ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe
- ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? - NÃO, SE PÁRAS, ESTÁS PERDIDO! Goethe
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
PORQUE SERÁ?
Porque será que vivo com a sensação de que somos governados por um grupo de rapazolas e raparigas, que nunca fez nada de realmente útil na vida!? (Claro, há um bom par de excepções, em atitude técnica e afastados da ribalta, mas que resistirão até quando!?)
A contrapor a esse ambiente de associação de estudantes, quando aparece um Bagão Félix ou um Rui Rio, porque é que eu acho que parecem pessoas responsáveis e maduras que merecem ser ouvidas, mesmo que discorde das suas opiniões?!
Porque me parece estranho que Paulo Portas apareça como "o político mais experiente deste Governo" ? (e talvez por isso nunca está presente sempre que acontece algo relevante!).
Porque me incomoda que o ministro Relvas, a quem eu nunca compraria um carro, seja o estratega do governo?
Porque será que eu, que tanto me bati por correr com Sócrates, não me sinta agora mais descansado do que estava?
Porque será que sinto um ambiente de catástrofe no ar e tenho a sensação de que lá na sede do Associação de Estudantes não dão sequer conta do que aí virá (apesar do Pres. da Republica, dos ex-PR, do Cardeal Patriarca, dos militares, da dona Rosalina e as vizinhas não falarem doutra coisa!)?
Eu diria que a resposta está no primeiro parágrafo do texto (o que me levará a ser cada vez mais minimalista ...)!
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
VIVEMOS MOMENTOS DETERMINANTES DA NOSSA VIDA COLETIVA!
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, dá mostras de ser dos lideres europeus com a atitude mais assertiva e construtiva.
Valha-nos isso!
Valha-nos isso!
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
E agora posso parar? Não se páras estás perdido!
Um dos problemas da Europa, como agora toda a gente diz, é o da falta de Estadistas, de liderança natural coletivamente aceite.
Outro importante ponto fraco, tem sido a ausência de democracia - os acordos fazem-se nas costas do povo e são apresentados como incontornáveis e inquestionáveis.
Esta forma de governar leva no limite, à situação a que assistimos na Grécia - não adianta os dirigentes acordarem o que quer que seja, se não existir aderência à realidade, se estiver instalado um ambiente de rebelião civil, quiçá de eminente rebelião militar, estado de sítio, guerra cívil, etc..
As decisões de gabinete não servem de nada se não ferem aceites pela rua!
Estas evidências são aquelas que os Estadistas percebem antecipadamente e evitam a triste e perigosa figura de andarem a fazer de conta que governam.
No "Principezinho" o rei dum planeta por ele visitado, dizia-se tão poderoso que até era obedecido pelo Sol, quando o mandava pôr-se. Mas só dava a ordem, quando ele estava na eminência de o fazer...
A saída da Grécia do União Europeia e do Euro, não será um problema difícil de digerir para a Europa.
E daí não se perceber o estado de agitação psicomotora que tomou conta dos dirigentes políticos europeus, dramatizando excessiva e despropositadamente o problema. A atitude normal seria dar todo o espaço à Grécia para decidir em consciência o seu futuro, transmitindo a ideia, que me parece verdadeira, que se alguém perderá muito com essa saída, será ela própria.
Ora o que está a acontecer, é que o Robespierre francês e a chanceler bávara, dão ares de um nervosismo intolerável, quase que pedindo à Grécia para ficar, para o bem de todos: que tolos são, o puerpério de um e a menopausa da outra não podem justificar tal desvario.
Excepto se esta desproporcionada dramatização, tiver em vista a preparação de um clima de tensão, que permita uma expurgação da União Económica e Monetária de todos os mediterrânicos, que possam perturbar a pureza centro-europeia, que evoca a alguns sonhos de um passado de fausto ( mas também de pesadelo).
Caberia ao presidente da Comissão, latino por supuesto, vir aclarar, que quem quiser sair, tem as portas abertas, sem ressentimentos, mas que o projeto europeu não está em causa (e já agora desafiar quem assim o entender a fazer o seu referendo, para que não surjam de novo dúvidas tão cedo!) e criar mecanismos mais democráticos de funcionamento da União!
Estamos no momento em que tudo se decide e pecar por omissão, pode levar-nos ao Inferno!
Outro importante ponto fraco, tem sido a ausência de democracia - os acordos fazem-se nas costas do povo e são apresentados como incontornáveis e inquestionáveis.
Esta forma de governar leva no limite, à situação a que assistimos na Grécia - não adianta os dirigentes acordarem o que quer que seja, se não existir aderência à realidade, se estiver instalado um ambiente de rebelião civil, quiçá de eminente rebelião militar, estado de sítio, guerra cívil, etc..
As decisões de gabinete não servem de nada se não ferem aceites pela rua!
Estas evidências são aquelas que os Estadistas percebem antecipadamente e evitam a triste e perigosa figura de andarem a fazer de conta que governam.
No "Principezinho" o rei dum planeta por ele visitado, dizia-se tão poderoso que até era obedecido pelo Sol, quando o mandava pôr-se. Mas só dava a ordem, quando ele estava na eminência de o fazer...
A saída da Grécia do União Europeia e do Euro, não será um problema difícil de digerir para a Europa.
E daí não se perceber o estado de agitação psicomotora que tomou conta dos dirigentes políticos europeus, dramatizando excessiva e despropositadamente o problema. A atitude normal seria dar todo o espaço à Grécia para decidir em consciência o seu futuro, transmitindo a ideia, que me parece verdadeira, que se alguém perderá muito com essa saída, será ela própria.
Ora o que está a acontecer, é que o Robespierre francês e a chanceler bávara, dão ares de um nervosismo intolerável, quase que pedindo à Grécia para ficar, para o bem de todos: que tolos são, o puerpério de um e a menopausa da outra não podem justificar tal desvario.
Excepto se esta desproporcionada dramatização, tiver em vista a preparação de um clima de tensão, que permita uma expurgação da União Económica e Monetária de todos os mediterrânicos, que possam perturbar a pureza centro-europeia, que evoca a alguns sonhos de um passado de fausto ( mas também de pesadelo).
Caberia ao presidente da Comissão, latino por supuesto, vir aclarar, que quem quiser sair, tem as portas abertas, sem ressentimentos, mas que o projeto europeu não está em causa (e já agora desafiar quem assim o entender a fazer o seu referendo, para que não surjam de novo dúvidas tão cedo!) e criar mecanismos mais democráticos de funcionamento da União!
Estamos no momento em que tudo se decide e pecar por omissão, pode levar-nos ao Inferno!
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Estamo-nos a ver gregos!
Apesar do alto risco da atitude - propôr um referendo sobre o destino da nação grega (que coisa estranha não é?! Isso é quase democracia direta! Cruzes, canhoto!) - ela vem lembrar que afinal há sempre saídas inesperadas, mesmo para as mais difíceis situações.
A chantagem de que só há uma via única, que os nossos governantes tentam passar, é que é intolerável.
As mais radicais e acutilantes críticas às escolhas que estão a ser feitas pelos nossos governantes, têm curiosamente vindo da Igreja.
Há dias numa iluminada reflexão, Frei Bento Domingues lembrava que apresentar as opções do governo como a única alternativa, além de uma pobreza intelectual deplorável, eram uma perigosa negação do próprio conceito de democracia - que por definição é a escolha entre diferentes alternativas.
No caso português com a agravante da escolha, em eleições, deste governo, ter assentado numa proposta de política diametralmente oposta à agora seguida e apresentada como via única (Sócrates caiu, infelizmente não por ser um mitómano e governar o país em negação da realidade, mas por causa dos PECs e das medidas restritivas anunciadas, às quais os atuais governantes contrapuseram promessas de alívio - não aumentavam impostos, não retiravam deduções fiscais, não reduziam professores, lembram-se ainda?!).
Os gregos (ou Papandreou!) têm pelo menos o mérito de vir recordar algumas questões básicas:
1) O regime político em vigor nos países europeus é a democracia!
2) Democracia implica também a assunção das responsabilidades pelo povo - e isso notou-se nas reações da rua na Grécia, com as pessoas a temerem o referendo, pois a situação não tem solução fácil e ninguém quer arcar com os riscos de uma escolha - apesar de desastroso, é preferível ter o bode espiatório dos políticos para se descarregarem as culpas (e quanto a ser tarde para chamar o povo a decidir, como ouvi nas entrevistas em Atenas, lembro que "mais vale tarde, que nunca"!).
3) Existem sempre alternativas na abordagem de um problema - podemos é estar convencidos que a nossa é a melhor, apenas!
4) Um rato pode paralisar, ainda que momentaneamente, um elefante! (Deverá é estar preparado para fugir, quando o paquiderme o tentar esmagar!) .
Ao dar xeque ao rei (e à rainha!) europeu, com poucas pedras em cima do tabuleiro, os gregos provaram que só se está derrotado no fim da partida e que talvez valha mais a pena morrer com dignidade, do que continuar um morto-vivo sem futuro nem vontade própria!
A chantagem de que só há uma via única, que os nossos governantes tentam passar, é que é intolerável.
As mais radicais e acutilantes críticas às escolhas que estão a ser feitas pelos nossos governantes, têm curiosamente vindo da Igreja.
Há dias numa iluminada reflexão, Frei Bento Domingues lembrava que apresentar as opções do governo como a única alternativa, além de uma pobreza intelectual deplorável, eram uma perigosa negação do próprio conceito de democracia - que por definição é a escolha entre diferentes alternativas.
No caso português com a agravante da escolha, em eleições, deste governo, ter assentado numa proposta de política diametralmente oposta à agora seguida e apresentada como via única (Sócrates caiu, infelizmente não por ser um mitómano e governar o país em negação da realidade, mas por causa dos PECs e das medidas restritivas anunciadas, às quais os atuais governantes contrapuseram promessas de alívio - não aumentavam impostos, não retiravam deduções fiscais, não reduziam professores, lembram-se ainda?!).
Os gregos (ou Papandreou!) têm pelo menos o mérito de vir recordar algumas questões básicas:
1) O regime político em vigor nos países europeus é a democracia!
2) Democracia implica também a assunção das responsabilidades pelo povo - e isso notou-se nas reações da rua na Grécia, com as pessoas a temerem o referendo, pois a situação não tem solução fácil e ninguém quer arcar com os riscos de uma escolha - apesar de desastroso, é preferível ter o bode espiatório dos políticos para se descarregarem as culpas (e quanto a ser tarde para chamar o povo a decidir, como ouvi nas entrevistas em Atenas, lembro que "mais vale tarde, que nunca"!).
