ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Philip Roth




De Philip Roth, nascido em 1933 e considerado um dos mais importantes escritores americanos vivos, acabo de ler o seu terceiro romance (O Complexo de Portnoy -1969) e já levo a meio "A Mancha Humana" (2000).
De Roth direi que além de ser prolífico (31 romances desde a sua estreia com "Adeus, Columbus" - 1959) e de ter recebido um número infindável de prémios literários, também é :

Um homem - a sua escrita tem uma visão indiscutivelmente falocrática, roçando muitas vezes o misógenismo intolerável. As personagens femininas são descritas na fronteira da anormalidade e tirando a sua mãe, figura omnipresente na sua obra e na sua cabeça, não parece morrer de amor por nenhum exemplar do género.
A sua primeira mulher, Margaret Martinson, de quem se divorciou em 1963, terá sido inspiradora da personagem da Macaca, que tanta perturbação causou a Alexander Portnoy, e da qual não se pode dizer que tenha sido propriamente bem tratada na literatura. A sua segunda mulher, a actriz inglesa Claire Bloom, sentiu-se motivada a publicar uma autobiografia (Casa das Bonecas - 1996), no ano seguinte ao seu divórcio, em que expunha o difícil carácter de Philip. Em resposta foi retratada em "Casada com um Comunista", como uma mulher que arruína o seu marido, ao publicar uma autobiografia pormenorizada do seu casamento.

Um judeu - a obsessão judaica é talvez o selo de água mais distintivo da sua obra. O enquadramento cultural, a culpa, o sentimento de rejeição social e a necessidade  da sua superação, estão omnipresentes.
No Complexo de Portnoy, os traumas sexuais são assumidos como uma herança religiosa e educacional da sua origem judaica. E embora a moral judaica seja particularmente castradora e condicionadora, a maioria das circunstâncias relatadas são comuns a outras culturas e particularmente a minorias em fase de ascensão social. A memória duma mãe que não deixa respirar, será comum a todas as culturas mediterrânicas e não só.
Ainda ontem o Público trazia um extenso artigo sobre Amy Chua, uma professora de direito de Yale, de origem chinesa, no centro de uma polémica nos Estados Unidos, por defender que a educação altamente condicionadora a que submeteu as suas filhas, está na origem do sucesso escolar e económico da sua comunidade.
Resta saber, quando chegará a sua vez de pagar em psicanálise o que pensa ter ganho na escola!

Um americano, de Newark, New Jersey - Roth fala do que sabe e por isso o roteiro das suas personagens é o do seu próprio percurso. Nascido na classe média judia de Newark, faz por lá passar quase todos os seus personagens, constituindo-se um observador atento e perspicaz da sociedade americana. Curiosamente, Portnoy, um tarado sexual que entrava em erecção até na presença duma freira, não consegue consumar uma relação quando visita Israel, a Terra Prometida.
Em "Conspiração contra a América" inspirado numa hipótese real (a apresentação do herói aeronáutico Charles Lindberg, simpatizante do nacional-socialismo, como candidato do partido republicano nas eleições de 1940, contra Roosevelt), reescreve a história do Mundo, visto por um miúdo judeu de Newark, assumindo a vitória da direita radical na América, numa altura em que na Europa decorria a segunda grande guerra ...

Nathan Zuckerman -  Se todos os livros são aparentemente sobre si próprio, ainda assim sentiu necessidade de criar um alter-ego, escritor de sucesso, que aparece em 10 dos seus livros.
Embora aparentemente o tenha morto em 1987 em Counterlife ("O avesso da vida"), reaparece em "A Mancha Humana", incontinente, após uma prostectomia, e confidente de Coleman Silk, um reitor universitário jubilado, septuagenário, que alimenta com Viagra uma relação com uma mulher de 32 anos.
Roth que se assume como um criador de falsas biografias - ele próprio sugere que a sua infância de classe média era demasiado banal para poder ser relatada - adianta que basta imaginar as pessoas normais a agirem sob pressão, para se transformar a realidade em arte.

Um génio literário - Se há 15 anos Roth aparecia na lista dos 10 mais importantes escritores americanos vivos, hoje merçê da sua pujança literária desde os anos 90, aparece no topo dessa lista.
E a leitura de Roth é efectivamente viciante.
Caracterizando com precisão as suas personagens, não dispersando a atenção do leitor por meandros desnecessários, criando a tal falsa ilusão de descrever factos, dando-lhes uma credibilidade autobiográfica, dominando a técnica da escrita com uma mestria única, Roth lê-se com deleite, mesmo quando o tema nos possa desagradar e a sua perspetiva incomodar. E essa será provavelmente a maior prova do seu génio!

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