ESTOU PERDIDO, DEVO PARAR? NÃO SE PÁRAS ESTÁS PERDIDO! Goethe

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

E CONTUDO MOVE-SE ...



O actual panorama político, social e ideológico, quer em Portugal, quer no Mundo, não é particularmente estimulante!
As ideologias como expressão de uma visão sobre o Mundo e de agregação de perspectivas sobre o funcionamento da sociedade num todo coerente, caíram aparentemente em desuso. Hoje discutem-se desgarradamente medidas, sendo normal termos o bloco de esquerda e o partido popular a reclamarem como suas, as mesmas iniciativas e intenções, disputando um eleitorado desideologizado, que se orienta numa lógica pragmática.
 Costumo há muito brincar, que não sou de direita, nem de esquerda ... estou é à frente!
Considero que há muitas áreas de decisão política em que as ideologias têm pouco a ver com as opções, nomeadamente na gestão autárquica, em que realmente do que se trata, é de encontrar as melhores soluções técnicas para desafios concretos do dia à dia.
Sou também da opinião, que independentemente das ideologias, a inteligência dos intervenientes é normalmente o mais importante...

Pese tudo o que foi dito, um esqueleto ideológico onde assentem as nossas convicções é indispensável - porque subjacente a tudo está uma ideia sobre a sociedade, que deve ser discutida, melhorada, racionalizada e porque, como se costuma dizer, isto está tudo ligado, e é fundamental que as prospostas para as diferentes áreas  - sociais, económicas, culturais - sejam compatíveis e articuladas.

Neste tempo "sem ideologias" (será essa a ideologia!) há uma coisa que continua a ter validade: quando as coisas correm mal, estoura por algum lado - ninguém suporta uma incomodidade para além do seu limiar de tolerância, durante muito tempo!

Surgem assim uns movimentos invertebrados, em Portugal e Espanha ( lá 15-M, cá 12-M ), que expressam o mal estar de um importante sector da sociedade - os mais jovens!
Convenhamos que uma sociedade, que exclui da vida activa o seu grupo mais pujante, com mais energia, no período da vida em que tem mais entusiasmo e capacidade de inovar e arriscar, a troco de prolongar no mercado de trabalho os mais velhos, mesmo contra a sua vontade, tem um problema estrutural grave para resolver.
Tal estado de coisas, resulta apenas da necessidade de resolver uma questão "contabilística" -  atrasar a idade da reforma por dificuldades no seu financiamento - mas não constitui uma solução socialmente aceitável, como concordarão os mais inteligentes de qualquer quadrante ideológico.
É uma pseudo solução, que em si constitui um novo e grande problema - cria descontentamento, nos mais novos e nos mais velhos e ao afastar os com maior potencial produtivo do trabalho, mina as bases de todo o progresso económico e social.

Os novos movimentos emergentes são o sinal socio-político mais interessante dos últimos anos - uma juventude com um nível de formação intelectual sem precedentes, sem ideologia política, com um patamar elevado de expectativas socio-económicas, anuncia que foi ultrapassado o seu limiar de aceitabilidade. Para já é só isso - um movimento da juventude burguesa que ainda não sabe como expressar orgânicamente a sua ambição, que se junta para fazer "prova de vida".
Entretêm-se nestes meetings inaugurais, como foram educados para o fazer nos jardins de infância que frequentaram - com pinturas, músicas, danças, iniciativas cívicas ... e começam a organizar uma matriz onde encaixe o seu descontentamento ...
Mas nunca mais pararão, até se resolverem os problemas mais importantes que fizeram disparar esta mola ... perceberam entretanto que existem e que não têm nada a perder ...

Aqueles que os acusaram de ser amorfos e sem iniciativa, têm agora um boa ocasião de mostrarem o seu apoio na resolução de um problema que é de todos - uma sociedade sem convicções, movida por pragmatismo e interesses, entregue a uma clique política  incompetente e com um nível de tolerãncia à corrupção e à ineficácia, intoleráveis!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Gigões e Anantes

Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais outros são um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse nem se sabia se ele cabia ou não.

Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar:
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.

MANUEL ANTÓNIO PINA
Manuel António Pina

Foi o primeiro livro que li de Manuel António Pina, em 1974!
Fiquei desde aí cliente da literatura infantil, que na altura era geralmente mais "básica"!

Habituei-me a tê-lo na mesa ao lado no Orfeu(zinho).

Como cronista desencantado (curiosamente ou não, expressa aqui uma opinião idêntica à de um meu post recente) gostei sempre de o ler!

Fico pois muito contente com o Prémio Pessoa 2011!

Fanny Owen



" O rio Douro não teve cantores. Teve-os o Mondego e o Tejo também. Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado. Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira. E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso."