3) Existem sempre alternativas na abordagem de um problema - podemos é estar convencidos que a nossa é a melhor, apenas!
4) Um rato pode paralisar, ainda que momentaneamente, um elefante! (Deverá é estar preparado para fugir, quando o paquiderme o tentar esmagar!) .
Ao dar xeque ao rei (e à rainha!) europeu, com poucas pedras em cima do tabuleiro, os gregos provaram que só se está derrotado no fim da partida e que talvez valha mais a pena morrer com dignidade, do que continuar um morto-vivo sem futuro nem vontade própria!
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
O Inverno do meu entusiasmo!
A espuma dos dias está-se a trasformar numa torrente de lama e eu a ficar submerso pelo aluvião!
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
NUM FUTURO NÃO MUITO DISTANTE
(Descrição de um sonho!)
A cena passa-se numa praça de uma cidade de aparência caótica - restos de lixo nos passeios, diversos focos de fumo a empestar o ar, jardins mal cuidados invadidos pelo estacionamento.
O que aparece como um comité de uma junta de indignados, julga sumariamente altos responsáveis políticos do poder cessante.
Antes do veridicto final, é dada oportunidade de defesa a uma personagem desengonçada e desesperada, dentro de um fato desalinhado (ex-primeiro ministro?, ex-ministro das finanças?).
E o único argumento que consegue alinhavar, face a uma provável execução, é a mesma a que todos os invertebrados recorreram ao longo da história:
- Mas eu estava a cumprir ordens ...!
A cena passa-se numa praça de uma cidade de aparência caótica - restos de lixo nos passeios, diversos focos de fumo a empestar o ar, jardins mal cuidados invadidos pelo estacionamento.
O que aparece como um comité de uma junta de indignados, julga sumariamente altos responsáveis políticos do poder cessante.
Antes do veridicto final, é dada oportunidade de defesa a uma personagem desengonçada e desesperada, dentro de um fato desalinhado (ex-primeiro ministro?, ex-ministro das finanças?).
E o único argumento que consegue alinhavar, face a uma provável execução, é a mesma a que todos os invertebrados recorreram ao longo da história:
- Mas eu estava a cumprir ordens ...!
domingo, 9 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
"The 1% has destroyed this nation and its values through their greed. The 1% has stolen this world. We will not allow this to occur."
(Imagens de Wall Street hoje)
O apocalise não é final!
Que se está a desenvolver um movimento revolucionário a nível do Mundo Ocidental, não restam dúvidas.
Que nunca foi quando se andava de barriga cheia que se mudou o Mundo, já sabíamos!
Agências de rafting
O governo numa atitude de bom senso e poupança, acaba de substituir os contratos que tinha com as agências de rating, em monitorização da evolução do país, por agências de rafting.
A medida foi encarada com entusiasmo pela troika, já que como nos encontrávamos apenas a um nível de lixo (BBB), poucas novidades (e pouco interessantes) seriam esperadas dos relatórios dos analistas financeiros.
Além disso os agentes de rafting agora contratados, apresentam um score mais facilmente interpretado pela população do país.
Tendo entrado diretamente para o nível VI da tabela de risco de rafting, a grande dúvida é se o rápido acaba em cascata (nesse caso, pode-nos valer um paraquedas) ou se nos estampamos antes.
Anexo: Tabela Internacional de rating das agências de rafting
Nível I: Áreas com pedras muito pequenas; requer poucas manobras.
Nível II: Algumas águas agitadas, talvez algumas rochas; pode exigir manobras.
Nível III: Ondas pequenas, talvez uma pequena queda, mas sem perigo. Pode requerer habilidade de manobra significativa.
Nível IV: Ondas médias, presença de poucas pedras, com quedas consideráveis; manobras mais difíceis podem ser necessárias.
Nível V: Grandes ondas, possibilidade de grandes rochas, possibilidade de grandes quedas, há riscos e exige manobras precisas.
Nível VI: Corredeiras extremamente perigosas, pedras e ondas enormes. O impacto da água pode até causar estragos no equipamento. O nível VI é extremamente perigoso, pode machucar seriamente os praticantes ou até levá-los à morte. Completar esse percurso exige muita habilidade.
Subservientes não é o mesmo que bons alunos!
Talvez por ter sido sempre um bom aluno e verificar que a generalidade dos nossos políticos nunca o foi, irrita-me o lugar comum que se estabeleceu na comunicação social de que Portugal apostou face aos seus credores numa atitude de "bom aluno" e que tal poderá vir a render no futuro.
Na verdade começo logo por não perceber o que um endividado tem de parecido com um estudante. Mas mesmo forçando a comparação, um aluno que só começa a estudar quando está ameaçado de chumbar, nunca poderia ser chamado de bom. É aliás o paradigma do mau aluno e o facto dos nossos notáveis não perceberem isso diz tudo do seu percurso escolar e dos seus padrões de comportamento.
Fazer directas (leia-se, aumentar impostos), tomar estimulantes (leia-se, receitas extraordinárias), pedir adiamentos de exames ("novos pacotes de apoio"), dá às vezes para passar à rasquinha, mas não augura grande futuro para o estudante.
A atitude que o País assumiu face à Europa e aos seus credores é a de aparecer de corda ao pescoço, disposto ao que for necessário para salvar a honra e se possível a pele.
Essa atitude não tem nada de original, é um truque antigo e chama-se "postura à Egas Moniz".
No caso dos cães que se enroscam subservientes nos pés dos donos, quando se sentem ameaçados duma sova, às vezes resulta - quando os donos são sensíveis e tolerantes!
( D.Afonso VI de Castela perdoou a Egas Moniz este tê-lo intrujado, aquando do cerco de Guimarães, quando lhe prometeu a submissão dee D.Afonso Henriques, sem ter obtido previamente a sua anuência! Apesar de ter ficado para a história como um tolerante, prestou um mau serviço a Portugal, que continuamos a pagar quase 900 anos depois!)
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Lavoisier
Há uma lei da termo dinâmica que diz que "nada se perde, tudo se tranforma" ("In Nature nothing is gained, nothing is lost, everything is transformed")
E embora seja uma velha discussão científica - a de que as leis das ciências naturais, não se aplicam às sociais - estou em crer que esta lei também se aplica à economia.
E se estamos quase todos a perder economicamente, isto quer para mim dizer que há alguns que estão a ganhar!
E ontem ao ver José Luís Arnaut num "debate" televisivo, pela sua cara, pelo seu discurso, tive a premonição que era dos que estava a ganhar!
Quando a roleta parar, o fosso social vai estar mais fundo!
O estado da Jarra
Praticamente há dois meses que parei a minha modesta actividade bloguista e embora as férias tenham ajudado, a razão principal do meu estado de inanição teve a ver com a perplexidade que o novo rumo da vida política e social nacional me causou.
Estou nos antípodas da mentalidade dominante que tem orientado o país nos últimos anos - sou avesso a consumismos, não me dislumbro com a novidade, gosto de maturar uma ideia antes de actuar, cultivo a prudência, odeio os lugares comuns, não aceito acriticamente as ditaduras das maiorias.
O estado de penúria em que se encontra o país, de dinheiro, mas também de princípios, foi em parte o móbil que me levou a criar este blog, numa altura em que o ambiente já me parecia asfixiante e eu sentia necessidade de uma janela aberta para respirar.
A "crise" que vive o país, é apenas o início de uma descida aos infernos, que ainda não chegou ao purgatório. E o que me levou a voltar agora à escrita foi um post da "ana de amsterdão" que lucidamente diz que "ainda muitas rotundas se farão em Portugal" (pode linkar na lista de blogs).
E é por ver os mesmos que nos trouxeram aqui, a mesma mentalidade, a mesma falta de visão, a mesma mediocricidade, agora adaptados "à nova realidade", com "novos" designíos, que eu me assusto ainda mais!
Pensando bem, não poderia ser de outra maneira, que nem nas revoluções as coisas mudam por magia, mas há outras pessoas neste país, mais clarividentes, menos corruptas, mais imaginativas, que continuam afastadas dos centros de decisão e poderiam promover novos paradigmas de sociedade.
Mas a sociedade do espectáculo aposta nos "originais", nos messias mirabolantes e as pessoas felizes, com vidas estáveis, sem vontade de "dar o corpo pela alma", estão arredadas da ribalta.
A grande diferença das sociedades nórdicas da nossa, ou melhor, onde essa diferença mais se consubstancia, é no facto dos políticos, dos directores dos organismos públicos, dos decisores, serem pessoas "normais", de andarem de transporte publico, irem ao supermercado, terem famílas para onde voltam ao fim do dia.
(Intrepretem como quiserem, mas eis uma sugestão para tese de sociologia: faça-se uma estatística de quantos "influentes" portugueses têm hábitos comuns - comem regularmente em casa, têm filhos e convivem diariamente com eles, fazem as compras de casa, etc.)
Eis porque o estado da Jarra passou de pensativa a estupefacta - como se no hardwear social obsoleto tivesse sido introduzido um novo softwear, que com o tempo se virá a revelar incompatível.
Sociopoliticamente falando vivemos tempos bons, porque cada dia que passar se encarregará de nos lembrar que no dia seguinte estaremos ainda pior!
Estou nos antípodas da mentalidade dominante que tem orientado o país nos últimos anos - sou avesso a consumismos, não me dislumbro com a novidade, gosto de maturar uma ideia antes de actuar, cultivo a prudência, odeio os lugares comuns, não aceito acriticamente as ditaduras das maiorias.
O estado de penúria em que se encontra o país, de dinheiro, mas também de princípios, foi em parte o móbil que me levou a criar este blog, numa altura em que o ambiente já me parecia asfixiante e eu sentia necessidade de uma janela aberta para respirar.
A "crise" que vive o país, é apenas o início de uma descida aos infernos, que ainda não chegou ao purgatório. E o que me levou a voltar agora à escrita foi um post da "ana de amsterdão" que lucidamente diz que "ainda muitas rotundas se farão em Portugal" (pode linkar na lista de blogs).
E é por ver os mesmos que nos trouxeram aqui, a mesma mentalidade, a mesma falta de visão, a mesma mediocricidade, agora adaptados "à nova realidade", com "novos" designíos, que eu me assusto ainda mais!
Pensando bem, não poderia ser de outra maneira, que nem nas revoluções as coisas mudam por magia, mas há outras pessoas neste país, mais clarividentes, menos corruptas, mais imaginativas, que continuam afastadas dos centros de decisão e poderiam promover novos paradigmas de sociedade.
