológicos, mapas e relatórios. Não estando em causa a importância do seu trabalho, lidam geralmente com a vida das pessoas, com a habilidade de um elefante numa loja de loiças.
Temos todos presentes a paranóia social e os custos nunca revelados, que resultaram da última intervenção pública destes profissionais, a propósito da gripe A ou suína, depois de já terem ensaiado igual alarido a propósito da das aves.
Para que não pareça retórica, lembro-lhes um decreto que obrigava a manifestar nas Juntas de Freguesia, as existências do capoeiro, que deveriam ser atualizadas sempre que se fizesse uma cabidela (e que culminou com uma ordem de extermínio de todas as aves domésticas!).
Este grupo de profissionais capturou a política do Ministério de Saúde, pelo menos a partir do consulado de Correia Campos, insigne professor da Escola Nacional de Saúde Pública. E como existe um Observatório Permanente de Vigilância da Gripe (mais um  organismo a eliminar!), com pessoal exclusivamente dedicado ao assunto, que edita uma dispendiosa e luxuosa edição anual, sobre o seu trabalho, sempre que surgir uma oportunidade e o terreno estiver aberto, lá os veremos a assumir os comandos das operações - com a inabilidade do elefante, para desespero de todos nós.

Depois do recente decreto a estipular os limites de sal autorizados no pão, surge esta cruzada para nos obrigar a sermos mais saudáveis.
Devo dizer que ser mais saudável é uma ideia que me atrai - como ser mais bonito, mais rico, mais feliz - o que não gosto é que me obriguem!
Além disso embora possa parecer hoje que a redução do sal na alimentação, seja uma medida incontestavelmente benéfica, ninguém pode ter a presunção de estar infalivelmente certo. Basta lembrarmo-nos da adição de flúor à água corrente, que foi feita em diversos municípios suíços (e que também em Portugal teve adeptos - só que na altura, com menos poder que o atual), sob a convicção científica de que iria resolver o problema das cáries e que veio a ser abandonada anos depois, quando se tornaram evidentes as consequências nefastas na dentição e nos ossos!
Ninguém pode garantir que a redução importante do consumo do sal marinho, não possa vir a trazer consequências indesejáveis - por exemplo, carências em oligoelementos, com as decorrentes patologias. E principalmente ninguém, do meu ponto de vista tem o direito de me submeter a uma experiência sanitária de massas, sem o meu consentimento! A história, particularmente a da Medicina, está cheia de certezas que com o tempo deixaram de o ser!
Há que distinguir, as medidas que são tomadas com o objetivo de protejer terceiros, daquelas que mesmo muito bem intencionadas e fundamentadas, impõem comportamentos, coartando a liberdade de cada um.
Sou favorável à restrição de consumo de tabaco em locais públicos, mas já me baterei contra qualquer medida limitadora da liberdade de fumar em locais em que isso não incomode ninguém.
Estas questões suscitam a velha dicotomia da liberdade versus igualdade, que a Revolução Francesa ignorou.
Sou favorável a uma sociedade que promova a igualdade de oportunidades e que não descrime nenhuma cidadão (igualdade perante a lei!).
A partir daí sou a favor da liberdade - sendo as pessoas desejavelmente diferentes, a igualdade só pode ser conseguida pela força, sem benefício para ninguém.
O trilho e o tom que a DGS segue, são perigosos - logo a nomenclatura põe-me de pé atrás - Cartilha para as crianças, jovens e adultos!
É de uma saga catequizadora que se trata, pois! Depois as intenções veladas de várias "leis secas" (  "redução da venda de produtos alcoólicos nas imediações de escolas"; "restrição do número de máquinas de venda automática de tabaco"; "evitar que as crianças bebam refrigerantes"), cujos resultados paradoxais foram conhecidos.
Por último o tom que mais assusta - " (Esta é) uma condição indispensável para o sucesso económico. Manter a comunidade europeia saudável aumentará também a sua produtividade".
Daqui para a frente não haverá mais limites ( "estratégias transversais a toda a sociedade" e aqui assumem relevo outros sectores, como a investigação, o planeamento urbanístico, a habitação, a política fiscal...")!
Estes zelosos cuidadores da saúde da colmeia não hesitarão - para o nosso bem, farão tudo o que esteja ao seu alcance, para nos manter a trabalhar, com poucas avarias e por muito tempo.

O tom do texto, que pode parecer excessivo, face à aparente benignidade das intenções, justifica-se, pois sempre que se ultrapassa a barreira da nossa liberdade individual, é nosso direito e obrigação reagir pronta e veementemente, antes que seja tarde - entre Bertrand Russel e José Estaline, embora ambos fumassem cachimbo (e eu não!), escolherei sempre a esteira do primeiro!

1 comentário:

  1. Nem de propósito, este artigo, em http://clix.expresso.pt/ser-abstemio-deprime-e-mata=f610858

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