Agustina Bessa-Luís escreve Fanny Owen (1979) como corolário dum trabalho de investigação para os diálogos de Francisca (1981), encomendados por Manoel de Oliveira.
É para mim desde logo agradável o entorno - a rua de Cedofeita, Vilar de Paraíso, a Foz, o Douro, descritos por alguém que conhece e ama essa geografia, que também é a minha.
O romance, assente em factos reais a que Agustina tenta ser o mais fiel possível, recorrendo mesmo a um trabalho de colagem, pondo na boca das personagens frases extraídas dos seus diários, livros ou artigos, comporta dentro de si um segundo nível, ensaístico, em que a autora comenta os sentimentos e acontecimentos, numa perspetiva psicanalítica de distanciamento e interpretação.

A história de Francisca Owen Pinto de Magalhães (1830-1854), no centro de um doentio triângulo de intriga e amor, que opõe Camilo Castlo Branco e o seu "amigo" José Augusto, termina com a morte do infortunado casal.
Agustina transporta-se e transporta-nos, com mestria, para o ambiente romântico da época, onde o amor para soar a verdadeiro tinha que ser mitificado, sendo a felicidade inconcebível sem o adorno do sofrimento.

Não tendo tido nós um Goethe ascético, angustiado, mas profundo, tivemos umas décadas mais tarde uma sua versão manhosa, interesseira e macabra, na figura de Camilo ( Agustina nas suas impressões embebidas no romance, cita profusamente Holderlin (1770-1813) contemporâneo de Schiller e Goethe, também ele declarado louco na sua época.).

Francisca morre mais de amor do que da tuberculose que seguramente tinha?
E as perturbações do humor e do comportamento não seriam também elas consequência da doença, que integra nas suas formas avançadas também uma componente psiquica e emocional bem documentadas!?
E José Augusto seria apenas um doente emocional, refém do seu pretenciosismo provinciano e literário, ou estaria dependente do consumo de opiácios (o miraculoso láudano), de uma overdose dos quais viria provavelmente a falecer, no mesmo ano de Fanny!?

Esta é uma história real, que demonstra que o universo literário de Camilo, não se afastava da sua realidade existencial - relações de amor/ódio, uma burguesia sem referências morais ou culturais sólidas, amigos insanes capazes de solicitar uma autópsia para apurar da virgindade da sua esposa, de quem guardam o coração em álcool, como relíquia macabra de uma veneração doentia!
Um grande romance!


PS: Muito oportunamente esta obra sucedeu no Clube do Livro à "Cidade e as Serras", já que a Quinta do Lodeiro de José Augusto Pinto de Magalhães (na foto), para a qual Fanny foi viver após o seu rapto e atá à sua morte, dista uma pequena caminhada da Quinta da Vila Nova, de Tormes, onde Jacinto viveu o seu romance bucólico e solar.

Como o mesmo espaço geográfico, pode albergar paisagens de alma tão diversas - os girassóis que iluminaram Jacinto na sua chegada a Tormes, deram lugar aqui a crisântemos agoirentos entre brumas de desconfiança e ciúme.


Andar de bicicleta!



Recentemente numa visita a Itália surpreendi-me com a dimensão da utilização urbana e quotidiana da bicicleta. Conhecendo o fenómeno mais para o Norte da Europa, constatei que os Italianos usam a bicicleta na sua dimensão prática de meio de transporte, de uma forma absolutamente generalizada, em todas as idades, classes sociais ou profissionais.
Fazem-no para ir trabalhar, ir às compras, de fato, de saia casaco, de sobretudo ou de jeans.

Também em Portugal a utilização da bicicleta tem tido um incremento notável!
Só que em Portugal essa utilização tem uma vertente de ócio ou desportiva, fazendo os portugueses questão de se vestir apropriadamente para o momento - pondo uma camisa de licra, um capacete, uns ténis apropriados, não vão pensarem que anda de bicicleta por não ter dinheiro para o carro.
E raramente a utilizam de forma útil, na actividade normal do dia a dia!

Estranho povo este que vive de aparências e fantasias!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Meu nome é Fernando T.S.



A minha triste sina (TS) é ter-me transformado num jarrão!

Como o meu semblante denunciava, fui seviciado, ameaçado de represálias sobre a família, pelo que aceitei comparecer ao velório, sob a forma de adereço!

O meu cabelo branco, disseram-me, fazia o mesmo papel de um bouquet de agapantos, que a situação aflitiva da família não permite comprar!
Penso que todos comprenderão que foi o sentido do dever que me levou a ceder!
Afinal, depois da conversa com o José, tenho dúvidas se o pai já estaria mesmo morto antes do Pedro abrir a porta., como em tempos cheguei a sugerir ou se só morreu depois dos telefonemas, desculpe, da abertura da porta ...
Sinto-me baralhado, apertaram-mos com muita força!
Eu não tive nada a ver com isto, carreguei a pistola, mas era para matar a mosca, foi o que me garantiram ...

BOAS NOTÍCIAS



Queria vos dizer que consegui um optimo funeral para o pai!
O preço conseguido com a funerária foi muito mais baixo do que o que andavam a dizer por aí!
Além disso terá flores ... de plástico que são mais resistentes e mais ecológicas ...