Mas a sociedade do espectáculo aposta nos "originais", nos messias mirabolantes e as pessoas felizes, com vidas estáveis, sem vontade de "dar o corpo pela alma", estão arredadas da ribalta.
A grande diferença das sociedades nórdicas da nossa, ou melhor, onde essa diferença mais se consubstancia, é no facto dos políticos, dos directores dos organismos públicos, dos decisores, serem pessoas "normais", de andarem de transporte publico, irem ao supermercado, terem famílas para onde voltam ao fim do dia.
(Intrepretem como quiserem, mas eis uma sugestão para tese de sociologia: faça-se uma estatística de quantos "influentes" portugueses têm hábitos comuns - comem regularmente em casa, têm filhos e convivem diariamente com eles, fazem as compras de casa, etc.)
Eis porque o estado da Jarra passou de pensativa a estupefacta - como se no hardwear social obsoleto tivesse sido introduzido um novo softwear, que com o tempo se virá a revelar incompatível.
Sociopoliticamente falando vivemos tempos bons, porque cada dia que passar se encarregará de nos lembrar que no dia seguinte estaremos ainda pior!
domingo, 25 de setembro de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Caminhar - siga as setas amarelas!
Terminei ontem a etapa que me faltava do troço do Caminho de Santiago, que vai de Viana do Castelo a Valença (caminho português da costa).
Para quem gosta de caminhar, o caminho de santiago constitui uma excelente oportunidade, pois há a garantia de uma boa sinalização e de um trajeto a grande parte das vezes agradável. Não tem mais que seguir as setas amarelas que balizam o caminho!
De Viana, saindo de detrás do hospital, segue a meia encosta do monte de Santa de Luzia até Âncora e de lá por um trajeto mais junto à costa por Moledo até Caminha. Aqui, sugiro a eventuais interessados que em Moledo se mantenham junto ao mar, ao contrário das indicações, atravessem o pinhal do Camarido e cheguem a Caminha pela foz do Minho, o que constitui um trajeto muito mais agradável que o marcado.
São vinte e poucos Kms deliciosos, cerca de 5 horas de caminhada e que podem constituir, tal como qualquer das outra etapas, uma boa maneira de passar um dia de fim de semana, uma folga ou até uma tarde sem perspetivas, o que foi o caso de ontem.
Parti de Caminha rumo a Cerveira e o trajeto depoisr de Seixas faz-se também a meia altura, com o Minho sempre a namorar-nos cá em baixo. Nesta estação não faltam amoras, figos, uvas e maçãs para entreter o caminhante. Mesmo para quem conhece a região é garantida a surpresa dos locais que atravessa.
A etapa terá cerca de 20 kms, um pouco mais acidentada que a anterior, conte com 4 a 5 horas.
Nesta altura poderá complementar o passeio com uma visita à bienal e verificar in loco que grande parte dos artistas presentes, não teriam feito pior se tivessem passado mais tempo a caminhar ...
A linha de comboio de Valença a Viana permite repôr o caminhante no local de partida, o que constitui um apoio muito útil à aventura, que pode assim ser feita em autonomia (a CP também autoriza o transporte de bicicletas, sem qualquer formalidade prévia).
De Cerveira a Valença decorre a terceira etapa deste troço, com traçado mais plano, ao longo da veiga do Minho e numa extensão mais ou menos idêntica às anteriores.
Quem quiser seguir até Santiago terá mais 4 ou 5 dias pela frente, dos quais estou certo não se arrependerá!
Mas esta minha sugestão é a de usar este percurso para utilização avulsa, em qualquer altura do ano, com sol ou com chuva, de forma a evitar aquelas tardes de que tanto se arrepende, passadas em uma qualquer catedral de consumo!
Para quem gosta de caminhar, o caminho de santiago constitui uma excelente oportunidade, pois há a garantia de uma boa sinalização e de um trajeto a grande parte das vezes agradável. Não tem mais que seguir as setas amarelas que balizam o caminho!
De Viana, saindo de detrás do hospital, segue a meia encosta do monte de Santa de Luzia até Âncora e de lá por um trajeto mais junto à costa por Moledo até Caminha. Aqui, sugiro a eventuais interessados que em Moledo se mantenham junto ao mar, ao contrário das indicações, atravessem o pinhal do Camarido e cheguem a Caminha pela foz do Minho, o que constitui um trajeto muito mais agradável que o marcado.
São vinte e poucos Kms deliciosos, cerca de 5 horas de caminhada e que podem constituir, tal como qualquer das outra etapas, uma boa maneira de passar um dia de fim de semana, uma folga ou até uma tarde sem perspetivas, o que foi o caso de ontem.
Parti de Caminha rumo a Cerveira e o trajeto depoisr de Seixas faz-se também a meia altura, com o Minho sempre a namorar-nos cá em baixo. Nesta estação não faltam amoras, figos, uvas e maçãs para entreter o caminhante. Mesmo para quem conhece a região é garantida a surpresa dos locais que atravessa.
A etapa terá cerca de 20 kms, um pouco mais acidentada que a anterior, conte com 4 a 5 horas.
Nesta altura poderá complementar o passeio com uma visita à bienal e verificar in loco que grande parte dos artistas presentes, não teriam feito pior se tivessem passado mais tempo a caminhar ...
A linha de comboio de Valença a Viana permite repôr o caminhante no local de partida, o que constitui um apoio muito útil à aventura, que pode assim ser feita em autonomia (a CP também autoriza o transporte de bicicletas, sem qualquer formalidade prévia).
De Cerveira a Valença decorre a terceira etapa deste troço, com traçado mais plano, ao longo da veiga do Minho e numa extensão mais ou menos idêntica às anteriores.
Quem quiser seguir até Santiago terá mais 4 ou 5 dias pela frente, dos quais estou certo não se arrependerá!
Mas esta minha sugestão é a de usar este percurso para utilização avulsa, em qualquer altura do ano, com sol ou com chuva, de forma a evitar aquelas tardes de que tanto se arrepende, passadas em uma qualquer catedral de consumo!
domingo, 21 de agosto de 2011
FESTAS DA AGONIA
Acabou mesmo agora o fogo principal destes três dias de festa em Viana do Castelo - a Serenata do Rio!
Deslumbrante, com diversas inovações técnico-estéticas felizes - novas associações cromáticas, cachoeira da ponte seguida de fogo rasante (jactante!) sobre o rio, foguetes coração - o símbolo ex-libris da cidade!
Apenas a lamentar uma moda que se iniciou há um par de anos quando a produção do fogo foi entregue a uma empresa de eventos artísticos francesa - pôr banda sonora ao fogo. E se na sua versão original salvo erro era Strauss o contemplado, agora opta-se pela canção popular (Deolinda, Amália,etc.), que não tem nem elevação, nem ecletismo que permitam acompanhar o deslumbrante espetáculo da serenata de Viana.
Depois de Viana ter sido hoje capital do universo nacional pimba, cerimoniado pelo animador Goucha, nada mais apropriado que este banho de beleza para lavar a alma à cidade, que assim pode regressar desenvergonhadamente à sua placidez cativante.
E com todos satisfeitos ...
ECOVIA DO LIMA
Nestes tempos estivais pedalar ou caminhar ao longo de um rio, são das actividades mais reconfortantes e económica e ecologicamente benignas que se podem conceber.
De Viana do Castelo, é possível seguir o Lima pela margem Sul até Ponte da Barca, conforme poderá verificar AQUI, ou mesmo obter documentação detalhada ALI.
São 44 Kms de trajeto: desde a ponte Eiffel em Darque até Ponte de Lima (26Kms) e daí a Ponte da Barca ( 18Kms). Nem todos são de verdadeira ecovia que oficialmente constitui apenas uns troços intermédios - mas o que interessa é que pode acompanhar o Rio desde quase a Foz por caminhos agradáveis, apenas havendo no percurso inicial algumas limitações, conforme as marés (na maré cheia, terá que procurar alternativas mais interiores até chegar às lagoas de stº André).
A parte mais importante deste esforço é da Câmara de Ponte de Lima, que tem mesmo algumas vias complementares como o trajeto de meia dúzia de Kms, da vila às Lagoas de Bertiandos ( zona de paisagem protegida, com centro de interpretação, campismo, etc.).
Embora estas vias já sejam utilizadas por muita gente, estão ainda muito aquém do aproveitamento que o seu potencial lúdico e turístico permite.
Já imaginou por exemplo um pacote de 3 ou 4 dias de férias com passeio de Viana - Ponte de Lima, com atividades desportivas e/ou gastronómicas complementares, pernoita (em albergue, turismo de habitação), seguida de etapa até Ponte da Barca/Arcos de Valdevez, mais regresso.
Qualquer um o pode fazer por sua iniciativa e com seguro proveito, mas um jovem empresário turístico poderá fazer disto um modo de vida!
(Já existe um público para este tipo de turismo activo, mas o seu potencial de crescimento é enorme!)
sábado, 20 de agosto de 2011
ELOGIO DA EXPERIÊNCIA
Agora que me pus a ler o D. Quixote, descubro todos os dias nos jornais, nos blogues, que é um autor da moda ... com 400 anos de tarimba, o que é uma garantia incontornável!
D. Quixote é alguém que conheceu primeiro o mundo pelos livros, ao contrário de Caeiro que enaltece "a espantosa realidade das coisas", e que ao tomar contacto com a realidade quer à viva força que ela corresponda ás fantasias que desenvolveu nas suas leituras alucinadas.
Vai daí, aqueles que lhe estavam próximos terem entendido que destruir a sua biblioteca era um acto de caridade!
Também desconfio daqueles que conhecem o Mundo dos livros (embora creia que estes são um património único, apesar da sua maioria ser dispensável).
A experiência vivida, se possível sem constrangimentos morais, ideológicos ou quaisquer outros preconceitos, é o nosso maior património e aquilo que de mais útil temos para dar aos outros.
Na vida económica, cultural, na política, assustam-me os teóricos, os que aprenderam tudo nos livros, nas universidades, os que conceptualizam a realidade!
Ninguém, a não ser por acaso, tomará boas decisões sobre matérias sobre as quais não desenvolveu uma teoria pessoal, fruto de muitas leituras, opiniões alheias, mas sobretudo duma vivência rica numa determinada área.
Temo os sabichões, cheios de certezas!
A sabedoria é uma atitude tolerante, disponível para aprender e mudar!
