ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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sábado, 29 de janeiro de 2011

Clint Eastwood - nos cinemas!



Sou da opinião que a primeira referência dum filme deveria ser o seu realizador, como num livro é o escritor, ou num quadro, o pintor.
Isto sem menosprezar os outros co-autores da obra, os atores, o diretor de fotografia, o responsável da banda sonora e por aí além.
Claro que um mau elenco ou o elenco errado, dá cabo de qualquer filme, mas dificilmente um bom intérprete redime uma má realização. Os grandes realizadores estão de resto associados a grandes atores e muitas vezes concebem filmes a pensarem especificamente num intérprete.
Vai esta conversa por mesmo no caso de Clint Eastwood, um realizador popular e reconhecido, no cartaz do seu último filme, aparecer em destaque o nome de Matt Damon e não o seu!
Matt venderá mais que Clint, mas não era assim que as coisas deveriam ser!
Sinal dos tempos!

Matt Damon (nasc. 1970) é de resto um dos meus atores preferidos. Desde o Bom Rebelde (1997, real. Gus van Sant),  que tenho seguido agradavelmente a sua aparição no ecrã - O Talentoso Mr. Ripley (1999, r. A Minghella), Descobrir Forrester (2000, Gus van Sant), Entre Inimigos ( 2006, M. Scorsese), O Bom Pastor ( 2006, Robert de Niro), isto para além da saga Ocean's e duma série de filmes Político/Policiais (Syriana, Ultimatum) em que a sua personagem "baça", casa bem com o do agente secreto ou clandestino. Damon é um ator ao jeito da escola Actor´s Studio, conseguindo anular a sua personalidade e deixar-se encarnar pela personagem, conferindo grande credibilidade e coerência à interpretação, mas mantendo um registo aparentemente discreto e reservado.
Nesta última obra de Eastwwod, Matt contracena com Cécile de France (nasc.1975), agradável surpresa de origem belga e com carreira até agora quase confinada ao universo francófono ligeiro, no papel de uma apresentadora televisiva de sucesso, que após uma quase-morte num tsunami no Pacífico (que constitui a sequência de abertura do filme e só por si vale a sua visualização), vê a sua vida mudada, interessando-se pela questão da vida para além da morte, tema que a levará a Damon, felizmente ainda em vida e aparentemente com muito futuro e proveito para ambos.
Há ainda um terceiro (duplo) personagem, um par de gémeos londrinos, que partilham esta história de três afluentes (S.Francisco, Paris, Londres), numa aproximação a esta temática metapsiquica - a existência de vida depois da morte - que é apenas esboçada e sugerida, não havendo propriamente uma tese sobre o assunto. ( Este é pois um filme candidato a uma bolsa da Fundação Bial. )
Independentemente do que se pensar sobre o assunto, a situação do gémeo sobrevivente, parece ilustrar uma verdade incontornável - há momentos, seja qual for o método utilizado, em que é preciso resolver a culpa, as dependências, apaziguarmo-nos connosco próprios, para seguir em frente e reencontrar a felicidade.

Clint Eastwood não terá aqui um dos seus melhores filmes, mas evita cair em demagogias sobre um tema delicado e consegue um todo coerente.
Dele direi, que nunca me fez sentir a perder o meu tempo, a ver qualquer uma das suas obras.
E nunca esquecerei As Pontes de Madison County (1995), em que contracena com a melhor Meryl Streep de que tenho memória, Bird (1988),  uma biografia de Charlie Parker, onde filma o Jazz de uma forma soberba, Million Dollar Baby (2004), onde aborda profundamente o tema da eutanásia, sem ninguém quase dar por isso.

4 comentários:

  1. Jarra, também gosto do Eastwood.
    Deixe-me dar uma perspectiva de jarrão: o filme trata basicamente da mesma temática do Gran Torino, do Million Dollar Baby, etc. O ponto essencial é o risco, a dor de aceitarmos SENTIR os outros, de sofrermos com eles, afinal o custo de os amarmos.
    A questão disso ser por se ser médium é secundária no filme, como se prova, como bem notou, por o filme ser inconclusivo nesse ponto.
    O essencial NESTE filme é que Eastwood nos diz que isso compensa: os outros pagam-nos (retribuem-nos), como faz o gémeo sobrevivo, e nem sempre SENTIR com os outros é mau, como quando ele sente o AMOR, a Felicidade, na mulher do encontro final...
    Neste sentido diria que é o filme mais explicado de grande parte da sua obra até aqui.
    Entretanto, estou com muita curiosidade quanto ao filme dele sobre o Hoover, visto o Eastwood ser republicano e o Hoover ter sido um patife...!

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  2. A Pinto de Sá, (que sigo atentamente na "Ciência não é neutra", onde embora tratando de assuntos que tecnicamente me escapam, apresenta duma forma didática, uma perspetiva plausível e que me parece bem fundamentada sobre um assunto capital da nossa sociedade - a opção energética!)para além de muito honrado pela sua visita, concordo que a "mediunação" é no filme um recurso instrumental para abordar a questão dos sentimentos, da disponibilidade para os outros, da entrega, da partilha do sofrimento (que contudo pode ser extenuante, como o atesta a personagem de Damon, que prefere viver apenas a sua vida)!

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  3. Sim, mas a "pretensão a viver apenas a sua vida" também já existia em Gran Torino e em A Million dollar Baby... só que, como aqui, o "duro" acaba sempre por ceder ao seu coração.

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  4. Um coração empedernido encerra sempre mais sentimentos e compaixão, que um glicodoce!
    Só que também é, muito mais dificil de despertar...

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