Um familiar interrompeu o discurso triunfal:
- Mas não fostes tu que o mataste? Ainda te gabas disso?
José, imperturbável, retocou o nó da gravata, recolocou a voz e com uma ar seráfico, elucidou:
- Aproveito para esclarecer, mais uma vez, que o nosso querido pai, por quem eu daria a própria vida, faleceu em virtude do Pedro ter aberto a porta no momento em que eu disparava sobre uma mosca que incomodava o falecido e que em resultado dessa irresponsabilidade, abrir uma porta sem avisar, despoletaram-se uma série de perturbações que culminaram no fatídico desfecho.

Contudo eu estou hoje aqui, para transmitir uma nota de esperança e garantir que estou disponível para assumir a condução desta família, para a qual prevejo um futuro radioso!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma vitória contra o terrorismo?



Penso que o mundo não terá ficado pior com a morte de Bin Laden!
Não partilho contudo da ideia que tenha ficado melhor!

O primarismo dos americanos permanece inalterado com o decorrer dos tempos - tal como perseguiram Che pela floresta Andina até o conseguirem assassinar, fizeram como objectivo central da sua política antiterrorista a eliminação de um (ex-)lider, jogando com o aspecto simbólico da sua execução.
O terrorismo islâmico permanecerá inalterado, eventualmente mais acicatado nos próximos tempos, pela afronta sentida no mundo árabe fundamentalista.
Os americanos conseguirão com esta manobra justificar a saída do Afganistão, com a ridícula explicação de que o objectivo da vitória sobre o terrorismo islâmico terá sido alcançado!?
Uma saída de sendeiro, a repetir o brilharete do Iraque, deixando atrás de si um rasto de destruição, desorganização social e ódio anti ocidental!

Ver os americanos nas ruas a comemorar o assassínio causou-me impressão. O impulso que os move não me pareceu muito diferente do das multidões fanáticas que saem à rua no mundo islâmico, para comemorar qualquer desgraça que vitime os ocidentais.
Ver os analistas, talvez com razão, dizer que com este trunfo, Obama ganhou novas hipóteses de reeleição, entristeceu-me, mais por ele - emparedado na lógica do populismo e da real politik, que por qualquer outra razão!
Ver o acontecimento comemorado, desde a ONU às redacções dos media, como um triunfo contra o terrorismo, é que não aceito.

Tratou-se, à luz do direito internacional vigente, de um acto de terrorismo de estado, da mesma natureza dos praticados pelos fundamentalistas islâmicos.
Se a justiça do Mundo fosse imparcial, Obama seria julgado num Tribunal Internacional por ter assumido o comando da operação - tratou-se de um raide de comandos americanos, num país estrangeiro, que não foi consultado para autorizar a invasão, procedendo-se a um assassínio de um cidadão residente, sem qualquer sentença judicial de um tribunal independente. O universo dos filmes dos agentes secretos americanos sem identidade, a pairar fora de qualquer control institucional, confirma-se que não é ficcional (veja-se Jason Bourne, interpretado por Matt Damon em Identidade Desconhecida de 2002).
Quem hesitará a exigir o julgamento (ou o assassínio "tout court"!) do presidente do Irão, se este patrocionar um raid em território americano para assassinar Obama ou o chefe da CIA?

O que me choca não é isto acontecer, que já sabia - da vida e dos filmes - que o Mundo é assim, o que me choca, é não ver ninguém, com importância institucional, indignar-se com isto!

Cinque Terre





A partir de La Spezia, na Ligúria, apanha-se um comboio regional que dá acesso a estas cinco vilas - Riomaggiore a primeira - que se podem percorrer a pé, em fantásticos trilhos sobre o Mediterrâneo.
O trajecto mais fácil, junto à água, tem cerca de 15 kms e estava fechado para manutenção, apenas se podendo percorrer o Km inicial até Manarola - Via dell`Amore, um pesadelo de turistas e grupos, apesar da beleza do entorno.
Daí para a frente e como não restavam alternativas, percorreram-se os trilhos interiores que sobem em veredas alucinantes entre oliveiras centenárias e vinhedos, desafiando as vertigens e o equilíbrio, percorrendo aldeias perdidas, dum povo que continua a cultivar em locais que se diriam impossíveis e mantendo uma paisagem viva num local deslumbrante e que é Património da Humanidade.
Aí, a frequência dos trilhos, apesar de numerosa, já era mais interessante e chegado a Corniglia depois de uns 10 Kms de subidas e descidas inesquecíveis, aquela pizza singela de molho fresco de tomate com azeite e cogumelos da região, soube-me à melhor de sempre!
O comboio que circula regularmente permite em minutos atingir a próxima terra, no caso Vernazza, onde um sol mediterrânico de Primavera pujante, apelou aos meus instintos reptilíneos, deixando-me a giboiar sobre uma laje junto ao mar.
Para se passar um dia agradável (vindo de Pisa é cerca de uma hora de comboio)  e constituindo uma alternativa ao "turismo de monumentos", As Cinque Terre, são uma boa opção. Para uns dias de caminhadas e natureza, também se devem recomendar, tanto mais que à noite com a debandada da turistada, os locais devem ganhar uma beleza suplementar.