D. Quixote é alguém que conheceu primeiro o mundo pelos livros, ao contrário de Caeiro que enaltece "a espantosa realidade das coisas", e que ao tomar contacto com a realidade quer à viva força que ela corresponda ás fantasias que desenvolveu nas suas leituras alucinadas.
Vai daí, aqueles que lhe estavam próximos terem entendido que destruir a sua biblioteca era um acto de caridade!
Também desconfio daqueles que conhecem o Mundo dos livros (embora creia que estes são um património único, apesar da sua maioria ser dispensável).
A experiência vivida, se possível sem constrangimentos morais, ideológicos ou quaisquer outros preconceitos, é o nosso maior património e aquilo que de mais útil temos para dar aos outros.
Na vida económica, cultural, na política, assustam-me os teóricos, os que aprenderam tudo nos livros, nas universidades, os que conceptualizam a realidade!
Ninguém, a não ser por acaso, tomará boas decisões sobre matérias sobre as quais não desenvolveu uma teoria pessoal, fruto de muitas leituras, opiniões alheias, mas sobretudo duma vivência rica numa determinada área.
Temo os sabichões, cheios de certezas!
A sabedoria é uma atitude tolerante, disponível para aprender e mudar!
O meu poeta
Alberto Caeiro
A espantosa realidade das coisas
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
7-11-1915
domingo, 24 de julho de 2011
Cristas sob observação
O assunto mereceria a atenção que se reserva a qualquer fait-diver, mas a verdade é que não me larga o pensamento!
O que pensar de uma ministra, que ocupando uma pasta vasta e crucial para o país - agricultura, pescas, ambiente, depois de mais um mês de governação, ainda só deu a conhecer esse momento lamentável de uma conferência de imprensa, para anunciar a dispensa, nas instalações do ministério, do uso de gravata!
É tão provinciano, tão medíocre, que assusta - a Doutora Cristas, é afinal a Dona Cristas, que dá uns bitaites na pastelaria do bairro, sobre coisas giras de fazer, sei lá ...
Este não é o meu tom habitual de comentar, mas anda um aperto a perturbar-me, que tenho de me ver livre dele!
É que eu já andava meio azucrinado, a Drª já estava sob observação de rating, com tendência para descer, desde o momento em que após a nomeação comentou descontraidamente que embora não percebesse nada da(s) pasta(s) que ia ocupar, isso não era problema porque também no Parlamento tinha sido nomeada porta-voz da Comissão do Orçamento, que era matéria que não conhecia e que agora no fim já conseguia interpretar um quadro orçamental... que era uma pessoa estudiosa e trabalhadora e que daqui a algum tempo já teria umas luzes sobre agricultura, etc, etc..
Só que não é suposto um cargo ministerial ser uma bolsa de estágio para curiosos - não há gente neste país que perceba das matérias sobre que tem de decidir ao mais alto nível?
Não me pareceria bem, se estivesse doente, ser observado por um advogado que andasse a ler umas coisas sobre doenças, nem entregaria o projeto da minha casa a um gestor que gostasse de folhear umas revistas de arquitetura!
E você?
(ainda por cima o Mar, tão nas bocas de todos, como um possível setor estratégico alternativo! )
Adenda: isto não tem nada de ideológico ou partidário, desejo a este governo a maior sorte, no meu interesse!, mas há coisas que me não dão paz, (o que não é de agora!), e quando vejo muito mais que o meu 14º confiscado (qual 50%!), começo a ficar muito exigente!
As ilhas Cies
O The Guardian em 2007, considerava as ilhas Cies, como a primeira praia das "10 mais" do Mundo.
A primeira é naturalmente aquela onde estivermos e nos sentirmos bem! Foi concerteza o que aconteceu ao avaliador inglês!
Andava há anos para uma visita e calhou agora.
Embarca-se em Vigo ou Baiona e em 50 minutos chega-se ao topo norte deste areal que aqui se vê.
Depois tem uma bela praia e alguns quilómetros de caminhos para explorar de uma ponta à outra da ilha.
As regras conservacionistas são estritas - o lixo, cada um carrega consigo, num saco que é atribuído na compra da passagem, nem a erosão de uma muleta é permitida na ilha ( quem precisar tem uns substitutos assentes em ventosas! ), dormir só num campismo com condições básicas, etc.
O sítio é de facto muito bonito, mas apesar de estar limitado o número de visitantes diários, não pense que se vai sentir o Robison Crusoé! Contudo, os visitantes dispersam-se e não há noção aflitiva de enchente!
Devo dizer que o que mais me intrigou (eu intrigo-me muito, como já devem ter reparado!), foi que num local em que a preocupação dominante é a proteção da vida selvagem e a defesa de qualquer agressão à Natureza, autorizassem umas centenas de animais a exporem-se ao sol inclemente, nas horas de maior radiação!...
Passei um belo dia, quiçá regresse para uma pernoita, que permitirá o desfrute do local em ambiente mais restrito, que bem merece!
quarta-feira, 20 de julho de 2011
No Coração Desta Terra
1. Hoje, o meu pai trouxe para casa a sua noiva. Atravessaram planícies, toque-toque, numa carreta puxada por um cavalo, com uma pena de avestruz a adejar na cabeça, suja por causa da longa caminhada. Ou talvez tivessem sido puxados por duas mulas de plumas - também era possível. O meu pai vinha de fraque e cartola, a noiva trazia um chapéu de aba larga e um vestido branco apertado na cinta e no pescoço. Não posso contar mais pormenores a não ser que os invente, já que não os vi chegar. Estava no meu quarto, de portadas fechadas, no lusco-fusco esmeralda do fim de tarde, a ler um livro ou, o que seria mais provável, deitada, com uma toalha húmida nos olhos por causa da enxaqueca. eu sou das ficam no quarto a ler, a escrever ou curar a enxaqueca. As colónias estão cheias de raparigas assim, mas nenhuma, acho eu, tão radical quanto eu.
J.M. Coetzee (n.1940), escreve em 1977 "No Coração Desta Terra".
J.M. Coetzee (n.1940), escreve em 1977 "No Coração Desta Terra".
Um discurso obcessivo, prisioneiro da mente alucinada de Magda, uma "menina" colonial a quem a solidão numa quinta agreste da estepe africana, empurrou para a loucura.
Apontado como uma metáfora da situação social, cultural e rácica da África do Sul, o livro fez-me lembrar a estrutura narrativa de "Estorvo", o primeiro livro de Xico Buarque, de que não guardo boa memória.
Apesar do contexto concentracionário do monólogo, comum a ambos os livros, Coetzee revela uma mestria literária que faltou em Buarque.
Livro duro, sobre uma realidade em carne viva, em que o discurso vai vagueando por diferentes alternativas, aparentemente incompatíveis, mas provavelmente complementares - um pai distante ou um pai violador?, uma filha assassina ou uma cuidadora perdida?, uma patroa branca violada ou fantasias virginais doentias?, uma jovem madrasta concorrente ou uma criada violentada? ou tudo isso e mais a inexorável decadência de uma sociedade bipolar, na eminência de um conflito de povos e culturas?!
Escrita seca a condizer com a paisagem e o contexto histórico, no primeiro sucesso de uma carreira literária que passaria pelo Nobel - um autor a revisitar!
Escrita seca a condizer com a paisagem e o contexto histórico, no primeiro sucesso de uma carreira literária que passaria pelo Nobel - um autor a revisitar!
terça-feira, 19 de julho de 2011
O Original
Tiro ao Álvaro
De tanto levá "frechada" do teu olhar
Meu peito até parece, sabe o quê?
"Táubua" de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furá.
Teu olhar mata mais
do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano.
Teu olhar mata mais
que atropelamento de "automóver"
Mata mais
que bala de "revórver".
De tanto levá "frechada" do teu olhar
Meu peito até parece, sabe o quê?
"Táubua" de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furá.
Teu olhar mata mais
do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano.
Teu olhar mata mais
que atropelamento de "automóver"
Mata mais
que bala de "revórver".
Meu peito até parece, sabe o quê?
"Táubua" de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furá.
Teu olhar mata mais
do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano.
Teu olhar mata mais
que atropelamento de "automóver"
Mata mais
que bala de "revórver".
Tiro ao Álvaro!
O novo ministro da economia, transportes, energia e trabalho, é para a generalidade dos portugueses um desconhecido.
Depois do episódio inicial - "não me chamem ministro, chamem-me Álvaro", parece ter-se eclipsado da cena pública, mas deixou-me uma ponta de curiosidade em conhecê-lo melhor naquilo que parecia ser um misto de ingenuidade, inexperiência e euforia do poder!
Vai daí, depois de umas visitas ao seu blogue, comprei dois livros da sua autoria, um mais técnico - "O medo do insucesso nacional", outro do domínio do "ensaio filosófico" - "Diário de um Deus Criacionista".
Já vira referenciado esse particular do seu curriculum, por inúmeros comentadores, que seguramente não viram nem leram as obras - as edições são de 3000 exemplares e estão a ser vendidas a peso pelo editor. (É aliás uma tendência pós-moderna preocupante, de que o que conta é o ter publicado - tantos artigos, tantos livros, e não a natureza do que lá está!)
O Diário de um Deus Criacionista, publicado em 2007, numa altura em que o seu autor já tinha 35 anos e um doutoramento em economia, é um livro inquietante.
Não se percebe como alguém, já passada a conturbação hormonal da adolescência, é capaz de escrever aquele texto e além disso considerar que se tratava de matéria publicável.
Pondo-se no lugar de um Deus, seguramente consumidor de psicotrópicos, imagina-se como Criador de um Universo paralelo delirante, brindando-nos com pérolas inclassificáveis, como 3 páginas inteiras de designações para os dinossauros que imaginou, frases do tipo mmmuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitttttttttttttttttttttoooooooo iiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnntttttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeee eeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeeeeeeeessssssssssssssssssssaaaaaaaaaaaannnnnteeeeeeeeee", a ocupar 3 linhas de texto com duas palavras inchadas e outros delírios de escrita e grafia que não se imaginariam fora de um diário adolescente.
De repente, o que tinha sido uma incipiente simpatia pelo personagem, transformou-se numa preocupação e um alerta para a necessidade de monitorização apertada, para alguém que ocupa atualmente um dos lugares chaves para o futuro do país.
O contexto fez-me recordar uma entrevista da mãe de José Sócrates a Herman José, num dia da mãe, numa altura em que o filho era há pouco tempo ministro do ambiente e em que expondo publicamente uma personalidade muito perturbada, anunciava ao país que o seu filho era um ministro de Geová, como ela, e que o seu Zé ia mudar Portugal - o que de facto aconteceu! (Curiosamente esta entrevista deve ter sido removida dos arquivos da RTP, pois nunca a consegui reencontrar!)
Os menos de 3000 portugueses que tiverem acesso a este livro, têm a obrigação moral de alertar o país para o risco em que está - depois não digam que não foram avisados!
(Lembram-se do último ministro da economia que saiu do Governo a fazer corninhos ...?)
sexta-feira, 1 de julho de 2011
quinta-feira, 30 de junho de 2011
ATÉ QUANDO AGUENTA O BURRO?
Aumento do IVA, IRS, IMI, IMT, impostos extraordinários sobre 13º mês, redução de 10% nos salários da Função Pública, aumento dos transportes, taxas moderadoras, fim de múltiplas isenções.
Quando perdermos o contacto com o solo, só nos restará espernear (ainda que não dê resultado nenhum!)
quarta-feira, 22 de junho de 2011
No Caminho!
Este blogue encontra-se em trânsito pedestre pelo Caminho Francês até Santiago, com um estreante de 11 anos!
Bom caminho!
Bom caminho!
sábado, 18 de junho de 2011
RECADO MUITO OPORTUNO!
Paul Krugman, 57 anos, prémio Nobel de Economia (2008), colunista do "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA), escreve um interessante artigo no NYT de 12/06/2011, sobre sistemas de saúde.
O artigo que pode ser lido aqui em inglês ou em português, diz coisas como as seguintes, que desde já deixo ao cuidado do novo ministro da saúde, com a gestão de um seguro privado de saúde no curriculo:
" De vez em quando, um político aparece com uma ideia tão má, tão disparatada, que quase ficamos satisfeitos. É que as ideias seriamente disparatadas podem ajudar a ilustrar a que ponto o discurso político descarrilou. (...)
Os Estados Unidos têm o sistema de saúde mais privatizado entre os países avançados. Também oferecem, de longe, a saúde mais cara, sem que isso represente vantagem clara de qualidade, apesar de todos esses gastos. A saúde é uma área na qual o setor público consistentemente faz um trabalho melhor que o privado, no controle de custos. (...)
Nada do que estou afirmando, é claro, deveria ser tomado como razão para complacência sobre a alta nos custos da saúde. Tanto o Medicare quanto os planos privados de saúde serão insustentáveis a menos que haja esforços sérios de controle de custos - do tipo prescrito no pacote de reformas da saúde e descrito pelos republicanos demagogos como "painéis da morte". "
O artigo que pode ser lido aqui em inglês ou em português, diz coisas como as seguintes, que desde já deixo ao cuidado do novo ministro da saúde, com a gestão de um seguro privado de saúde no curriculo:
" De vez em quando, um político aparece com uma ideia tão má, tão disparatada, que quase ficamos satisfeitos. É que as ideias seriamente disparatadas podem ajudar a ilustrar a que ponto o discurso político descarrilou. (...)
Os Estados Unidos têm o sistema de saúde mais privatizado entre os países avançados. Também oferecem, de longe, a saúde mais cara, sem que isso represente vantagem clara de qualidade, apesar de todos esses gastos. A saúde é uma área na qual o setor público consistentemente faz um trabalho melhor que o privado, no controle de custos. (...)
Nada do que estou afirmando, é claro, deveria ser tomado como razão para complacência sobre a alta nos custos da saúde. Tanto o Medicare quanto os planos privados de saúde serão insustentáveis a menos que haja esforços sérios de controle de custos - do tipo prescrito no pacote de reformas da saúde e descrito pelos republicanos demagogos como "painéis da morte". "
FLIP,FLAP! FLOP?
No novo Governo:
Por Formação:
Seis licenciados em Direito ( Paulo Portas, Miguel Macedo, A. Cristas, Aguiar Branco, P. Teixeira da Cruz, P. Mota Soares) - 50%
Quatro em Economia e Gestão ( P. Passos Coelho, Vitor Gaspar, Álvaro Pereira, P. Macedo) - 33%
Um matemático (N. Crato) e um Cientista Político (M. Relvas)
Por Nascimento:
Em reconhecimento pela sua infância passada em Angola, Passos Coelho convida 3 ministros (Cristas, Teixeira da Cruz, Relvas) angolanos!
Que pena não termos tido um primeiro, minhoto!
Por Formação:
Seis licenciados em Direito ( Paulo Portas, Miguel Macedo, A. Cristas, Aguiar Branco, P. Teixeira da Cruz, P. Mota Soares) - 50%
Quatro em Economia e Gestão ( P. Passos Coelho, Vitor Gaspar, Álvaro Pereira, P. Macedo) - 33%
Um matemático (N. Crato) e um Cientista Político (M. Relvas)
Por Nascimento:
Em reconhecimento pela sua infância passada em Angola, Passos Coelho convida 3 ministros (Cristas, Teixeira da Cruz, Relvas) angolanos!
Que pena não termos tido um primeiro, minhoto!
sexta-feira, 17 de junho de 2011
O meu poeta é ...
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
7-11-1915
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
1ª publ. in Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.
Enquanto isso, conforme explicam aqui ...
Fernando Pessoa disse que está bem mais leve depois que passou a ser um só. “Além de mala, aquele Alberto Caeiro não pegava ninguém."
Gavetas!
Hospital Sirah - Brasília, de João Filgueiras Lima (Lelé) - 1980
Cómoda Morgana de Daniele Lago, para Lago (1996).
Hotel Axis, Viana do Castelo, de Jorge Albuquerque, 2008
quinta-feira, 16 de junho de 2011
INDÍCIOS PREOCUPANTES
Face à percepção da situação catastrófica do país, os portugueses viram-se nas últimas eleições arrastados numa vaga política que deixou pouca margem de opções para a sua escolha.
Na realidade, o povo, o eleitorado, nós todos, mesmo os que não votaram, mais não fizeram que ratificar a que pareceu ser a única saída para a situação desesperada em que nos encontrávamos e que só foi realmente percebida mesmo na eminência do abismo!
Para os muitos (poucos!) que alertavam há anos para a insustentabilidade das políticas seguidas, fica-lhes a consolação de terem tido razão... só que antes do tempo, o que quer dizer que irão sofrer como os outros, as consequências de todas as imprevidências e dislates praticados!
Concordo que estas eleições foram perdidas e não ganhas, que governar neste contexto não vai ser fácil e que há pouca margem para errar!
O próximo primeiro ministro passa uma imagem de insegurança indisfarçável, mas ao mesmo tempo um ar de bem intencionado e inspira-me um sentimento de protecionismo, quanto mais não seja por o meu futuro depender do resultado da sua acção!
Daí, desde já um conselho - apareça pouco na ribalta, sob pena da sua imagem se tornar insuportável para os portugueses em pouco tempo!
Esqueça, o que já parece ser uma obsessão, a privatização das águas, quanto mais não seja por provir de uma empresa que é parte interessada no assunto, ficando ferido de morte se essa imagem de gestor de interesses de Ângelo Correia, se lhe colar à pele!
Depois, não sei se ainda irei a tempo, faça-se cercar de pessoas com espessura política, moral e social - é que nestes primeiros dias de negociação de políticas e programas, a fauna que pululou pelas redações das televisões, trouxe indícios preocupantes sobre o futuro da nação.
Os "barões", os técnicos reconhecidos que tinham aparecido na fase final da campanha desapareceram e as figuras que dão a cara, parecem saídas da comissão de festas duma associação académica - com um discurso esforçado a pretender transmitir a gravidade das suas funções, mas a soar a burlesco e nitidamente a deixar a sensação de não estarem à altura da situação.
O acordo político divulgado com pompa e sem circunstância é duma vacuidade constrangedora - e o acordo programático estará dependente das opiniões de quem aceitar ser ministro (sic)!?
Nota-se a ausência de Catorga (apesar dos disparates!) e de figuras experientes!
Bom, espera-se ansiosamente o anúncio da constituição do governo, que esperamos venha dissipar estas reservas!
Se for escolhido dentre o lote de jovens promissores que temos vindo a conhecer, estamos fritos!
terça-feira, 14 de junho de 2011
"CONNECTICUT YANKEE IN KING ARTHUR´S COURT"
Mark Twain, considerado o "pai" da literatura americana, escreve em 1889 "Um americano na corte do Rei Artur". Trata-se de uma escrita mordaz e despreocupada, que relata uma viagem espaço temporal de um Yankee de Conneticut que aparece "mágicamente" na Bretanha do século VI, na sequência duma pancada na cabeça.
Dotado dos conhecimentos técnicos e científicos da era Industrial, Hank Morgan corresponde para o bem e para o mal, à imagem que ainda hoje temos dos americanos - empreendedores, autoconvencidos, desconhecedores e indiferentes às realidades culturais, religiosas e sociais, que não as suas.
Introduzindo-se com mestria no círculo próximo do Rei Artur, conseguindo desacreditar o influente mago Merlin e substituindo-se no seu papel de grande feiticeiro - neste caso recorrendo a meios técnico-científicos com 14 séculos de vantagem e não à credulidade popular, o nosso Internauta ascende ao estatuto de The Boss ("o Mestre", na tradução portuguesa), implementando uma série de iniciativas que vão desde a publicidade e o marketing, à formação de escolas técnicas, onde pontifica mesmo uma West Point medieval, onde se formarão os seus lugares tenente.
Despreocupado com a coerência plausível do relato e dotado de um humor próximo do non-sense (retomado quase um século depois por Monty Python e sequelas), Mark Twain equipa a Inglaterra dos cavaleiros da Távola Redonda, de Telégrafos, Caminhos de Ferro, Centrais Elétricas e consegue pôr uma nobreza que considerava inútil e ignorante a maquinistas e guarda freios. E como não tenha sido fácil fazê-los desistir das suas pouco práticas armaduras, cria uma unidade de cavaleiros encasulados em aço, montados em rápidas bicicletas...
De leitura agradável e sempre com um sorriso na mente, o leitor tem permanentes motivos de divertimento, como o nome carinhosamente dado por Sandy, especializada nos relatos infindáveis das façanhas do marido, à filha que concebe do americano - Alô Central, a palavra com que esta abria as comunicações telefónicas.
Contudo o livro não se resume ao resultado da prodigiosa imaginação de Mark Twain em completa roda livre. Reflete de forma muito incisiva sobre questões de todos os tempos - a irracionalidade das massas populares e o papel da crendice e da religião nesse processo, a desconfiança com o novo, a necessidade de recorrer ao mágico e a uma aura de superioridade, em vez da evidência da razão, para se afirmar junto do povo e do poder!
E o fim, é a mais eloquente prova da máxima que "não adianta ter razão antes do tempo" e de que nada se consegue contra tudo e contra todos - mesmo que se detenha o poder máximo, é indispensável ter o apoio e a compreensão dos demais, para se conseguir afirmar. Verdade, que infelizmente ainda hoje os americanos (e outros) parecem não ter percebido.
O livro e a sua "mensagem" principal são de uma atualidade gritante - o "Boss" acolitado pelos seus 52 agentes West Point, consegue, mercê de uma engenhosa tática militar, atingir uma supremacia indestrutível, mas vê-se na iminência de um extermínio em massa, já que não consegue conquistar ninguém para o seu campo. E num arremedo final de bom-senso, apesar do seu poderio supremo, desiste do seu sonho de dominação, abandonando todos os projetos.
Quem olha, despido de preconceitos, para as intervenções dos USA no Vietnam, no Iraque, no Afganistão, na Líbia e aprecia as suas habituais saídas de sendeiro dos teatros de terror que instala, percebe que esse erro já tinha acontecido no sec. XIX, com um Yankee de Conneticut e que houve um escritor de nome Mark Twain que escalpelizou as razões desse infortúnio, sem daí ter resultado grande proveito para a nação que o entronizou como escritor.
FIOS CONDUTORES DA HISTÓRIA
Em 1932, o carpinteiro dinamarquês Ole Kirk Christiansen toma a decisão que mudaria a sua história e a do Mundo. Dois anos antes, em 1930, era um dos milhões de desempregados da Depressão Econômica e começa a produzir brinquedos de madeira para crianças. Mas é em 32 que em companhia de seu filho de 12 anos, inicia formalmente a LEGO – junção das palavras dinamarquesas “Leg” e “Godt” (brincar bem).
Até ao final dos anos 40 fabrica diferentes tipos de brinquedos em madeira e plástico, inclusive um de montar em formato de “tijolos”, que se encaixavam e formavam figuras, animais, objetos, mas é em 1958, ano da morte de Ole e com o negócio já na mão de seu filho Godtfred, que este se começa a concentrar no que denominou de LEGO System of Play.
Dois anos depois, após um incêndio que destruiu a sua fábrica, explora a fundo este conceito, do qual viria a resultar um dos mais bem sucedidos negócios na área do brinquedo.
Numa estratégia de difundir e reforçar a imagem da marca, construiu seu primeiro parque temático LEGOLAND – Cidade Lego - em 1968, na pequena cidade de Billund, na região oeste da capital da Dinamarca, onde tudo começara: são 55 milhões de peças formando diferentes e surpreendentes figuras, já visitado por mais de 33 milhões de pessoas desde sua abertura.
De lá para cá, abriram novos Legolands na Grã-Bretanha (1996), em Carlsbad, Califórnia (1999) e, no ano de 2002 abriu o quarto parque temático em Gunzburg, cidade da Baviera Alemã.
No passado fim de semana, em Paredes de Coura, decorreu o 2º Arte em Peças, um evento Lego, com uma exposição de construções notável, envolvendo cerca de 2,5 milhões de peças e distribuídas por uma série de áreas temáticas ( Castelo, Cidade, Far-West, Star Wars, Technics, etc.).
A iniciativa que contou com a colaboração da marca (com a presença de um "Lego builder", português, que explicava o processo criativo dos novos jogos e peças), incluía uma série de iniciativas lúdicas, das quais destaco um enorme playground, no palco do Centro Cultural, onde 3 gerações de construtores podiam brincar e construir o seu projeto, com as milhares de peças disponíveis.
Brincar e se possível de forma inteligente, utilizando uma matriz testada já por 3 gerações, que promove a motricidade fina e a imaginação, é uma prática enriquecedora, barata e com resultados positivos social e individualmente.
O enorme esforço, que um grupo de entusiastas (Associação 0937) tem para pôr de pé esta iniciativa é meritório e altamente recompensador para todos que nele participam. Parabéns!
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Comics and Animation Museum
O escritório holandês MVRDV venceu o concurso para o Comics and Animation Museum, em Hangzhou, China.
A obra será construída em 2012.
Sendo eu um aficcionado da banda desenhada, rejubilo e percebo que visitar a China terá cada vez mais motivos de interesse para lá dos históricos!
Já não é no universo das imitações de plástico que estamos!
É da vanguarda da Cultura e da Modernidade que falamos - e quanto se atinge esse ponto, está consolidada a liderança
Numa entrevista recente, Sobrinho Simões, referia que dava aulas como professor associado numa universidade chinesa, de uma cidade para nós desconhecida, e que não sendo no panorama chinês nada de extraordinário, tinha condições quer técnicas, quer científicas, muito superiores às que dispunha em Portugal.
Um dia destes um colega meu a comentar um artigo científico que punha em causa práticas arreigadas no nosso meio, contrapunha se não notávamos que o nome dos autores eram todos estranhos (em tom de chacota).
A maior parte das pessoas ainda não percebeu que o Mundo já mudou ...
quinta-feira, 2 de junho de 2011
REI ARTUR - NOTA HISTÓRICA
Daqui retiro esta resenha histórica:
"O Rei Artur é uma figura lendária Britânica que, de acordo com histórias medievais e romances, teria comandado a defesa contra os invasores Saxões chegados à Grã-Bretanha (ou Bretanha como era conhecida na época) no início do século VI. Os detalhes da sua história são compostos principalmente por folclore e literatura, a sua existência histórica, devido à escassez de antecedentes históricos ou por estes serem retratados em várias fontes, é debatida e contestada por historiadores modernos.
"O Rei Artur é uma figura lendária Britânica que, de acordo com histórias medievais e romances, teria comandado a defesa contra os invasores Saxões chegados à Grã-Bretanha (ou Bretanha como era conhecida na época) no início do século VI. Os detalhes da sua história são compostos principalmente por folclore e literatura, a sua existência histórica, devido à escassez de antecedentes históricos ou por estes serem retratados em várias fontes, é debatida e contestada por historiadores modernos.
A lenda do rei Artur ganha interesse através da popularidade do livro de Geoffrey Monmouth "Historia Regum Britanniae" (História dos Reis Britânicos) embora, o seu nome, tenha surgido em poemas e contos de Gales e da Bretanha, publicados antes deste livro. Neles, Artur surge com um grande guerreiro que defende a Bretanha dos homens e inimigos sobrenaturais e, portanto, associado com o Outro Mundo. Geoffrey descreve o rei Artur como sendo um rei da Bretanha que venceu os Saxões e estabeleceu um Império composto pela Bretanha, Irlanda, Islândia e Noruega.
Na realidade muitos elementos e acontecimentos que fazem parte da história de Artur aparecem no livro de Geoffrey, incluindo Uther Pendragon, pai de Artur, o mágico Merlin, a espada Excalibur, o nascimento de Artur no castelo de Tintagel, Camelot, a sua batalha final em Camlann contra Mordred, e a ilha de Avalon.
A origem do rei Artur tem sido grandemente debatida pelos historiadores e estudiosos. Alguns acreditam que ele é baseado nalguma personagem histórica, provavelmente um chefe guerreiro da Bretanha que tenha vivido entre a Antiguidade Tardia e o inicio da Idade Média, donde terão sido criadas as lendas que hoje conhecemos. Outros acreditam que Artur é pura invenção mitológica, sem nenhuma relação com qualquer personagem real.
Em finais do século V, Ambrosius Aurelianus, um romano da Bretanha, consegue derrotar os Saxões na famosa batalha de Mons Badicus. Entretanto a situação inverte-se e os reinos celtas da Bretanha ficam reduzidos à Cornualha e a Gales.
No século VIII, Nennius, um Bretão, fala dos feitos de um comandante militar de nome Artur, que teria vencido 12 batalhas contra os Saxões. Mas, segundo os historiadores, Nennius tinha uma tendência de preencher lacunas com factos por ele inventados. Ele poderia muito bem ter embelezado a narrativa conforme as necessidades. Não foi ele, no entanto, o primeiro a referir o nome de Artur, já que baladas galesas do século VII, falavam num rei aventureiro do norte da Bretanha, que enfrentava seres fantásticos e corrigia injustiças.
No século VIII, Nennius, um Bretão, fala dos feitos de um comandante militar de nome Artur, que teria vencido 12 batalhas contra os Saxões. Mas, segundo os historiadores, Nennius tinha uma tendência de preencher lacunas com factos por ele inventados. Ele poderia muito bem ter embelezado a narrativa conforme as necessidades. Não foi ele, no entanto, o primeiro a referir o nome de Artur, já que baladas galesas do século VII, falavam num rei aventureiro do norte da Bretanha, que enfrentava seres fantásticos e corrigia injustiças.
Nos finais do século XII, Chrétien de Troyes, escritor francês, escreve contos sobre as aventuras do Rei Artur, Sir Lancelot, Guinevere, o Santo Graal, Percival, Gawain, etc. Ao apoiar-se nos mitos populares, deu-lhes o seu cunho pessoal e iniciou o género de romance arturiano que se tornou numa importante vertente da literatura medieval. Artur e as suas personagens eram muito populares na época e as histórias a partir da Bretanha, tinham-se espalhado por outros países. Salientam-se aqui algumas obras pela importância que tiveram para o nascimento do mito: O ciclo da "Vulgata" francesa (também conhecida como Matéria da Bretanha), "Parzival" de Wolfram von Eschenbach, "La Mort d'Arthur" (A Morte de Artur) de Thomas Mallory.
O romantismo do século XIX fez renascer o interesse pelo tema (inclusive autores americanos como Mark Twain com o seu "Um Americano na Corte do Rei Artur" homenageiam o género).
No século XX, autores como Stephen Lawhead ( O ciclo Pendragon), Bernard Cornwell (O ciclo de "As Crónicas do Senhor da Guerra") e principalmente Marion Zimmer Bradley, conceituada escritora da ficção científica com "The Mists of Avalon" (As Brumas de Avalon) ou a "Saga de Avalon", completaram o trabalho mantendo vivo o interesse.
O romantismo do século XIX fez renascer o interesse pelo tema (inclusive autores americanos como Mark Twain com o seu "Um Americano na Corte do Rei Artur" homenageiam o género).
No século XX, autores como Stephen Lawhead ( O ciclo Pendragon), Bernard Cornwell (O ciclo de "As Crónicas do Senhor da Guerra") e principalmente Marion Zimmer Bradley, conceituada escritora da ficção científica com "The Mists of Avalon" (As Brumas de Avalon) ou a "Saga de Avalon", completaram o trabalho mantendo vivo o interesse.
Sem fim à vista, toda a polémica sobre a existência ou não do Rei Artur, continua bem viva: os historiadores, depois duma crítica ao mito, limitam-se a manter uma reserva sobre o assunto; os arqueólogos (e estudiosos) preferem falar de um período sub-romano, definindo assim aquilo que poderia ser o período arturiano: os séculos V e VI. "
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
E CONTUDO MOVE-SE ...
O actual panorama político, social e ideológico, quer em Portugal, quer no Mundo, não é particularmente estimulante!
As ideologias como expressão de uma visão sobre o Mundo e de agregação de perspectivas sobre o funcionamento da sociedade num todo coerente, caíram aparentemente em desuso. Hoje discutem-se desgarradamente medidas, sendo normal termos o bloco de esquerda e o partido popular a reclamarem como suas, as mesmas iniciativas e intenções, disputando um eleitorado desideologizado, que se orienta numa lógica pragmática.
Costumo há muito brincar, que não sou de direita, nem de esquerda ... estou é à frente!
Considero que há muitas áreas de decisão política em que as ideologias têm pouco a ver com as opções, nomeadamente na gestão autárquica, em que realmente do que se trata, é de encontrar as melhores soluções técnicas para desafios concretos do dia à dia.
Sou também da opinião, que independentemente das ideologias, a inteligência dos intervenientes é normalmente o mais importante...
Pese tudo o que foi dito, um esqueleto ideológico onde assentem as nossas convicções é indispensável - porque subjacente a tudo está uma ideia sobre a sociedade, que deve ser discutida, melhorada, racionalizada e porque, como se costuma dizer, isto está tudo ligado, e é fundamental que as prospostas para as diferentes áreas - sociais, económicas, culturais - sejam compatíveis e articuladas.
Neste tempo "sem ideologias" (será essa a ideologia!) há uma coisa que continua a ter validade: quando as coisas correm mal, estoura por algum lado - ninguém suporta uma incomodidade para além do seu limiar de tolerância, durante muito tempo!
Surgem assim uns movimentos invertebrados, em Portugal e Espanha ( lá 15-M, cá 12-M ), que expressam o mal estar de um importante sector da sociedade - os mais jovens!
Convenhamos que uma sociedade, que exclui da vida activa o seu grupo mais pujante, com mais energia, no período da vida em que tem mais entusiasmo e capacidade de inovar e arriscar, a troco de prolongar no mercado de trabalho os mais velhos, mesmo contra a sua vontade, tem um problema estrutural grave para resolver.
Tal estado de coisas, resulta apenas da necessidade de resolver uma questão "contabilística" - atrasar a idade da reforma por dificuldades no seu financiamento - mas não constitui uma solução socialmente aceitável, como concordarão os mais inteligentes de qualquer quadrante ideológico.
É uma pseudo solução, que em si constitui um novo e grande problema - cria descontentamento, nos mais novos e nos mais velhos e ao afastar os com maior potencial produtivo do trabalho, mina as bases de todo o progresso económico e social.
Os novos movimentos emergentes são o sinal socio-político mais interessante dos últimos anos - uma juventude com um nível de formação intelectual sem precedentes, sem ideologia política, com um patamar elevado de expectativas socio-económicas, anuncia que foi ultrapassado o seu limiar de aceitabilidade. Para já é só isso - um movimento da juventude burguesa que ainda não sabe como expressar orgânicamente a sua ambição, que se junta para fazer "prova de vida".
Entretêm-se nestes meetings inaugurais, como foram educados para o fazer nos jardins de infância que frequentaram - com pinturas, músicas, danças, iniciativas cívicas ... e começam a organizar uma matriz onde encaixe o seu descontentamento ...
Mas nunca mais pararão, até se resolverem os problemas mais importantes que fizeram disparar esta mola ... perceberam entretanto que existem e que não têm nada a perder ...
Aqueles que os acusaram de ser amorfos e sem iniciativa, têm agora um boa ocasião de mostrarem o seu apoio na resolução de um problema que é de todos - uma sociedade sem convicções, movida por pragmatismo e interesses, entregue a uma clique política incompetente e com um nível de tolerãncia à corrupção e à ineficácia, intoleráveis!
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Gigões e Anantes
Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais outros são um bocado menos.
Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse nem se sabia se ele cabia ou não.
Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar:
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!
Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante fingia que não.
A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.
MANUEL ANTÓNIO PINA
Foi o primeiro livro que li de Manuel António Pina, em 1974!
Fiquei desde aí cliente da literatura infantil, que na altura era geralmente mais "básica"!
Habituei-me a tê-lo na mesa ao lado no Orfeu(zinho).
Como cronista desencantado (curiosamente ou não, expressa aqui uma opinião idêntica à de um meu post recente) gostei sempre de o ler!
Fico pois muito contente com o Prémio Pessoa 2011!
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais outros são um bocado menos.
Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse nem se sabia se ele cabia ou não.
Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar:
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!
Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante fingia que não.
A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.
MANUEL ANTÓNIO PINA
Foi o primeiro livro que li de Manuel António Pina, em 1974!
Fiquei desde aí cliente da literatura infantil, que na altura era geralmente mais "básica"!
Habituei-me a tê-lo na mesa ao lado no Orfeu(zinho).
Como cronista desencantado (curiosamente ou não, expressa aqui uma opinião idêntica à de um meu post recente) gostei sempre de o ler!
Fico pois muito contente com o Prémio Pessoa 2011!
Fanny Owen
" O rio Douro não teve cantores. Teve-os o Mondego e o Tejo também. Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado. Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira. E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso."
Agustina Bessa-Luís escreve Fanny Owen (1979) como corolário dum trabalho de investigação para os diálogos de Francisca (1981), encomendados por Manoel de Oliveira.
É para mim desde logo agradável o entorno - a rua de Cedofeita, Vilar de Paraíso, a Foz, o Douro, descritos por alguém que conhece e ama essa geografia, que também é a minha.
O romance, assente em factos reais a que Agustina tenta ser o mais fiel possível, recorrendo mesmo a um trabalho de colagem, pondo na boca das personagens frases extraídas dos seus diários, livros ou artigos, comporta dentro de si um segundo nível, ensaístico, em que a autora comenta os sentimentos e acontecimentos, numa perspetiva psicanalítica de distanciamento e interpretação.
A história de Francisca Owen Pinto de Magalhães (1830-1854), no centro de um doentio triângulo de intriga e amor, que opõe Camilo Castlo Branco e o seu "amigo" José Augusto, termina com a morte do infortunado casal.
Agustina transporta-se e transporta-nos, com mestria, para o ambiente romântico da época, onde o amor para soar a verdadeiro tinha que ser mitificado, sendo a felicidade inconcebível sem o adorno do sofrimento.
Não tendo tido nós um Goethe ascético, angustiado, mas profundo, tivemos umas décadas mais tarde uma sua versão manhosa, interesseira e macabra, na figura de Camilo ( Agustina nas suas impressões embebidas no romance, cita profusamente Holderlin (1770-1813) contemporâneo de Schiller e Goethe, também ele declarado louco na sua época.).
Francisca morre mais de amor do que da tuberculose que seguramente tinha?
E as perturbações do humor e do comportamento não seriam também elas consequência da doença, que integra nas suas formas avançadas também uma componente psiquica e emocional bem documentadas!?
E José Augusto seria apenas um doente emocional, refém do seu pretenciosismo provinciano e literário, ou estaria dependente do consumo de opiácios (o miraculoso láudano), de uma overdose dos quais viria provavelmente a falecer, no mesmo ano de Fanny!?
Esta é uma história real, que demonstra que o universo literário de Camilo, não se afastava da sua realidade existencial - relações de amor/ódio, uma burguesia sem referências morais ou culturais sólidas, amigos insanes capazes de solicitar uma autópsia para apurar da virgindade da sua esposa, de quem guardam o coração em álcool, como relíquia macabra de uma veneração doentia!
Um grande romance!
PS: Muito oportunamente esta obra sucedeu no Clube do Livro à "Cidade e as Serras", já que a Quinta do Lodeiro de José Augusto Pinto de Magalhães (na foto), para a qual Fanny foi viver após o seu rapto e atá à sua morte, dista uma pequena caminhada da Quinta da Vila Nova, de Tormes, onde Jacinto viveu o seu romance bucólico e solar.
Como o mesmo espaço geográfico, pode albergar paisagens de alma tão diversas - os girassóis que iluminaram Jacinto na sua chegada a Tormes, deram lugar aqui a crisântemos agoirentos entre brumas de desconfiança e ciúme.
Andar de bicicleta!
Recentemente numa visita a Itália surpreendi-me com a dimensão da utilização urbana e quotidiana da bicicleta. Conhecendo o fenómeno mais para o Norte da Europa, constatei que os Italianos usam a bicicleta na sua dimensão prática de meio de transporte, de uma forma absolutamente generalizada, em todas as idades, classes sociais ou profissionais.
Fazem-no para ir trabalhar, ir às compras, de fato, de saia casaco, de sobretudo ou de jeans.
Também em Portugal a utilização da bicicleta tem tido um incremento notável!
Só que em Portugal essa utilização tem uma vertente de ócio ou desportiva, fazendo os portugueses questão de se vestir apropriadamente para o momento - pondo uma camisa de licra, um capacete, uns ténis apropriados, não vão pensarem que anda de bicicleta por não ter dinheiro para o carro.
E raramente a utilizam de forma útil, na actividade normal do dia a dia!
Estranho povo este que vive de aparências e fantasias!
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Meu nome é Fernando T.S.
A minha triste sina (TS) é ter-me transformado num jarrão!
Como o meu semblante denunciava, fui seviciado, ameaçado de represálias sobre a família, pelo que aceitei comparecer ao velório, sob a forma de adereço!
O meu cabelo branco, disseram-me, fazia o mesmo papel de um bouquet de agapantos, que a situação aflitiva da família não permite comprar!
Penso que todos comprenderão que foi o sentido do dever que me levou a ceder!
Afinal, depois da conversa com o José, tenho dúvidas se o pai já estaria mesmo morto antes do Pedro abrir a porta., como em tempos cheguei a sugerir ou se só morreu depois dos telefonemas, desculpe, da abertura da porta ...
Sinto-me baralhado, apertaram-mos com muita força!
Eu não tive nada a ver com isto, carreguei a pistola, mas era para matar a mosca, foi o que me garantiram ...
BOAS NOTÍCIAS
Queria vos dizer que consegui um optimo funeral para o pai!
O preço conseguido com a funerária foi muito mais baixo do que o que andavam a dizer por aí!
Além disso terá flores ... de plástico que são mais resistentes e mais ecológicas ...
Um familiar interrompeu o discurso triunfal:
- Mas não fostes tu que o mataste? Ainda te gabas disso?
José, imperturbável, retocou o nó da gravata, recolocou a voz e com uma ar seráfico, elucidou:
- Aproveito para esclarecer, mais uma vez, que o nosso querido pai, por quem eu daria a própria vida, faleceu em virtude do Pedro ter aberto a porta no momento em que eu disparava sobre uma mosca que incomodava o falecido e que em resultado dessa irresponsabilidade, abrir uma porta sem avisar, despoletaram-se uma série de perturbações que culminaram no fatídico desfecho.
Contudo eu estou hoje aqui, para transmitir uma nota de esperança e garantir que estou disponível para assumir a condução desta família, para a qual prevejo um futuro radioso!
terça-feira, 3 de maio de 2011
Uma vitória contra o terrorismo?
Penso que o mundo não terá ficado pior com a morte de Bin Laden!
Não partilho contudo da ideia que tenha ficado melhor!
O primarismo dos americanos permanece inalterado com o decorrer dos tempos - tal como perseguiram Che pela floresta Andina até o conseguirem assassinar, fizeram como objectivo central da sua política antiterrorista a eliminação de um (ex-)lider, jogando com o aspecto simbólico da sua execução.
O terrorismo islâmico permanecerá inalterado, eventualmente mais acicatado nos próximos tempos, pela afronta sentida no mundo árabe fundamentalista.
Os americanos conseguirão com esta manobra justificar a saída do Afganistão, com a ridícula explicação de que o objectivo da vitória sobre o terrorismo islâmico terá sido alcançado!?
Uma saída de sendeiro, a repetir o brilharete do Iraque, deixando atrás de si um rasto de destruição, desorganização social e ódio anti ocidental!
Ver os americanos nas ruas a comemorar o assassínio causou-me impressão. O impulso que os move não me pareceu muito diferente do das multidões fanáticas que saem à rua no mundo islâmico, para comemorar qualquer desgraça que vitime os ocidentais.
Ver os analistas, talvez com razão, dizer que com este trunfo, Obama ganhou novas hipóteses de reeleição, entristeceu-me, mais por ele - emparedado na lógica do populismo e da real politik, que por qualquer outra razão!
Ver o acontecimento comemorado, desde a ONU às redacções dos media, como um triunfo contra o terrorismo, é que não aceito.
Tratou-se, à luz do direito internacional vigente, de um acto de terrorismo de estado, da mesma natureza dos praticados pelos fundamentalistas islâmicos.
Se a justiça do Mundo fosse imparcial, Obama seria julgado num Tribunal Internacional por ter assumido o comando da operação - tratou-se de um raide de comandos americanos, num país estrangeiro, que não foi consultado para autorizar a invasão, procedendo-se a um assassínio de um cidadão residente, sem qualquer sentença judicial de um tribunal independente. O universo dos filmes dos agentes secretos americanos sem identidade, a pairar fora de qualquer control institucional, confirma-se que não é ficcional (veja-se Jason Bourne, interpretado por Matt Damon em Identidade Desconhecida de 2002).
Quem hesitará a exigir o julgamento (ou o assassínio "tout court"!) do presidente do Irão, se este patrocionar um raid em território americano para assassinar Obama ou o chefe da CIA?
O que me choca não é isto acontecer, que já sabia - da vida e dos filmes - que o Mundo é assim, o que me choca, é não ver ninguém, com importância institucional, indignar-se com isto!
Cinque Terre
A partir de La Spezia, na Ligúria, apanha-se um comboio regional que dá acesso a estas cinco vilas - Riomaggiore a primeira - que se podem percorrer a pé, em fantásticos trilhos sobre o Mediterrâneo.
O trajecto mais fácil, junto à água, tem cerca de 15 kms e estava fechado para manutenção, apenas se podendo percorrer o Km inicial até Manarola - Via dell`Amore, um pesadelo de turistas e grupos, apesar da beleza do entorno.
Daí para a frente e como não restavam alternativas, percorreram-se os trilhos interiores que sobem em veredas alucinantes entre oliveiras centenárias e vinhedos, desafiando as vertigens e o equilíbrio, percorrendo aldeias perdidas, dum povo que continua a cultivar em locais que se diriam impossíveis e mantendo uma paisagem viva num local deslumbrante e que é Património da Humanidade.
Aí, a frequência dos trilhos, apesar de numerosa, já era mais interessante e chegado a Corniglia depois de uns 10 Kms de subidas e descidas inesquecíveis, aquela pizza singela de molho fresco de tomate com azeite e cogumelos da região, soube-me à melhor de sempre!
O comboio que circula regularmente permite em minutos atingir a próxima terra, no caso Vernazza, onde um sol mediterrânico de Primavera pujante, apelou aos meus instintos reptilíneos, deixando-me a giboiar sobre uma laje junto ao mar.
Para se passar um dia agradável (vindo de Pisa é cerca de uma hora de comboio) e constituindo uma alternativa ao "turismo de monumentos", As Cinque Terre, são uma boa opção. Para uns dias de caminhadas e natureza, também se devem recomendar, tanto mais que à noite com a debandada da turistada, os locais devem ganhar uma beleza suplementar.
domingo, 17 de abril de 2011
Um Compromisso Nacional
Aqui encontrará um manifesto, de um alargado e abrangente conjunto de personalidades, que exigem dos responsáveis políticos, responsabilidade!
Como todos os manifestos abrangentes (ver por exemplo o da geração à rasca), os princípios são suficientemente vagos para caber lá toda a gente.
Mas o ponto chave e sobre o qual começa a parecer desenvolver-se um consenso, é que é crucial unir esforços para ultrapassar o actual estado de calamidade nacional!
Se os atuais dirigentes partidários, que mais parecem lideres estudantis a disputar a associação académica, estão a altura do desafio, é assunto que convém clarificar urgentemente -se não, ponham-se lá outros que sejam capazes!
Nós é que não podemos esperar mais, embalados pelo fado e pelos sucessos futebolísticos lusos!
Como todos os manifestos abrangentes (ver por exemplo o da geração à rasca), os princípios são suficientemente vagos para caber lá toda a gente.
Mas o ponto chave e sobre o qual começa a parecer desenvolver-se um consenso, é que é crucial unir esforços para ultrapassar o actual estado de calamidade nacional!
Se os atuais dirigentes partidários, que mais parecem lideres estudantis a disputar a associação académica, estão a altura do desafio, é assunto que convém clarificar urgentemente -se não, ponham-se lá outros que sejam capazes!
Nós é que não podemos esperar mais, embalados pelo fado e pelos sucessos futebolísticos lusos!
Aos partidos - 3ª pergunta: Haverá despedimentos na Função Pública?
A resposta a esta pergunta só teria interesse na presença de um polígrafo ... e mesmo assim!
Estou convicto que uma medida essencial para a normalização da vida do país é o despedimento de funcionários do Estado, Autarquias, Empresas Públicas, onde se detectar tal necessidade.
A frase sagrada - reestruturar, mas sem despedimentos - tem de ser banida do código de conversação política!
Porque houve autarcas dos mais diferentes partidos que empregaram todos os militantes do concelho em pseudo museus, pseudo empresas municipais, pseudo assessorias, não podemos estar condenados a pagar-lhes um ordenado nos próximos 30 anos!
Se gestores públicos transformaram a Administração em agências de emprego e de pagamento de favores, não posso considerar isso um direito adquirido!
Se Institutos, Fundações se criaram para alimentar o ego e patrocinar a corte de déspotas medíocres, não estou disposto a comprometer-me vitaliciamente por tais dislates!
Se não houver coragem de despedir gente na Função Pública, não haverá qualquer reforma do Estado eficaz. Ponto!
Claro que o que me assusta nisto tudo é saber que são os mesmos que estão na origem dos nossos actuais problemas, quem se perfila para aparecer como grandes reformadores - e aí dispensarão os imprescindíveis e protegerão os afilhados.
Não haverá pois também nenhuma esperança para o País, se não for possível renovar os actores da vida política e o seu padrão de ética e responsabilidade.
Como não temos gente corajosa na governação, nem eleitorado capaz de enfrentar a realidade, temo que o caminho seguido seja mais uma vez o pior: privatizar a Administração Pública, mesmo aquela que é consensualmente indispensável - Saúde, Educação, sei lá que mais - e deixar a tarefa ingrata de redução dos recursos humanos aos bárbaros empresários!
Tenho consciência que a assunção pública de uma opinião como esta levará ao banimento do seu autor, por anos, de qualquer lugar por eleição.
Sei também que de uma política desta natureza resultarão muitos problemas humanos e sociais!
Mais do que isso sei, que eu próprio, posso vir a ser vítima de uma tal reorganização!
Mas o que tem de ser feito, deve ser feito e um cirurgião que hesita amputar um membro gangrenado, não será vangloriado pelo seu humanismo.
Tempos muito difíceis estão aí - assobiar para o lado não resolverá a situação!
Não seria melhor estar calado?
O presidente da Apifarma, representante da Indústria farmacêutica, resolveu emitir opinião sobre como se deveriam comparticipar os medicamentos em Portugal!
Habituados que estamos a tudo, já nem se estranha, mas convem lembrar que a ele compete vender os medicamentos e só!
A definição das políticas sociais e da saúde compete ao governo, em representação do povo, que não pode ficar refém dos interesses do lobby dos fornecedores!
É assim que se esvazia a democracia e vamos entrando neste novo regime de Governo das Corporações (mandam os banqueiros, os industriais, os credores!).
Houve mesmo lugar para todos!
Segundo as contas de Francisco Louçã a poupança resultante dos cortes salariais em 2 anos em toda a Função Pública, equivalirá ao prejuízo resultante da nacionalização do BPN - dois mil milhões de Euros.
Durmo agora mais descansado, sabendo que não foi por causa dos velhinhos com reformas miseráveis, que me vieram ao bolso.
Posso mesmo passar a odiar, o grupo de ladrões que controla o sistema político e económico em Portugal - os mesmos que também querem roubar os velhinhos com reformas miseráveis!
Começo a não ter dúvidas que isto vai acabar á paulada!
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